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O Património Arquitetónico e Arqueológico Classificado de Mangualde é uma publicação que vai ser apresentada a 7 de dezembro no salão nobre da autarquia. A obra dá a conhecer os 28 monumentos classificados no concelho, bem como os restantes 10 que não obtiveram a proteção legal daquela figura jurídica. Expõe, para cada um dos monumentos, o respectivo processo de classificação, seguido de uma nota historiográfica e/ou artística e de uma resenha cronológica dos principais eventos relacionados.
“Trata-se de uma obra de extraordinário interesse para cada um dos mangualdenses, pois permite um contacto íntimo e ao pormenor com cada um dos bens ali convocados, como elemento da memória colectiva, da herança cultural de cada um e da comunidade mangualdense no seu todo”, refere o responsável pelo Trabalho, António Tavares, que é arqueólogo na Câmara Municipal de Mangualde .
Esta obra é já a nona que publica sobre a temática do património, da arqueologia e da história.
Estes serão, de certeza, alguns dos monumentos que constam deste trabalho de recolha e classificação.
Casa da Orca – Dólmen de Cunha Baixa
Há cerca de 6000 anos deambulavam e viviam nestas áreas pequenas comunidades que se abrigavam em estruturas feitas à base de materiais vegetais e em abrigos naturais. Dedicavam-se à pastorícia, caça, pesca, recolha de alimentos disponíveis na natureza e ainda a uma agricultura rudimentar.
Os seus utensílios eram de madeira (arco e flechas), osso e pedra (mós manuárias para obtenção de farinha, machados, enxós, micrólitos, para a construção de facas, pontas de seta) e recipientes em cerâmica, bem como objectos de adorno (contas de colar).
A crença na vida para além da morte motivou a construção de grandes sepulturas em pedra que ao carácter funerário aliava o religioso. Nestes sepulcros megalíticos – os dólmens ou antas – eram depostos os corpos, ou os restos das ossadas, de um reduzido número de pessoas, certamente as elites de chefia dessas comunidades.
O Dólmen de Cunha Baixa foi construído no III milénio a. C. e, encostado ao Rio Castelo, marca vincadamente a planície e a paisagem envolvente. Integraria a malha megalítica da região: Orca dos Padrões, Orca dos Braçais, Orca de Alcafache, Anta da Senhora do Castelo, Orca dos Amiais, Orca da Carvalhinha, Orca da Fonte do Alcaide e Orca dos Palheiros.
O monumento tem câmara coberta por uma grande laje, à qual se acede por corredor longo, também coberto por lajes dispostas na horizontal. A entrada era fechada por uma pedra que funcionava como porta, arredada aquando de novas deposições. Na laje de cabeceira da câmara existiram pinturas a vermelho, bem como gravuras em alguns esteios do corredor.
O dólmen era coberto por um enorme monte de terra e pedras (mamoa), entretanto destruído por ação do homem e/ou da erosão.
Restaurada em 1987, o espólio exumado nas várias acções de estudo encontra-se repartido pelo Museu Nacional de Arqueologia e Museu Municipal de Arganil. O Dólmen de Cunha Baixa é Monumento Nacional desde 16 de Junho de 1910.
Ermida de Nossa Senhora de Cervães
A vetusta ermida de Nossa Senhora de Cervães, situada a cerca de 1 km de Santiago de Cassurrães, é dedica ao culto mariano. Diz a lenda que a virgem terá aparecido noutro local, mas que mais tarde foi ali que quis ficar. Data de 1660 a edificação da primeira capela em sua honra, da qual já não há vestígios visíveis.
A actual ermida foi reconstruída em finais do século XVIII, inserida num adro delimitado por cerca granítica. Subindo até a fachada principal, o escadório exibe dois lances de degraus em granito, ladeados por muretes do mesmo material, bem ao gosto barroco das igrejas de peregrinação. A fachada evidencia as notas particulares do estilo barroco, e o portal é encimado por nicho com a imagem de Nª Senhora, atribuída ao século XV-XVI. Do lado da epístola ergue-se a torre sineira e, no lado oposto, com acesso directo ao coro, uma galeria alpendrada.
No seu interior, pode observar-se o retábulo dourado da capela-mor, bem como o revestimento do arco triunfal que terão sido talhados entre 1690 e 1730. O tecto da nave exibe belíssimos caixotões pintados, 49 ao todo.
Merecido destaque se dá, pela beleza do trabalho artístico, à imagem de Nª Senhora de Cervães, estofada, de calcário branco, oriunda das oficinas de Coimbra, e que data do século XV, e que se resguarda no camarim do retábulo do altar-mor. As imagens de Santa Apolónia e de Santa Bárbara, do século XVII, que a ladeiam, completam o conjunto.
Atrás da ermida ergue-se a capela do Senhor do Bonfim, da Senhora da Piedade e do Calvário.
O conjunto arquitectónico está classificado como Monumento de Interesse Público, pelo Decreto nº 5/2002, de 19 de Fevereiro.
Castro do Bom Sucesso
Localiza-se no Monte da Senhora do Bom Sucesso, a cerca de 765 metros de altitude, na vila de Chãs de Tavares.
Desde há muito que são conhecidos vestígios arqueológicos neste monte. Dado ao conhecimento científico por Leite de Vasconcellos, em 1917, os vestígios dão aquele monte como um castro ocupado na Idade do Bronze e com continuação pela Idade do Ferro e no Período Romano.
Actualmente já não são visíveis as estruturas habitacionais e defensivas. Ao topo do antigo povoado pode ainda aceder-se pelo troço de via lajeado de fundação romana. De arquitectura simples, mas de significado simbólico elevado e de grande devoção para a comunidade, ali se ergue, pelo menos desde o século XVIII, a ermida em honra de Nossa Senhora do Bom Sucesso.
O Monte está classificado como Monumento Nacional, desde 31 de Dezembro de 1997.
Ruínas Romanas da Raposeira
Vencida a resistência lusitana, as tropas e os colonos romanos avançaram por todo o território da Península Ibérica e por aqui permaneceram durante vários séculos, deixando as suas marcas civilizacionais bem gravadas.
Pelo território que hoje é o concelho de Mangualde tem-se encontrado significativos vestígios desta ocupação secular. Disseminados pelas zonas baixas e de meia-encosta, os luso-romanos habitaram a cerca de meia centena de estruturas de tipo habitacional hoje identificadas.
No sopé do monte da Senhora do Castelo, antigo castro fortificado da Idade do Ferro, as estruturas arqueológicas que estão a descoberto constituem uma estalagem, aquilo que os romanos denominavam por mansio. Dava guarida e acolhimento aos transeuntes que percorriam o império e ali descasavam usufruindo de um relaxante banho nas suas termas privadas.
Escavada em finas do século XIX, aterradas e reescavadas em finais do século XX, o sitio arqueológico mostra ter uma ocupação que se estendeu do século I ao século IV. Inicialmente tida como vila – casa senhorial agrícola de grande dimensão – hoje pensa-se que é uma mansio, devido à interpretação das estruturas arquitectónicas e pelo cruzamento, nas suas imediações, de duas importantes vias imperiais, uma que, galgando a Estrela ligava Mérida (capital romana da Província da Lusitânia) a Bracara Augusta e outra que ligava Bobadela (no actual concelho de Oliveira do Hospital) a Viseu (Vissaium).
Alvo de intervenção de conservação e restauro, a Estalagem Romana da Raposeira é classificada como Sítio Arqueológico de Interesse Público, desde 24 de Julho de 2014.
Fonte: Município de Mangualde