Aldeia do Fujaco: onde as cabras são mais do que as pessoas e o cabrito no forno tem o sabor de antigamente

Na encosta da Serra da Arada, no concelho de São Pedro do Sul, há uma aldeia de xisto, quase esquecida no mapa, onde a natureza resiste e o passado ainda se saboreia: chama-se Fujaco.
O protagonista deste Aldeias com História é o Sr. Luís Soares, um dos poucos habitantes que ainda vive todo o ano nesta pequena aldeia e que, há 22 anos, decidiu abrir o Restaurante Rochedo — conhecido por servir cabrito assado no forno, com o sabor de antigamente, e por manter viva a alma de um lugar onde a vida abrandou.

“O Fujaco tinha 70 pessoas. Agora somos pouco mais de 20, mas o que temos é bom: ar puro, água limpa, batata, tomate, pimenta… Tudo biológico.”
O Sr. Soares nasceu noutro tempo. Fala das desfolhadas, das noites comunitárias, da divisão do trabalho entre vizinhos, e de um costume curioso: cada dia, uma pessoa diferente tomava conta das cabras de toda a aldeia.
“As cabras eram mais do que as pessoas. Havia centenas. E vivíamos todos em comunidade.”
Hoje, a paisagem é quase a mesma, mas os sons mudaram. Onde antes se ouviam vozes, passos e crianças, agora chega o silêncio, cortado apenas pelas visitas de quem vem em busca de turismo rural ou de uma refeição preparada à moda antiga. No restaurante, tudo é preparado com produtos locais. O cabrito assado é o ex-líbris.

“O segredo está na simplicidade e nos ingredientes. Aqui é tudo da terra.”
As casas do Fujaco, construídas em xisto, foram feitas por mãos locais e mantêm-se fiéis à estética original. Algumas estão recuperadas, outras ao abandono. A maioria dos proprietários vive em cidades como Lisboa ou Porto e regressa apenas aos fins de semana ou nas férias.
“A minha filha é bancária em Viseu, o meu filho trabalha num hospital. Têm a vida deles, não dá para ficarem aqui.”
Apesar disso, o Sr. Soares não se queixa. Entre um passeio pelas ruas estreitas e uma conversa à porta do restaurante, fala com orgulho da terra, da história, do valor das coisas simples.
“O sol nasce aqui logo pela manhã. Isso não acontece lá em baixo.”

No final do episódio, já depois da visita guiada, da conversa e da nostalgia partilhada, o inevitável acontece: o cabrito chega à mesa, com cheiro a forno de lenha, e sabor a infância. A equipa prova. A câmara regista. E Fujaco, mesmo que por breves minutos, regressa à ribalta — com a voz tranquila de quem ficou (José Soares), quando quase todos partiram.

Veja aqui o episódio completo de Aldeias com História sobre o Fujaco.