Nesta reportagem mergulhamos em algumas das recordações dessa conquista, revivendo as emoções e os desafios enfrentados por dois talentosos jogadores viseenses que fizeram parte daquele jovem plantel das quinas.
João Coimbra foi titular na finalíssima que deixou o troféu de Campeão Europeu em Portugal. No Estádio do Fontelo, em Viseu, a vitória por 2-1 frente à Espanha na final fez os cerca de 15 000 espetadores vibrarem de emoção por esta conquista em casa, memória que o ex-jogador com passagens por Benfica e Académico de Viseu guarda bem.
“Lembro-me completamente da festa e de um estádio cheio. Senti-me em casa. Recordo-me de levantarmos o troféu e cantarmos o hino para todos os presentes no estádio e na televisão. Foram momentos marcantes nas nossas vidas. Acima de tudo foi um sentimento de muita alegria por dar-mos o título ao nosso país dentro de casa”, contou o antigo camisola 17.
Para João Coimbra, A vitória à Inglaterra nas meias-finais foi o jogo mais marcante. “Quase que festejámos mais essa vitória do que o próprio título. Marcámos o golo do empate perto do fim e depois ganhámos nos penalties. O facto de ganharmos esse jogo levou-nos depois ao mundial da Finlândia e deu-nos muito mais confiança para depois jogarmos a final frente à Espanha”, comentou.
Outro menino dos meninos de ouro de Viseu que esteve presente na conquista de 2003 foi Vítor Vinha. Ao Jornal do Centro, o atual treinador-adjunto do Rio Ave recorda com saudade todo o ambiente em volta daquele Campeonato da Europa.
“Toda a parte de poder estar numa competição deste calibre com a Seleção e grandes jogadores foi memorável. Obviamente quando ganhamos na final à Espanha e levantámos a Taça é um momento que fica para sempre [na memória]. Ainda hoje, passado 20 anos, estamos a recordar esse momento e a ser lembrados por isso”, admitiu o ex-atleta com a camisola 13.
O antigo jogador de históricos como a Académica, Gil Vicente e Olhanense destaca o ambiente unido naquela que foi a luta pelo título da competição. “A forma como encarámos a competição foi especial. Ao mesmo tempo estávamos no estágio de forma divertida e no minuto seguinte, quando era para treinar ou jogar, ficávamos completamente concentrados. Disfrutámos muito da competição e daquele ambiente. Jogávamos para ganhar e sabemos que se não vencêssemos éramos eliminados… foi uma pressão boa. Com 16 anos ter a possibilidade de ter vivido isto tudo por dentro e fazer parte deste grupo de campeões é fantástico”, declarou Vítor Vinha.
O impacto da vitória em toda uma nação
João Coimbra destacou a visibilidade adquirida com a conquista do Europeu. “A partir desta conquista todos nós [jogadores] passámos a ser mais vistos. Ainda não havia a visibilidade toda que há atualmente de televisões e redes sociais. Com essa visibilidade aumentou também a responsabilidade. Sinto acima de tudo que nos deu maturidade para no futuro conseguirmos entrar com mais facilidade no futebol profissional”. “Começaram a dar mais valor ao futebol jovem. Desses 18 que ganharam o título, só quatro não chegaram à primeira liga. Foi dado um sinal ao futebol profissional que Portugal sempre teve jovens de muito valor”, contou o atual treinador-adjunto da Seleção olímpica do Catar.
Décadas passaram. Como está a formação atualmente?
Já vinte anos passaram desde a conquista do Campeonato Europeu e Vítor Vinha não tem dúvidas nas diferenças entre o futebol de formação antigo e o atual. “A globalização das redes sociais pressiona os mais jovens. Tudo lá acontece mais rápido, tanto críticas como elogios. Atualmente vemos jogadores com 16 anos a serem comprados por valores astronómicos. Isto tudo veio trazer uma alteração na forma como os jovens crescem e nos valores atuais”, comentou.
João Coimbra também enumerou algumas diferenças entre a sua geração de futebolistas e a atual, mas considera que hoje em dia os jovens têm mais ferramentas para serem profissionais no futuro. “As condições são totalmente diferentes. Eu formei-me no Benfica na altura da construção do novo estádio e demolição do antigo. Nem sempre tínhamos campos para treinar, ou treinávamos em pelados sintéticos, sem muita qualidade. Agora o que não falta são campos para os miúdos treinarem. Aos 10 anos já jogam partidas televisionadas. Com isto o jovem chega mais preparado ao futebol profissional”, declarou.
A consagração do título em casa
Se conquistar um título em Portugal já é gratificante, vencer o Campeonato Europeu no local onde se nasce ainda é mais, contou Vítor Vinha. “Levantar o troféu no Fontelo foi marcante porque nasci em Viseu. Os meus pais e a minha família são de Arcozelo das Maias, em Oliveira de Frades. Dei os primeiros passos no Grupo Desportivo de Oliveira de Frades e lembro-me de pessoas fantásticas com quem tenho contacto atualmente, que sempre fizeram parte do meu percurso. Ter sido em Viseu parece que ainda tornou mais bonita a conquista”, afirmou orgulhoso.
Quem partilha do mesmo sentimento de orgulho é João Coimbra, que adjetiva como especial a conquista em Terras de Viriato. “Vencer em Viseu foi muito especial. Tive a oportunidade de ter muitos familiares no estádio a torcer e a sofrer por nós. Nasci em Santa Comba Dão, mas sempre vivi na Margem Sul de Lisboa. Sempre que posso vou à minha terra e naquele jogo senti-me verdadeiramente em casa e foi uma alegria enorme ter conquistado o troféu na minha casa”, concluiu.
Vinte anos se passaram desde que a Seleção portuguesa de futebol Sub-17 escreveu o seu nome na história, conquistando o Campeonato Europeu de 2003 em Viseu. Neste aniversário especial, relembrámos com orgulho e emoção momentos de glória que ecoam até os dias de hoje.
Essa conquista não foi apenas um triunfo para o futebol português, mas também uma afirmação do talento e da determinação dos jovens atletas viseenses que fizeram parte desse plantel, que anos mais tarde foi apelidada como mais uma das gerações de ouro do futebol português. Eles tornaram-se símbolos de inspiração para uma cidade apaixonada pelo futebol e para todos os jovens sonhadores que um dia sonham levantar um troféu como João Coimbra e Vítor Vinha fizeram em 2003.
Hoje, vinte anos depois, passado e presente unem-se já que uma nova geração de futebolistas renova o sonho de voltar a levantar a Taça de campeões de sub-17. A competição arranca esta quarta-feira na Hungria, com a seleção das Quinas a defrontar a Alemanha.
A região de Viseu esteve representada com o atleta Tiago Freitas, natural de Castro Daire. O médio do Benfica foi convocado para o estágio, mas acabou por não integrar o lote dos 20 convocados para a fase final da prova.* Bianca Leão, estagiária ESEV (IPV)