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10 de novembro de 2022 é uma data que António Silva, jovem jogador natural de Penalva do Castelo não mais vai esquecer. Foi neste dia que, com apenas 19 anos, foi convocado para representar Portugal num mundial de futebol. “Sem dúvida que tem um grande significado para mim. É muito especial”, começou por dizer o jogador. António Silva diz ter sentido “orgulho acima de tudo porque não era algo que esperava”. “Estou surpreso porque sendo a primeira convocatória não estava à espera, mas estando a jogar no Benfica era algo que poderia acontecer”, reforçou.
Foi em Penalva do Castelo que António João Pereira Albuquerque Tavares Silva nasceu a 30 de outubro de 2003. Completou há poucos dias 19 anos. E foi também em Penalva do Castelo que começou a jogar futebol de 7 no escalão de Juniores E.
No Penalva do Castelo manteve-se dois anos. Seguiu depois para o Repesenses, passou pela Casa do Benfica de Viseu, esteve no Viseu United e, depois, desde os sub-17 que está no Benfica. Na equipa B dos encarnados fez apenas quatro jogos, a estreia na equipa principal do agora líder do campeonato aconteceu há 17 jogos. Muitos vêem-lhe qualidades que só noutras idades um jogador consegue demonstrar.
António Pinto, o Toni no Penalva do Castelo, foi o primeiro treinador de António Silva. O António João, como era tratado por Toni, tinha na altura sete anos. “Já mostrava maturidade, técnica, rapidez e já fazia a diferença entre os outros colegas”, começa por contar. No plano de jogo, confidencia-nos, António Silva era colocado no meio-campo, mas como “era uma pulguinha, jogava em todo o lado”. “Destacava-se no passe e na visão de jogo. Tinha uma leitura de jogo anormal para a idade. Já sabia onde a bola ia cair. Nos cruzamentos, centravam e ele estava exatamente no sítio da bola”, descreve.
Para além das qualidades enquanto futebolista, António Silva também se destacava na capacidade mental de reação ao que corria menos mal. “Quando sofria um golo ia buscar a bola, consolava a equipa, já demonstrava sobriedade”, lembra Toni. Num verdadeiro desfiar de memórias, o treinador de António Silva nos sub-10 do Penalva, lembra-se de que no fim do jogo, “comia a sandes, os pais levavam-no e da parte da tarde já estava com o irmão a jogar à bola”.
Foi sempre com uma bola na mão e sobretudo nos pés que José Laires, hoje vice-presidente da Câmara de Penalva do Castelo, à data funcionário de escritório da empresa da mãe do jogador, via António Silva. “Era muito traquina. Ao contrário das outras crianças, o único brinquedo que tinha era a bola de futebol. Nunca lhe conheci outro brinquedo a não ser a bola”, começa por dizer. Como gostava do jogo e de jogar à bola, a escola era tempo de aprender para poder ter tempo para fazer aquilo de que mais gostava.
José Laires acredita que para chegar a este patamar, António Silva beneficiou do papel “fundamental dos pais”. “Sempre deram uma educação muito boa aos filhos. Ele foi para Lisboa com 11 anos e depois não se adaptou, tinha saudade dos pais. Os pais foram fundamentais no sucesso que ele está a conseguir. O António que hoje vêem, a serenidade, a calma, tem muito a ver com a educação que teve desde sempre”, afirma. António tem um irmão, que também joga futebol nos distritais de Viseu e que é três anos mais velho.
O autarca não tem dúvidas de que no dia 10 de novembro de 2022 se viveu uma espécie de feriado na terra de António Silva. “Penalva parou quando Fernando Santos anunciou o nome”, assinala. Até porque, diz José Laires, está conquistado o quarto embaixador do concelho. “Para Penalva do Castelo tem sido um orgulho. É o primeiro atleta de Penalva a representar a seleção A de futebol. Como se compreende, não há nenhum penalvense que não esteja orgulhoso deste feito. É mais um embaixador para Penalva: tínhamos a maçã Bravo de Esmolfe, o Queijo Serra da Estrela e o Vinho do Dão. Agora temos o António Silva que simboliza bem as características deste povo: empenhado, dedicado e que consegue com trabalho e talento alcançar grandes feitos”, sustenta.
Também Toni se mostra muito orgulhoso na ida do seu António João ao Mundial do Catar. No entanto, o treinador vai mais longe e diz não ter dúvidas de que esta chamada é muito importante para o futuro da seleção portuguesa. “Vejo isto como um passo para todos os outros miúdos que estão na calha poderem sonhar. Com esta convocatória do António João, perdão António Silva, António João era para mim (risos), mostra-se que a formação em Portugal é muito boa”, explica.
Recordando que António Silva entrou de rompante na equipa principal do Benfica após lesões e castigos daqueles que poderiam ser primeiras escolhas, Toni entende que foram dois jogos que poderiam ter resultado no fim da carreira do jovem jogador se tudo tivesse corrido mal. “Hoje estamos a festejar e é graças a ele”, vinca. “Não creio que ficará muito tempo em Portugal. Nem o Benfica, nem qualquer clube português tem capacidade financeira para aguentar. O António é fora de normal. É uma mistura de defesa, médio e ponta de lança. O Schmidt viu muito bem o que tinha nas pernas e na cabeça”, descreve.
Convidado a encontrar um jogador parecido às características do seu antigo atleta, Toni não tem dúvidas na escolha: Ricardo Carvalho. “Tem classe, sobriedade, serenidade, comando, liderança… O António tem dez jogos para a Liga, seis para a Liga dos Campeões e tem um amarelo que viu no primeiro jogo com o Boavista. É um central de 18 anos, não tinha calo na Liga. Os números falam por ele”, detalha.
De Penalva do Castelo, António Silva seguiu para Repeses onde representou o Repesenses. Alexandre Brás treinou-o na época 2012/2013. “Fazia parte de um conjunto de bons jogadores. Era muito maduro para a idade que tinha”, avança.
No campo, ressalta o técnico, “era muito forte na primeira fase de construção e tinha capacidade de progressão com bola, atacava o espaço e tomava a decisão”. Agilidade e rapidez são características que lhe reconhece. Revelando orgulho em tudo o que António Silva está a viver, Alexandre Brás entende que “é de ressalvar a forma como ele em cinco ou seis anos sai do interior e consegue o que consegue hoje”.
Fora dos relvados, o treinador lembra um António Silva “divertido e bastante extrovertido”. “Não era um miúdo envergonhado, era um miúdo de grupo, que gostava de falar com todos”, reforça. Por agora, em Penalva do Castelo festeja-se a ida de um filho da terra à maior competição de futebol. Em Penalva do Castelo, em Repeses, em Viseu e no Seixal: todos os lugares por onde António Silva passou.