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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Se quando atravessar a estrada ou estiver a conduzir e encontrar um grupo de pessoas a olhar para um mapa e a tentar encontrar uma rua ou avenida, não se espante. Provavelmente está ali a decorrer uma prova de orientação. A modalidade está a gerar mais curiosidade e os praticantes já deixaram de ser apenas da região de Viseu.
O distrito é procurado por apaixonados pela orientação que, vindos de todo o país ou até do estrangeiro, aqui vêm participar em competições. É Miguel Nóbrega, atual presidente do Clube de Orientação de Viseu e Sérgio Aguiar, um dos fundadores do clube, quem o confirma. “Tivemos, nos últimos meses, 12 eventos locais de diferentes moldes. Há um que organizámos pela oitava vez focado na orientação adaptada. Conseguimos cerca de 400 participantes no Centro de Apoio a Deficientes de Santo Estêvão. Orgulha-nos muito. Temos também atividades mais pensadas para férias desportivas, jogos desportivos, nas escolas. E, para além disso, fizemos a organização de uma prova que contou para o ranking mundial da modalidade logo a abrir o ano e no próximo ano está aí um novo Viseu City Race”, detalha.
Provas desportivas que levam tempo e são preparados ao detalhe. “Antes do evento é sempre preciso a organização definir o percurso, com os pontos de controlo que os atletas terão de trilhar. No dia, os atletas partem com distanciamento temporal, cada um faz a prova com os pontos de controlo marcados. Levam um chip que lhes permite controlar os pontos de controlo e também apoiam a organização a validar de forma automática se o participante passou em todos os pontos de controlo e qual o tempo que fez. E no final são gerados os resultados”, descreve Miguel Nóbrega que sucedeu a Sérgio Aguiar na liderança do Clube de Orientação de Viseu.
Clube teve cinco fundadores e três presidentes até agora
Foi Sérgio Aguiar que, com mais quatro amigos, trouxe a orientação para Viseu. “Como militar durante muitos anos tive o gosto de lidar com a orientação. E foi aí que comecei a lidar com a modalidade. Mais tarde, em Mafra, tirei o curso de orientação militar. A partir daí senti que a orientação fazia parte de mim”, recorda.
Sérgio foi o segundo presidente do Clube de Orientação de Viseu e liderou-o durante 18 anos, até 2017. “Há algo que demonstra a nossa estabilidade: só tivemos até hoje três presidentes”, vinca. O clube, que abriu atividade em 1997, começou com sede no Monte de Santa Luzia. Seguiram-se as instalações no Fontelo para se chegar à sede atual, junto ao antigo apeadeiro de Vildemoinhos, na Ecopista do Dão. “Como agora estamos perto da ecopista, volta e meia captamos alguns interessados para se inscreverem em provas de orientação”, avança Sérgio Aguiar.
Ao longo dos vários anos em que liderou o Clube de Orientação de Viseu foram feitos vários mapas da cidade, do concelho e do distrito de Viseu. “A nossa orientação começou na Serra do Crasto. É, aliás, o nosso primeiro mapa. Depois, aqui em Viseu, temos o maior mapa urbano. Desde Vildemoinhos até ao Fontelo, Hospital, quartel”, detalha. A instituição não se limita às fronteiras do concelho de Viseu. “Já passamos por vários pontos da região: desde Penedono, Sernancelhe, Aguiar da Beira, que é considerada capital da orientação, Sátão, Tondela, Penalva do Castelo, Castro Daire, Vouzela…”, enumera Sérgio Aguiar.
Clube quer chegar aos 34 atletas federados até final do ano
A procura e o interesse pela modalidade estão a aumentar no distrito de Viseu. No final da época passada, havia 24 atletas federados no Clube de Orientação de Viseu. O objetivo é atingir 34 atletas federados até ao final do ano. Há 122 sócios, 35 são ativos, com as quotas em dia. Além dos atletas federados, Miguel Nóbrega assinala que há entre 10 e 15 que aparecem nas provas em que o clube está envolvido.
No entanto, o presidente do clube, Miguel Nóbrega, entende que ainda há espaço e margem de crescimento. “A modalidade precisa de crescer. Não cativa logo, ao contrário do que acontece no futebol ou até mesmo na corrida e nos trails. Quem entra na orientação, não vai logo conseguir ser o melhor atleta. Exige uma curva de aprendizagem”, sublinha. Como diz o fundador do clube, Sérgio Aguiar, esta é uma modalidade que “é física, mas é também muito de raciocínio”. “Há que analisar, ler, interpretar o mapa”, explica. E Miguel Nóbrega complementa o camarada. “O interessante é que, entre pontos de controlo, cada atleta define o caminho que fará. Posso ir por um caminho a pensar que não me vou cansar tanto, ou posso decidir tentar ir a direito e tentar não fugir da linha do mapa. Há uma estratégia envolvida. Podem partir três atletas rumo ao mesmo ponto e irem por sítios diferentes”, afiança.
O segredo de uma maior divulgação da orientação passa pela educação, acredita Miguel Nóbrega. “É nas escolas que os mais jovens começam a aprender coisas novas e a selecionar o que querem. Daí que os clubes e a Federação podem ainda fazer mais para divulgar junto dos alunos. Sem o apoio das escolas, o crescimento da modalidade pode ser difícil. E claramente que os estabelecimentos de ensino podem ser palco de provas de orientação. Já aconteceu, aliás. Desenhamos o mapa da escola e, depois, demos alguma formação aos alunos e aos professores e as competições aconteceram em espaço escolar”, confirma Miguel Nóbrega, que lamenta que a orientação não tenha entrado de vez – e com mais força, nos currículos académicos.
Orientação não é amor à primeira vista, reconhece presidente
Desde os 16 anos que Miguel está na orientação. “Comecei nos Jogos Desportivos de Viseu. Na altura era muito comum haver prática de desporto em clubes e associações locais”, recorda. Foi há 20 anos. “Optei por causa de um grupo de amigos. Havia um deles que tinha o pai no clube. Na altura praticávamos BTT de forma lúdica”, explica. E também na orientação se confirma o dito popular: “primeiro estranha-se, depois entranha-se”. “A orientação nunca é amor à primeira vista. Exige algum esforço de adaptação. Temos de ler um mapa e correr ao mesmo tempo, conhecer zonas novas. Não é um amor imediato, mas vai ficando”, sublinha Miguel Nóbrega. Por isso, reforça, é importante que as escolas ensinem mais do que uma vez e levem os alunos, repetidamente, a entrar no ‘mundo da orientação’.
O dirigente, hoje na casa dos 30 anos, lidera o Clube de Orientação de Viseu desde 2017. “Não comecei de repente, fui vice-presidente na direção do camarada Sérgio Aguiar que, basicamente, nos ensinou tudo sobre a modalidade e como se constitui um clube. E eu desde muito novo estou ligado ao associativismo, mesmo nos tempos da universidade. A partir do momento que começamos a trabalhar e a ter uma família é sempre difícil gerir tudo. É esse o grande desafio. As coisas têm corrido bem, o clube tem evoluído”, sublinha.
Há, no entanto, vontade de fazer o clube crescer. “Queríamos ter mais atletas, mais pessoas envolvidas no clube. Até 2012 tínhamos provas muito focadas aqui na região e continuamos a ter, mas também começámos a organizar provas nacionais e internacionais. Ainda o ano passado organizámos uma prova que contou para o ranking mundial da modalidade. Para além das competições, renovámos também os equipamentos. O foco é conseguirmos mais atletas e sócios para, mais tarde, garantirmos a sustentabilidade do clube nos próximos anos”, enfatiza.