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Fragmentos de um Diário – 18 de Setembro de 1984

 Fragmentos de um Diário – 18 de Setembro de 1984 - Jornal do Centro
24.06.23
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O desamparo de novo! Anda-se com a cabeça às voltas, sem saber que fazer, para onde ir, o que escolher. É verdade que entretanto cumprimos os afazeres quotidianos como se nada nos perturbasse. Ou não será bem assim, já que a disposição de espírito é diferente, a nossa atenção mais dispersa, e temos uma consciência nítida e frustrante de todos os atos, mesmo dos mais insignificantes. Duro é existir. Fundamentalmente, desejo ser feliz. Mas decerto só o serei acompanhado. A própria solidão é fecunda e navego-lhe com ousadia as águas quando sei que de algum modo estou acompanhado.
        Desejo viver intensamente. Irritam-me os meios-tons, a vida social cinzenta, a conversinha de café. Durante os últimos tempos tenho vivido quase em ascese, retirado do mundo, enfiado nos livros. E escrevo para a Fátima, e leio e releio as suas cartas. As dela são de uma serenidade que me ultrapassa a compreensão.
Penso: não tenho ninguém, tão só uns conhecidos, mais ou menos simpáticos. Talvez seja mal agradecido, ensimesmado nas minhas mágoas. Mas as cartas da Fátima caem-me do céu como um bálsamo. Vivo para elas. Nada mais importa. Nem o sexo. Pela primeira vez que não cedo às tentações. Tornei-me um eunuco. Fujo delas. Por vezes, topo-as a vir, de falinhas mansas, insinuantes. Fujo. Literalmente fujo, com o desejo ao rubro. Quero ser digno do meu amor. Até quando resistirei? Torna-se um jogo interessante no meio deste nada. Contabilizo os dias, as semanas.

27 de Setembro de 1984

Acabei de reler o Doutor Fausto de Thomas Mann. Há uma ideia no livro que me angustia, a de que a arte na sua dimensão mais profunda e espiritual só é possível através de um pacto com o demoníaco, o mórbido, a doença, a solidão. Parece-me é que estas ideias refletem sobretudo a primeira metade do século XX, com as guerras mundiais e as ruturas éticas, políticas, estéticas e sociais. Mas a alternativa americanizada e comercial de tratar a arte como mercadoria e mero entretenimento não me convence. No meio é que está a virtude. Mas este meio exige uma virtude que não está ao alcance de qualquer um. É difícil tratar este tema. A resposta talvez esteja no génio, e não nas teorias.

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