No quinto episódio do podcast Entre Portas, uma produção da Remax Dinâmica…
Rimas Sociais, um podcast que dá voz às causas sociais urgentes através…
O dia de aniversário da Auchan foi passado cheio de cor, sabor…
A Câmara de Viseu está a construir uma ciclovia na Rua Mendonça, obra essa que já está a gerar polémica. Os comerciantes da zona consideram que a pista é ilegal e queixam-se de que a autarquia não avisou previamente sobre o arranque da empreitada.
Entretanto, já foi feita e entregue à Câmara uma petição a pedir a suspensão temporária da obra com cerca de 300 assinaturas.
A ciclovia vai nascer dentro do passeio que existe na rua, encurtando o espaço disponível para os peões e esplanadas.
Ângela Costa, proprietária do restaurante Copacabana, diz não ter dúvidas de que a pista “vai estragar a rua e vai tirar mobilidade a um passeio que era enorme” e que, caso a situação não melhore, “vai dar raia”.
“Aqui passava muita gente idosa e muitas crianças a brincar e não se tem visto nada. As pessoas passam todas para o outro lado da estrada. Isto está horrível, nem tem cabimento”, afirma. Para esta empresária, que perdeu metade dos clientes, a obra vai prejudicar “completamente” o negócio que mantém.
“Desde que começaram com a ciclovia, servi apenas dois almoços fora. Deixei de ter esplanada. As pessoas já não se sentam por causa do barulho. Hoje de manhã (esta segunda-feira, 24 de maio) não se podia estar aqui. O pó é horrível. A frutaria não tem acesso para descarregar. Na sapataria, ninguém passa para ver os sapatos”, diz.
Ângela Costa admite ser “a favor de tudo o que é para rentabilizar a nossa cidade” e que esta ciclovia até poderá ser “boa para as pessoas deixarem de andar tanto de carro”, mas diz que a obra devia ter sido feita de outra maneira.
“Nós fizemos um projeto alternativo em que a ciclovia seria do outro lado do jardim, dava na mesma para estacionar e era tudo viável”, revela.
A comerciante diz ainda que ela e os outros empresários da rua entendem que esta obra é ilegal, porque, argumenta, a União Europeia determina que as ciclovias não podem destruir passeios nem podem privar os cidadãos de andarem na rua e também aqueles que estão a trabalhar.
Já Sylvie Lopes, que abriu há poucos meses a sua loja, assume ter ficado surpreendida porque “ninguém avisou e soube pelos outros comerciantes”.
“Ficámos um pouco revoltados pela situação porque isto não tem jeito nenhum e estamos a tirar uma passagem bastante importante porque esta é uma das ruas mais movimentadas da cidade”, frisa.
A lojista não acredita que a ciclovia será uma mais-valia para as lojas da zona. “Havendo espaço, acho que é pena estar-se a ocupar o nosso passeio”, lamenta.
Ainda segundo a comerciante, a petição que foi enviada à Câmara de Viseu reivindica a revisão do projeto ou até a suspensão provisória da obra “para ver se conseguimos arranjar um consenso que não prejudique nem os ciclistas nem os peões e os comerciantes”.
Já Márcio Peçanha, outro dos lojistas, mostra-se mais preocupado com os acidentes que podem vir a ter na ciclovia e acredita que a obra “poderia ter sido feita de uma maneira melhor”.
“Acredito que vão acontecer muitos acidentes entre os peões e os ciclistas porque a ciclovia nunca passaria pela calçada dos peões. Podia passar por outro canto na rua”, diz.
Além da poluição sonora, o empresário aponta para outros constrangimentos como a concentração de pessoas à porta das lojas. “É o barulho o tempo inteiro, as pessoas transitando, umas esbarrando noutras, as senhoras a caírem. É muito ruim”, critica.
“Um engenheiro da Câmara disse-me que a pista ia ser mista entre peões e ciclistas. Porém, falámos com um advogado que mora na rua e ele disse que não existe isso e pediu mesmo para ser levantada essa hipótese na Câmara. Disseram que essa hipótese não existe, existe sim uma coima caso o peão venha a atrafegar na ciclovia”, acrescenta.
Sónia Lemos, que gere uma loja de pronto-a-vestir, também discorda do modo como a ciclovia está a ser feita.
“Não sou contra a ciclovia, mas sim o sítio onde está a ser feita porque esta é uma falta de respeito perante os comerciantes e os moradores. Nem sequer houve um aviso, simplesmente chegaram aqui, puseram as coisas e mais nada. A gente fica com um curto espaço para as pessoas poderem circular. Se passar um carrinho de bebé, mais ninguém passa no passeio porque a ciclovia está a tapá-lo”, lamenta acrescentando que não vê muitos ciclistas na zona. Não vê nenhuma vantagem para a ciclovia chegar à Rua Mendonça.
Autarquia assume constrangimentos
Em resposta às queixas, o vice-presidente da Câmara de Viseu, João Paulo Gouveia, admite os constrangimentos que a criação da ciclovia urbana está a criar na Rua Mendonça.
O autarca diz que a obra não teve a intenção de criar tantos problemas a quem vive e trabalha naquela artéria. “Sinto que devo, desde logo, despreocupar os comerciantes e os habitantes porque o Município tudo tem feito para que esta obra tenha o mínimo de implicações no dia-a-dia, nomeadamente no quotidiano das próprias pessoas”, explica.
João Paulo Gouveia acredita ainda que o bom tempo previsto para esta semana vai ajudar na conclusão desta obra.
“Sempre que fazemos obra, ela causa-nos obviamente algum transtorno. Esperamos muito rapidamente ter esta obra concluída e esperamos que o bom tempo já permita a aplicação de alguns materiais para que, rapidamente, possamos causar o mínimo de transtorno”, diz.
O autarca defende ainda que a ciclovia faz parte do futuro de Viseu e representa “um instrumento de aproximação e de devolver à cidade o território que muitas vezes foi ocupado por automóveis”.
“Nós queremos que exista aqui uma sinergia e uma mais-valia futura muito grande para os moradores, os comerciantes e a sustentabilidade ambiental. As ciclovias urbanas fazem parte da convivência e até da complementaridade dos meios de transporte e locomoção das pessoas”, remata.
Para esta quarta-feira (26 de maio), está marcada uma reunião entre comerciantes, moradores e autarquia para dar conta da situação da obra na Rua Mendonça.