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Joaquim Alexandre Rodrigues
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A extensa Avenida Infante D. Henrique, em Viseu, outrora cimentada pelos comerciantes locais, sofreu várias alterações ao longo dos anos, passando a ter dois sentidos de trânsito e passeios em calçada. Quase que atravessa a cidade a meio, unindo, agora, a circular ao centro da cidade.
Maria do Céu, da ‘Papelaria e Drogaria Camões’, já tem o seu estabelecimento neste local há mais de 40 anos e fez parte da construção da rua. Relembrando esses tempos, retrata o cenário de antigamente.
“Sou do tempo em que fui eu que fiz o passeio”, começa por explicar. “Colocámos cimento em tudo, desde aqui (Papelaria e Drogaria Camões) até ao cimo da rua. Fomos nós que cimentámos por nossa conta porque quando chovia era um lamaçal aqui dentro que não se podia”, explica.
Também os antigos estabelecimentos e pontos de referência foram-se alterando ao longo do tempo. A proprietária explica como funcionava o aluguer dos estabelecimentos e casas.
“Só alugavam os andares de cima para viverem… As casas (como chama aos estabelecimentos), quem queria alugar, tinham que as fazer” – a própria conta que fez o seu espaço – ”Eu tive que fazer a casa toda, cimentar, fazer as paredes, fazer o teto, estava tudo com as pedras à mostra e eu tive que fazer tudo”.
A avenida era pautada, também, por brincadeiras e, neste caso, relacionadas a um lar de freiras que ali se localizava.
“No prédio ao lado da papelaria existia uma tipografia e ao lado da tipografia era um lar de freiras”, conta.
“Quando era o intervalo, vinham todas para aqui brincar, depois de jantar até irem dormir. Nesse lar existia uma espécie de salas e dormiam lá as meninas, como dormitórios. Depois elas vinham aqui comprar as suas coisas e os pais de mês a mês pagavam as contas”.
Maria do Céu recorda, ainda, uma história engraçada que teve lugar no seu estabelecimento.
“Tive uma vez uma malandra, que veio em nome de uma amiga, que estava em meia estação (menstruada), fazer uma conta para vir buscar pensos. A rapariga veio buscar os pensos mais uma bola para poder brincar e pôs tudo em nome da outra rapariga para depois o pai dela vir pagar” , riu-se.
Neste estabelecimento o pagamento era feito à medida que os clientes recebiam os seus rendimentos, ou seja, iam pagando de acordo com as suas possibilidades.
“Tínhamos uma caixa grande cheia de talões, o trabalho do meu marido ao sábado era vir fazer as contas e saber quanto e quando é que pagavam,fazia a contabilidade toda”, começa por contextualizar.
“As pessoas naquela altura ficavam a pagar as contas quase durante um ano, conforme iam recebendo… eram vinte escudos agora, dez escudos depois…” , acrescenta .
Entre outros estabelecimentos, a Escola Secundária Alves Martins é um edifício importante da avenida e foi também sofrendo alterações, tanto a nível estrutural como na própria denominação do espaço.
A sua designação de origem era ‘Liceu Nacional de Viseu’, passando depois a ‘Liceu Nacional Central de Viseu’. Posteriormente, adotaram o nome de ‘Liceu Nacional Central de Alves Martins’. No entanto, anos mais tarde, voltou às origens, retomando o nome original. Atualmente é conhecido como a Escola Secundária Alves Martins.
Inicialmente, o estabelecimento era frequentado apenas por rapazes e estava localizado no Seminário Diocesano, sendo que só em 1897 foi matriculada a primeira aluna.
Quando se instalou definitivamente, entre 1930 e 1948, na Avenida Infante Dom Henrique já era um liceu misto.
”O liceu antigamente era só a fachada do centro, os restantes recintos e pavilhões foram construídos com o tempo”, completa Maria do Céu.
Por trás do negócio
Os negócios nesta avenida tiveram início devido a oportunidades e situações diferentes. Uns por mudanças inesperadas, outros por necessidade e tentativas de adaptação à atualidade.
“Tinha o meu marido feito uma sociedade na fábrica de refrigerantes”, começa por contar Maria do Céu sobre a origem da compra do atual estabelecimento, a ‘Papelaria e Drogaria Camões’.
Maria, juntamente com o seu marido, veio de África. Ambos, ao chegarem a Viseu, decidiram investir numa fábrica de refrigerantes. Acontece que, durante as festividades, tanto ela como o seu marido e o seu pai foram a uma romaria, na mata em Abraveses, onde acabaram por descobrir que foram burlados pelo sócio.
Com apenas alguns contos no banco, depois do incidente, decidiram vender a sua parte da sociedade a todo o custo e abriram a ‘Papelaria e Drogaria Camões’ – hoje existe há mais de 40 anos e já vendeu muitos milhares de livros escolares.
No caso da padaria ‘Pão Doce’, estabelecimento que se encontra à responsabilidade de Maria de Lurdes há 10 anos, a sua abertura teve motivos distintos do anterior.
“O negócio surgiu por estar desempregada. Eu quis ir à luta, procurar o que poderia fazer, ver oportunidades. Eis que surgiu esta e agarrei-a”, explica.
O comércio foi-se atualizando, bem como os clientes (agora com novas necessidades). Tendo em conta esse fator, alguns negócios de rua tiveram que assumir outras áreas de comércio.
“Seguimos mais o negócio das plantas porque as grandes superfícies já vendem de tudo um pouco, como é o caso dos produtos alimentares”, aponta Maria Sampaio da florista ‘O girassol’, como uma das razões para a escolha do negócio.
A figura que batizou a rua
Conhecido por ter dobrado, juntamente com os seus navegadores, o Cabo Bojador, o Infante Dom Henrique, filho de El Rei Dom João I de Portugal, partiu para a conquista de Ceuta com seu pai. E é aqui que começa a sua relação com a cidade de Viseu.
Em 1415, quando regressava da conquista de Ceuta, foi-lhe atribuído, para além de outro títulos, o ducado de Viseu, tornando-se o primeiro Duque da região.
No entanto, a relação que o duque estabelecia com a cidade era mais antiga que o seu título. O próprio já tinha muitos bens em Viseu, bem como em Lamego. Entre 1408 e 1411 foi, ainda, constituída a casa do Infante nesta cidade.
A estátua que se ergue na rotunda no fim desta avenida, foi inicialmente implantada no centro do Rossio a 18 de setembro de 1960. Por razões de estética urbanística, 27 anos mais tarde, a estátua do Duque estabeleceu-se onde hoje nos encontramos.
Também em nome do Infante, foi fundada a Tuna Académica Infantuna Cidade de Viseu a 12 de Dezembro de 1991. Foi um dos primeiros movimentos deste tipo, distinguindo-se pelo seu traje de infante, homenageando o primeiro Duque de Viseu e representando todo o ensino superior da época.