Em tempos passados, não era o branco que marcava os casamentos, era…
A taróloga Micaela Souto Moura traz as previsões do Tarot, na semana…
Neste Dia da Mãe, o Jornal do Centro entrou em ação com…
Ricardo Costa é empresário e autor do livro “A Felicidade é Lucrativa”. Esta quinta-feira, realiza-se na Aula Magna do Instituto Politécnico de Viseu a conferência com o mesmo nome, que aborda o modo “como a liderança e o bem-estar potenciam o sucesso das organizações”.
Promovida pela Maria Alice Business Solutions, em parceria com a Academia da Felicidade, AIRV, IPV e a Santa Casa da Misericórdia de Viseu (SCMV), a iniciativa pretende sensibilizar líderes e gestores para a importância de criar ambientes de trabalho onde o bem-estar é considerado uma verdadeira estratégia empresarial.
Ao Jornal do Centro, Ricardo Costa falou um pouco sobre o tema central da conferência, o bem-estar no trabalho:
Começava por fazer aqui uma pergunta em relação ao tema que vai ser debatido nesta conferência. Fala muito na questão do bem-estar. Como o bem-estar está relacionado com o próprio funcionamento das empresas e de colocar as empresas num outro patamar. Eu perguntava qual é o seu segredo para o bem-estar das empresas, dos trabalhadores?
Vamos começar pela parte mais importante, que é o segredo está nas pessoas. Portanto, não há empresas extraordinárias sem pessoas extraordinárias. Partindo desta base, que eu acho que acaba por ser o mais consensual possível, nós depois temos que perceber o que é que nós temos que fazer pelas pessoas para que elas consigam dar o seu máximo no tempo em que estão a trabalhar. E para que depois a outra dimensão, que por muito que nós digamos que desligamos o trabalho e entramos na vida pessoal, isso é difícil.
Portanto, as várias dimensões acabam por se sobrepor, a profissional, a pessoal e a familiar. O que é que nós, enquanto empresa, podemos fazer por essas mesmas pessoas para que essa dimensão esteja em equilíbrio e que elas possam sentir-se bem enquanto estão a trabalhar? Até porque há cada vez mais estudos que relacionam satisfação e motivação com produtividade.
Antigamente isso era muito empírico, mas hoje nós já temos vários estudos. Um deles diz que pessoas mais satisfeitas são até 12% mais produtivas e pessoas menos satisfeitas são até 30% menos produtivas. Portanto, temos aqui um gap de produtividade.
E esta introdução é mesmo para nós percebermos que mais do que ser moda, mais do que ser fancy, mais do que ser para dar uns likes nas redes sociais ou para ter umas entrevistas ou ir ao Goucha ou à Cristina Ferreira, falar sobre felicidade e bem-estar porque parece que só se fala nisto que é moda, é cada vez mais uma prática de gestão que conduz a melhores resultados. Tem interferência na questão do turnover das organizações, na votação, tem interferência ao nível do absentismo, tem interferência ao nível da produtividade via satisfação, como já disse há pouco, tem interferência ao nível da reputação das marcas e das empresas, que depois isso implica e impacta positivamente a parte da atividade comercial das organizações. Portanto, é um conjunto de indicadores que nós já podemos medir que depois têm impacto direto no resultado das organizações, além da missão que existe das empresas em relação às pessoas.
Não nos podemos esquecer que as pessoas passam a maior parte do tempo que estão acordadas em contexto de empresa ou de organização. Se esse tempo todo que é tanto da sua vida for passada em contexto de toxicidade, infelicidade, pressão extrema, toda a sua vida vai ser impactada por isso. E, portanto, temos aqui estas duas dimensões também deste aspecto do bem-estar, a parte de missão e a parte dos resultados. Em conjunto, nós conseguimos, de facto, contribuir positivamente para termos empresas mais produtivas e uma sociedade melhor.
Apercebi-me que falou na questão de não ser moda, porque parece que hoje fala-se muito dessa questão. As empresas têm hoje melhor ou pior dinâmica dos seus trabalhadores, dos seus espaços, em comparação com 10, 20 anos atrás. Repara que houve uma melhoria?
Houve, por vários motivos. Por um lado, no aumento de qualificação das nossas pessoas, mas particularmente das lideranças e dos empresários. Apesar de aqui ainda termos um caminho a percorrer, Portugal é o pior país da OCDE no gap de formação entre trabalhadores e empresários. Nós temos trabalhadores mais qualificados do que empresários.
