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Fragmentos de um Diário – 16 de Maio de 1985 (continuação II)

 Fragmentos de um Diário – 16 de Maio de 1985 (continuação II) - Jornal do Centro
26.08.23
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 Fragmentos de um Diário – 16 de Maio de 1985 (continuação II) - Jornal do Centro

Não lhe respondi. O silêncio envolveu-nos, durante alguns instantes. O silêncio, algum constrangimento, mas também o amor, uma certa dimensão do amor. Penso que ela o sentiu e que o pressentiu também em mim. Era tão estranho! Dilacerante e comovente, ao mesmo tempo. Quem quebrou o impasse daquele momento impressionante foi ela, devagar, com os beijos com que me foi percorrendo o corpo, com as lágrimas que me iam deslizando na pele. Só lhe acariciava os cabelos, sem palavras, sem uma ideia de consolação. Só tínhamos o corpo e aquela dor íntima que nos consumia. Mas ambos se conjugaram e nos redimiram do drama interiormente vivido.
Depois, ambos subimos à superfície da vida, reconciliados com a nossa presença. Estávamos vivos, e a idade ajudou-nos a superar a gravidade das emoções. Acredito que alguma felicidade se projetou nas nossas almas, adiando, pelo menos, por algum tempo, a erosão interior que nos confrangia. Propus que saíssemos para jantar. Saímos do prédio e pedi-lhe sugestões. De mãos dadas, limpos de qualquer mancha de pecado, fomos para a baixa procurar um sítio onde se comer. O tempo, apesar de ameno, empurrou-nos para o interior de um restaurante. Fizemos o pedido e conversámos. Sobre cinema, sobre livros, sobre os estudos. Perguntei-lhe, de repente, pelo colega com quem ela começara a sair, por me lembrar que no ano anterior ela se ter referido a isso. Respondeu-me que depois do que eu lhe dissera sobre o amor absoluto, acabara com as saídas e que desde então permanecera sozinha. E, acentuando a gravidade da voz, perguntou-me sobre o significado, teórico, mas também prático, daquele termo. Recolhi-me numa breve reflexão e a frase que me saiu foi dizer-lhe que era algo parecido com o que nós sentíamos um pelo outro. Olhou-me, surpreendida. Ia interrogar-me, quando acrescentei que a diferença se prendia com a perenidade do sentimento mesmo na ausência do outro, com a dor que corrói por dentro noite e dia, com a angústia da saudade, com a certeza física e afetiva da unidade com o outro. Ela tentou simplificar, e disse que então ao lado dela eu sentiria algo parecido que ao lado da outra, só que depois, na ausência, tudo se desvanece, ou quase. Significa, disse ela, que daqui a dois ou três dias, te esqueces de mim. Eu corrigi. Não se trata de esquecimento, mas que a ausência não dói, não perturba, não enferruja a alma de um veneno pegajoso. Ela respondeu que já percebera, ela sentiu isso durante meses e meses. Eu disse que senti durante os anos em que não vi a Fátima e nem sabia do paradeiro dela.

 Fragmentos de um Diário – 16 de Maio de 1985 (continuação II) - Jornal do Centro

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