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Durante séculos, a pólvora dos habitantes de Viseu esteve guardada dentro da cidade, nos mesmos locais onde se vendia. No século XVII, a sua presença nos estabelecimentos comerciais não parecia causar preocupação, mas ao longo do século XVIII, a autarquia começou a reconhecer o perigo de uma explosão e a tomar medidas para afastar esse material do centro urbano.
Grande parte do que hoje se sabe sobre este processo deve-se à investigação da historiadora Liliana Castilho, na sua tese “A cidade de Viseu nos séculos XVII e XVIII – Arquitetura e Urbanismo”. Com base em fontes camarárias e paroquiais, a historiadora descreve um tempo em que a cidade começou a ajustar os seus espaços à medida que crescia o receio de acidentes: “no século XVII, a sua armazenagem era feita nos lugares de venda, intramuros e inseridos no tecido habitacional da urbe, sem que isso parecesse suscitar preocupação”. Apenas mais tarde a pólvora seria uma verdadeira preocupação para a cidade.
A primeira medida concreta surge em 1738, quando a Câmara determina que a pólvora seja retirada das casas dos mercadores e colocada fora das muralhas, num arrabalde conhecido como Campo de São Luís – nome pelo qual era também conhecido o Rossio da Ribeira – junto ao rio Pavia. Cada comerciante podia manter apenas seis arráteis (cerca de 3 kg) no seu estabelecimento. O restante deveria ser depositado fora da cidade, numa casa ainda por definir.
Três anos depois, em 1741, a autarquia mudou de posição. Considerou inadequado o Rossio da Ribeira para esse fim e ordenou que a casa da pólvora fosse construída no Rossio do Alto da Forca – cuja localização é desconhecida. A obra, contudo, não se concretizou. Em 1745, voltou a adotar-se o plano anterior e foi decidido que a pólvora fosse guardada novamente no Rossio da Ribeira, desta vez em casas pertencentes ao concelho e usadas durante a Feira Franca.
É apenas entre 1745 e 1758 que a Câmara manda, finalmente, construir um edifício específico para este fim. Um documento das Memórias Paroquiais de 1758 refere já a sua existência: “huma casa que serve de armazém das polvoras dos homens de negocio desta cidade, a qual se fez por ordem do ilustre senado da Câmara […] por se temerem os estragos e ruínas nos tempos das trovoadas”.
Liliana Castilho sublinhou na sua tese que esta mudança refletiu uma nova forma de pensar a cidade: “quer por algum acontecimento catastrófico que tenha ocorrido entretanto (eram normais os incêndios provocados por este material), quer pela normal evolução da urbanidade, no século XVIII pretende-se já alterar essa situação”. Viseu, como outras cidades do reino, começava a organizar-se de forma mais consciente perante os riscos do crescimento urbano.
O armazém da pólvora destinava-se apenas ao material dos comerciantes. As munições do concelho eram guardadas no edifício da Câmara. No século XIX, a casa da pólvora desapareceu dos registos e da toponímia, mas crê-se que se localizava junto ao chafariz do Rossio da Ribeira.