Portanto, ainda há aqui um caminho a percorrer. Mas é verdade que houve um aumento da qualificação. Mas, acima de tudo, o que há é um mercado a adaptar-se por via também da qualificação desta nova geração. E nós temos aqui dados preocupantes. Eu vou aqui referir dois deles. Cerca de 40% dos jovens que acabam as licenciaturas estão a imigrar.
No outro dia foi feito um inquérito na Universidade do Porto, onde 75% dos estudantes disseram que mal acabem o curso querem trabalhar fora de Portugal. E, portanto, isto é trágico para as nossas organizações. Primeiro, porque são os nossos impostos que estão a pagar esta formação de alta qualidade.
Porque, verdade seja dita, as nossas instituições de ensino, e aqui mais concretamente de ensino superior, rivalizam com qualquer país do mundo, pela qualidade das suas formações. São os nossos impostos que estão a pagar esta formação. E, portanto, ver depois todo este conhecimento a ser aplicado noutros países é muito mau para o nosso país.
E, portanto, cabe às empresas aumentar a sua atratividade para nós conseguirmos fazer com que estes jovens se sintam atraídos pelas nossas organizações e, portanto, isto acaba por ser um desafio. Mas para responder diretamente à pergunta, se nós queremos atrair os melhores, temos que tratar melhor as pessoas que temos connosco.
Não se fala em retenção de talento, na minha opinião, deve-se falar em atração. Nós devemos atrair quem queremos contratar e continuar a atrair quem já está connosco. E, portanto, tendo isto bem presente, vemos cada vez mais empresas, mais organizações, a adotar práticas de bem-estar.
Não é necessário termos o Departamento da Felicidade, como, por exemplo, nós temos, e outras empresas têm. O que é mais importante é a cultura organizacional que esteja assente na valorização e no reconhecimento das pessoas como o ativo mais importante das organizações.
Falou também da questão da qualificação. Como é que esta tecnologia, este avançar da tecnologia, tão repentino, também pode ajudar ou não aqui a que os locais de trabalho também sejam mais eficazes?
É interessante falarmos nisso, porque é um dos temas do momento. Há quem diga que estamos perante uma revolução industrial ligada à inteligência artificial. Eu olho para isso de uma forma muito positiva, como eu acho que todas as revoluções industriais tiveram impactos positivos na nossa sociedade. Nós temos neste momento uma questão que é várias transições a decorrer ao mesmo tempo.
Geopolíticas, com todos estes focos de tensão que nós temos a decorrer, questões demográficas, que cria aqui vários desafios. Países como Portugal, em que nasceram menos bebás do que deviam nos últimos 20 anos pelo que nós temos que atrair pessoas de outras geografias e a sua integração nas nossas sociedades, nas nossas comunidades, é um desafio.
Depois temos a questão da sustentabilidade, a transição energética e depois temos o desenvolvimento tecnológico, onde surge à cabeça a computação quântica, a biotecnologia e a inteligência artificial. Todos os estudos apontam na mesma direção. Entre 25% a 40% das atuais funções vão deixar de ser feitas por humanos e vão passar a ser feitas por inteligência artificial ou por automatismos em 5 a 10 anos. Isto é um problema? Eu acho que não. Acho que é uma oportunidade. Eu acho que vai fazer com que os humanos, as pessoas, possam fazer funções, por um lado mais produtivas e por outro lado mais prazerosas.
O que é que é fundamental aqui? Requalificação, formação e capacitação. Ninguém gosta de estar 8 horas por dia a bater teclas numa folha de Excel. Portanto, vamos deixar isso para a máquina, para o automatismo, para a inteligência artificial.
E vamos colocar os humanos a potenciar toda a sua inteligência, a inteligência humana, permitindo-nos fazer funções que agreguem mais valor para as organizações e, por outro lado, que deem mais prazer à pessoa, que puxe mais pelo intelectual da pessoa, porque isso não é substituído pela inteligência artificial. Portanto, há aqui uma oportunidade. Claro que quem se recusar a requalificar, quem olhar para a formação como um custo, uma perda de tempo e não como um investimento, vai ter, de facto, muitas dificuldades, porque, de facto, eu não sei se são 25% ou 40%, mas uma grande porcentagem das atuais funções vão ser feitas pela inteligência artificial. Mas eu considero isso uma grande oportunidade.
Fala-se muito hoje em dia, e já há alguns ensaios nesse sentido, na questão da semana de 4 dias. Acha que é um caminho a seguir?
