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Ana é portadora de Síndrome de Down, mas a sua condição não a impede de ter alguma autonomia e ajudar nas tarefas de rotulagem e embalamento dos vinhos produzidos na Quinta do Monte Travesso. Sempre apoiada pelos pais, com quem vive, gosta de rezar, de escrever, de pintar, de fazer croché e de conviver com pessoas. “Sou bem disposta, brincalhona, gosto de rir e sou benfiquista”, afirma Ana Nápoles com uma boa gargalhada.
Também, “é muito teimosa”, quem o diz é a mãe, Teresa Carvalho, observação corroborada por Sidónio Clemêncio, seu professor do 1º Ciclo do Ensino Básico. “Em pequena, era, naturalmente, muito teimosa. De modo que, ao chegar à escola, batia à porta e dali não arredava pé enquanto eu não fosse abrir-lha, facultando-lhe a entrada. Entrava constantemente em conflito comigo, ameaçando-me de que não me convidaria para o seu casamento com Jesus que… (apontava) está… lá acima. Já não gosto de ti – dizia-me sempre que a contrariava”, pode ler-se no livro “Tempos Assim… Nunca Mais!” da autoria do professor que conta esta história. Ana concluiu o 9º ano com aproveitamento.
Uma vida feita de rotina
São 10h00 da manhã. O dia está bastante luminoso e Ana já passeia pelos espaços exteriores da quinta, um lugar que lhe suscita paz. Gosta de aqui estar, mas também gosta de sair.
O seu dia é igual a muitos outros e, normalmente, começa com uma reza na capela. As manhãs costumam ser passadas entre Tabuaço e Barcos. “Costumo sair todas as manhãs com o pai para ir tomar café a Barcos ou para ir buscar qualquer coisa para a mãe”, conta Ana.
A sua vida é feita de hábitos e tomar café fora é um dos que não abdica. Diz que lhe sabe melhor fora, sendo também “uma distração”, acrescenta. Nas manhãs de segunda, quarta e sexta-feira frequenta a Associação 2000 de Apoio ao Desenvolvimento em Tabuaço.
À tarde Ana dedica-se ao trabalho. Apesar das suas limitações, encontra-se inteiramente apta para desempenhar qualquer papel na rotulagem e embalamento de vinho na empresa do seu pai. “A primeira coisa que eu costumo fazer antes de começar o trabalho, ponho YouTube e ouço o terço, gosto de rezar enquanto rotulo”, frisa.
Reza enquanto trabalha e várias vezes ao dia. A quinta tem uma capela, mas Ana afirma que “em qualquer lado se pode rezar, não é só na capela”.
No final da tarde, ajuda a mãe em casa nas tarefas domésticas e também faz ginástica para se manter em forma. O dia termina com mais uma ida à capela para rezar. “Sinto-me bem. Rezo todo o dia quando posso, no trabalho, em família e à noite”, conclui Ana.
Uma Vida feita de devoção
Rezar faz parte dos seus hábitos. A sua devoção vem desde pequenina e foi a mãe quem a ensinou a rezar. Normalmente, também “fala” com Jesus e costuma pedir-lhe ajuda para que tudo corra bem na família e no trabalho. “Ele é meu confidente, ele está sempre comigo em todo o lado onde quer que eu esteja”, sublinha.
Para além de “falar” com Jesus, também “escreve” a Jesus no seu diário, dirigindo-se a Ele utilizando diferentes designações. “Um dia faltou a luz e eu fui com uma vela à biblioteca para levantar o disjuntor no quadro da eletricidade, mas peguei fogo à cortina e pedi ao Jesus, vem apagar tu o fogo que eu não sei. Nessa noite, chamei-lhe meu bombeiro”, conta Ana sorridente.
Uma vida feita numa quinta no Douro
Ana gosta de ter pessoas na sua quinta, mas não recebe hóspedes pois tal como afirma, “eu não falo inglês, eu só falo português”. No Monte Travesso há muitas atividades para os visitantes. Ana enumera algumas. “Venham ver a beleza de viver no campo, experimentar o sossego, fazer provas de vinhos, passear pela quinta e pelas vinhas, descansar”.
Os passeios na quinta na “Vaidosa”, uma carrinha com cerca de 50 anos que ostenta o brasão da quinta, bem como a prova de vinhos, são das atividades mais requisitadas. “Às vezes também costumo beber o vinho, gosto de beber o vinho da quinta, faz-me lembrar o meu irmão Bernardo”.
Atualmente, Bernardo Maria é o responsável por toda a produção de vinhos e azeite e também pela abertura das portas ao enoturismo, dando assim a conhecer a Quinta do Monte Travesso, a sua história e os seus vinhos. “Aqui é tudo ao contrário da rotina, é mais tranquilo”, remata Ana Nápoles.