É o empresário e o estratega da Meivcore, empresa que está no top cinco nacional no setor da manutenção industrial. José Gonçalves é conhecido pela sua forte capacidade de liderança e de tomada firme de decisões aliadas a um experiente conhecimento e visão do sector e do negócio. Administra as várias estratégias corporativas e tem a cargo a tomada de decisões de investimento e de estratégia empresarial.
Considera-se resiliente, pragmático e curioso… Valoriza o resultado e guia a empresa na conquista da liderança de mercadoDe empresa gazela ao top cinco das melhores empresas nacionais no setor da manutenção industrial. Qual o segredo para esta conquista?
O segredo está nas pessoas. É um segredo democratizado. Elas são parte integrante de qualquer atividade e, essenciais, nesta que é uma atividade de serviços na área da manutenção. As pessoas são o pilar da atividade e da empresa.
Manutenção industrial envolve que setores? Como é este business to business?
Estamos a falar de várias áreas porque a Meivcore é multidisciplinar. Vai desde a mecânica, à eletricidade, à automação, soldadura, transformação de aço, fabrico de estruturas, à lavagem de alta pressão. É uma área muito abrangente.
Como se congrega num só nome todas estas mais valias?
É uma construção de pessoas. São as melhores do país, que percebem muito de diversas áreas que depois a Meivcore tem a capacidade de as captar e daí a entrada em determinados mercados, por exemplo, nos trabalhos verticais. Este é um tipo de trabalho que para a generalidade das pessoas é desconhecido, mas é um trabalho complexo. É preciso uma pessoa que seja alpinista e altamente técnica na área da soldadura ou mecânica, por exemplo.
Nós fazemos uma grande aposta na área da segurança e apostamos também muito na qualidade. Todos os nossos trabalhos, desde o mais pequenino ao maior projeto, têm um dossier do cliente. É a nossa garantia técnica que o cliente tem e daí também a grande fidelização que temos.
Como começou a Meivcore e onde está hoje presente?
Temos os serviços centrais em Viseu. Passamos a ter a parte técnica em Oliveira de Frades e estamos presentes a nível nacional. Temos uma empresa de engenharia no sul, por exemplo. Estamos presentes em Espanha, França, Bélgica.
Que peso tem a internacionalização na empresa?
O trabalho fora tem um peso de 30 por cento. O trabalho internacional é, essencialmente, prestação de serviços de manutenção.
De que modo a qualificação de quadros contribui para o desempenho da empresa e naquilo que conseguiu alcançar?
O mercado português posso dizer que tem os melhores técnicos. A Meivcore prima pela responsabilidade social, quer que as pessoas estejam bem, as pessoas têm a máxima liberdade com a máxima responsabilidade. Tecnicamente, os portugueses são os melhores e não é por acaso que muitas empresas estrangeiras nos chamam para fazer trabalhos.
Agora, o mercado não forma muitos técnicos. Daí nós continuarmos constantemente a apostar na formação.
Qual é o problema? Falta de ligação entre ensino e empresas?
Tem a ver com a via de ensino e a via profissional. Às nossas últimas gerações foi-lhes incutido que o melhor caminho era a via do ensino, entrar numa universidade. A via profissional foi um bocadinho esquecida, talvez por alguns interesses, mas foi descurada. Há aposta nesta área, mas ainda não é suficiente. Não há uma comunicação para os pais dos nossos jovens de que tirar uma formação profissional é um grande salto qualitativo e não impede acesso ao ensino superior. Era fundamental fazer uma grande aposta na formação profissional e é uma grande força que nós portugueses podemos ter relativamente a outros países. Nós formamos técnicos muito bons, mas não os suficientes.
É difícil encontrar quadros qualificados na região? E mão de obra especializada?
Sim. Existem bastantes na região de Viseu, mas nós trabalhamos com o espectro nacional.
Por exemplo, é fácil encontrar soldadores?
Não. Mas é uma profissão que os jovens cada vez mais procuram. É uma atividade bem remunerada. Os bons são bastantes requisitados.
E investir no Interior? É fácil ou há procedimentos que deveriam ser alterados de modo ao investidor ter parceiros mais ágeis?
