A taróloga Micaela Souto Moura traz as previsões do Tarot, na semana…
Feriado à vista e ainda sem planos? Temos a sugestão perfeita! Situado…
No coração de Viseu, a porta 55 da Praça D. Duarte abre-se…
Depois de uma temporada de seis espetáculos com lotação esgotada no Brasil, o novo trabalho da companhia Cem Palcos, intitulado “A Baba do Lobo”, estreia agora em Portugal. O espetáculo será apresentado entre os dias 19 e 22 de junho, em Viseu, e passará depois por Coimbra, Vouzela, Sátão, Vila Nova de Paiva e Serra do Montemuro.
O projeto nasce de uma investigação de campo realizada em fevereiro de 2025, em sete municípios da região de Viseu — Moimenta da Beira, São Pedro do Sul, Sátão, Vila Nova de Paiva, Viseu, Vouzela e Castro Daire. Foram recolhidos testemunhos de antigos trabalhadores e familiares, com especial foco em viúvas de mineiros, algumas com mais de cem anos.
“Falámos com pessoas que viveram ou acompanharam de perto a exploração do volfrâmio durante a Segunda Guerra Mundial. Mas o nosso objetivo não é apenas contar essas histórias: é olhar para os paralelos com o presente e levantar questões sobre os impactos humanos, ambientais e políticos da mineração hoje”, afirma Graeme Pulleyn, encenador e coautor da peça.
O espetáculo é interpretado por Cristina Castro (Brasil) e Leonor Keil (Portugal), que partilham em cena a personagem Hilda — uma figura simbólica que representa as mulheres marcadas pelas consequências da mineração. A peça combina teatro e dança, com um cenário metálico e claustrofóbico que remete para o interior de uma mina. “É um espaço frio, apertado, que contrasta com a fluidez dos corpos em movimento. Queremos mostrar o conflito entre a rigidez das estruturas industriais e a força humana que resiste dentro delas”, explica Pulleyn.
Não há personagens masculinas em palco. As vozes dos homens surgem à distância: uma voz autoritária e extremista, saída de um megafone — identificada como “Adolfo”, com referências a Hitler e Salazar — e uma narração brasileira que apresenta os acontecimentos com distanciamento factual.
Em palco, o cruzamento entre o artístico e o político é assumido. “Trabalhámos com a ideia da mineração como metáfora para outras formas de exploração — económica, social, ideológica. É impossível não fazer ligações entre o que se passou em 1941, com a corrida ao volfrâmio, e o que se passa hoje com o lítio. E é impossível não ver como estas febres vêm quase sempre acompanhadas por discursos extremistas, que dividem, empobrecem e silenciam os mais frágeis”, acrescenta o encenador.
Durante a temporada no Brasil, a receção do público superou as expectativas da equipa. “Tivemos debates intensos depois de cada sessão. As pessoas reconheceram nos desastres de Mariana e Brumadinho, por exemplo, a atualidade das questões que levantamos. E isso foi muito marcante. Fizemos um espetáculo sobre a nossa terra, mas que fala diretamente a outras realidades — porque o padrão repete-se, em diferentes geografias”, sublinha Pulleyn.
Além da vertente histórica, o espetáculo trabalha a memória coletiva e a transmissão intergeracional. “É uma peça dura, mas também poética e até com momentos de alegria. É um hino à vida e à resistência. E queremos que quem venha veja não só as tragédias, mas também a força das pessoas que sobreviveram a elas”, diz ainda o criador.
“A Baba do Lobo” é assinada por Graeme Pulleyn e Marcio Meirelles (Brasil), com base em textos de Mônica Santana e Sandro William Junqueira, e inclui o Hino dos Mineiros, canções tradicionais portuguesas e brasileiras e criação musical original. A sonoplastia e direção musical ficaram a cargo de João Milet Meirelles (recente vencedor dos prémios Grammys do Brasil) e Gongori, músico da região de Viseu. O espetáculo integra ainda projeções vídeo com imagens recolhidas nas Terras do Demo, cenas no interior de antigas minas e material de arquivo.
Após cada sessão, haverá espaço para diálogo com os espetadores. No sábado, 21 de junho, está prevista uma tertúlia especial no Círculo de Criação Contemporânea de Viseu, às 16h, com presença dos criadores e de participantes da investigação de campo. “Queremos promover uma conversa equilibrada. Não se trata de ser contra a mineração — todos usamos telemóveis e computadores —, mas de entender as consequências e os desafios ambientais, sociais e éticos que enfrentamos hoje”, sublinha Graeme Pulleyn.
O espetáculo apresenta-se de 19 a 22 de junho, às 21h30, no Círculo de Criação Contemporânea de Viseu – Polo 1. Segue depois para Coimbra, no dia 26 de junho, às 19h, no Teatrão – Oficina Municipal de Teatro. A 28 de junho, às 21h30, será apresentado no Cineteatro Municipal João Ribeiro, em Vouzela. No dia seguinte, 29 de junho, às 17h00, estará em cena no Cineteatro Municipal de Sátão. A digressão continua em agosto, com apresentação a 4 de agosto, às 21h30, no Auditório Municipal Carlos Paredes, em Vila Nova de Paiva. A última data anunciada é a 15 de agosto, no Festival Altitudes, no Teatro Regional da Serra do Montemuro.