Pedem-me muitas vezes para comentar esse estudo que foi feito da semana de 4 dias, pelo Ministério do Trabalho. Eu considero que carece de alguma validade, porque a amostra é muito reduzida. Estamos a falar de 30 e poucas empresas que participaram no estudo.
São cerca de 1.000 trabalhadores.
Todas elas de micro e pequena dimensão. E, portanto, carece aqui, esta amostra de alguma dimensão, para nós podermos replicar este estudo no que é o nosso tecido empresarial. No entanto, numa coisa, eu estou certo.
Eu acho que nós vamos todos trabalhar menos no futuro, e vamos também ter que todos viver com menos no futuro. Até porque estamos a consumir recursos que não se vão regenerar. Nesta semana, nós tivemos a notícia que já consumimos todos os recursos até ao final do ano.
Ainda estamos em maio. E o que é que isto vai levar? Vai levar, de facto, a que exista isto associado ao que estamos a falar de equilíbrio de vida pessoal, profissional e familiar, que é cada vez mais valorizado, principalmente pelas novas gerações, vai fazer com que as empresas tendencialmente encurtem a carga horária semanal. São, portanto, aqui vários desafios.
E o principal é que nem todos os setores de atividade vão conseguir fazer isto à mesma velocidade. Se, por exemplo, nos setores da tecnologia de informação, nas empresas de desenvolvimento tecnológico, já há várias que reduziram nos últimos anos a carga horária semanal ou para 38 horas, ou para 36, ou até algumas para 32, e dizem que não sentiram queda de produtividade com isso, pelo contrário, o que tiveram na satisfação, na motivação, compensou as horas trabalhadas, há muitos setores, hotelaria e restauração, indústria de chão de fábrica, construção civil, saúde, onde isso não vai poder ser feito na mesma velocidade. E, portanto, vai criar aqui desigualdades e desafios para as organizações de determinados setores conseguirem ser atrativas, basicamente o que aconteceu com a hotelaria e restauração na pandemia.
Houve muita gente que teve que deixar de trabalhar, porque esse setor paralisou, ou uma grande parte dele, e depois perceberam que havia outros setores onde não eram obrigados a trabalhar ao fim de semana, a noite, e por isso é que a hotelaria e restauração teve muita dificuldade em atrair talentos no pós-pandemia, e está a ser suplantado com pessoas que vêm de fora do nosso país. Por exemplo, em Braga, eu não quero arriscar, mas 70% dos trabalhadores da hotelaria e restauração são estrangeiros neste momento. E, portanto, vai criar desafios nestes setores, porque, eu já não me lembro de uma entrevista de emprego nos últimos anos, entre jovens de 22 a 30 anos, onde este tema não seja o principal.
A flexibilidade, o trabalho híbrido, o equilíbrio da vida pessoas e familiar, é um desafio que vamos ter que lidar com ele. No entanto, acredito que, e volto a dizer, que vamos todos, tendencialmente, trabalhar menos no futuro, mas também temos que estar preparados que vamos ter que viver com menos no futuro.
Se tivesse alguém na dúvida entre mim ou não a esta conferência, o que é que diria, em poucas frases, para convencer essa pessoa?
Eu acho que todos queremos ser felizes.
A verdade é que todos somos felizes de maneira diferente. E o que eu acho que nós vamos abordar nesta conferência são diversas formas onde o que está em causa é o bem-estar, se nós conseguirmos o bem-estar, se juntarmos pessoas à nossa volta que nos impactem positivamente e se juntarmos um ambiente de trabalho que não nos julgue, onde impere a liberdade, a simplicidade, a comunicação transparente, conseguimos de facto atingir este estado de felicidade. E o que nós vamos falar nesta conferência são diversas abordagens, muito práticas.
Eu digo muitas vezes, eu não sou, com todo respeito, não sou coach, não sou psicólogo, eu falo daquilo que pratico, sou empresário e, portanto, acho que vamos ter aqui nesta conferência abordagens muito práticas, muito concretas, muito pragmáticas de como mudar este paradigma do mercado de trabalho, onde cada vez mais são as pessoas que escolhem as organizações onde querem trabalhar ao contrário que existia antigamente onde eram as empresas que escolhiam as pessoas. E, portanto, vamos dar aqui dicas de práticas de gestão que, por um lado, promovem o bem-estar e, por outro lado, aumentam a lucratividade e não deve ser taboo falar do lucro. Neste caso aumentam o lucro e a produtividade das empresas.