As instituições funcionam e os processos já são mais ágeis do que há uns anos. No entanto, investir no Interior é caro. Ou seja, corremos o risco de não ser competitivos. Estando no Interior é difícil ser competitivo na área dos serviços ou se tivermos um produto para levar para outro país é caro. As vias de acesso são pagas, as portagens são um ónus terrível. Quando temos que deslocar equipas de pessoas diariamente é pesado. Entra combustível, as estadias, os impostos das viaturas, as portagens. Ou seja, estar no Interior é bom, mas as empresas correm o risco de não serem competitivas e alguns de não singrarem.
É preciso coragem e ser resiliente?
Todos nós temos de ser persistentes naquilo que acreditamos. Temos de ser resilientes, ter alguma paciência, não deixando de ter alguma ansiedade para continuar a crescer e a fazer.
Estes custos não vão fazer com que a Meivcore se deslocalize?
Não pela qualidade e fidelidade que a empresa oferece ao cliente.
Qual a faturação da empresa?
Aproximadamente 38 milhões de euros.
Quantos trabalhadores?
Na ordem dos 300 espalhados pelo país.
Que novas apostas foram feitas e estão projetadas?
Para já, vai iniciar-se uma nova empresa – Carbosteel – para ir ao encontro das necessidades tanto internas da Meivcore como de outros clientes que é o fabrico de estruturas em metal. Estamos a fazer essa grande aposta em Oliveira de Frades. Este município tem história na área da metalomecânica e tem uma excelente zona industrial. Optamos ali pela proximidade a Viseu e a Aveiro. É uma área de 6 mil metros quadrados cobertos, para colocar toda a área técnica, um investimento na ordem dos dois milhões de euros.
E qual a importância na inovação em todo a atividade da Meivcore?
A inovação hoje passa muito pelo 4.0. para ter a informação disponível em tempo real. O business intelligence é muito importante. É oneroso construir uma empresa de serviços com esta tecnologia de informação. Nós fizemo-lo, através de uma plataforma de raiz. Investimos cerca de meio milhão de euros por ano só em tecnologia de informação. A operação é tão grande, com tantas áreas de negócio e tantas pessoas que o controlo e gestão são fundamentais. Com esta solução, conseguimos identificar todos os dados e tomar as melhores decisões.
Como se motiva uma equipa tão diferente?
A equipa é constituída por pessoas multidisciplinares. Os meus sócios, por exemplo, são os melhores na área técnica e depois é uma escadinha. Há pessoas a formarem e a motivarem a fazer esta cadeia. Motivar pessoas não é fácil, lidar é extremamente difícil, somos seres emocionais e como somos emocionais é necessário colocar emoção em tudo o que fazemos. Todos os profissionais que chegam à Meivcore estranham por ser uma estrutura bastante horizontal, mas depois adaptam-se e gostam muito.
E a comunicação e posicionamento é algo que as empresas deveriam considerar como prioritário? A Meivcore tem essa sensibilidade?
Nós temos muito a cultura de … somos envergonhados e queremos nos fechar…
Receio de dar a conhecer o sucesso?
Isso, mas todos estamos no mercado. Uma empresa afirmar-se no mercado é fundamental. Mostrar o que sabemos fazer.
Como é que a Meivcore compete com outras do género a nível internacional?
A realidade que conhecemos, por exemplo, o mercado francês é complexo porque eles têm níveis salariais mais altos. Aquilo que nos diferencia é, sem dúvida, a nossa qualidade. E quando fizermos a aposta na formação profissional em força isso vai contagiar o tecido empresarial na parte produtiva. É fundamental nos próximos sete anos o tecido empresarial português dedicar-se à produção.
Como a empresa se adaptou aos novos tempos da pandemia?
Foi difícil. Tivemos de nos reajustar ao formato de teletrabalho. Tivemos que nos movimentar, comprar meios. Hoje já fazemos uma gestão de espelho. Foi difícil, foi um choque, mas rapidamente a empresa agilizou-se. Essa é uma boa característica nossa. As pessoas arregaçam as mangas.
De um a cinco, quanto vale a responsabilidade social da empresa?
Vale cinco. Voltamos ao início da nossa conversa. Nós só estamos cá porque temos pessoas, porque são o centro de tudo o que fazemos.
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