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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Joaquim Alexandre Rodrigues
Coisas de comida e religião neste mês de Abril:
(i) uma deputada que era apoiante do governo de Israel passou-se para a oposição; terá ficado zangada por, durante a Páscoa, o ministério da saúde não limitar o menu dos hospitais ao pão ázimo, conforme preceitua a religião judaica, mas ir servir também pão fermentado a quem queira;
(ii) como manda o Ramadão, mal o sol se pôs, foram interrompidos dois jogos do campeonato alemão para que Moussa Niakhaté, do Mainz, e Mohamed Simakan, do Leipzig, se pudessem hidratar;
(iii) católicos a jejuar nesta sexta-feira que é santa.
Os países liberais secularizaram-se, separaram o que é de César do que é de Deus, e deixam o cumprimento das regras alimentares prescritas pelas religiões para a consciência privada de cada um. Atendendo ao histórico de “guerras-santas” do homo sapiens, esta separação dos estados e das igrejas é uma bênção.
Infelizmente, ela está longe de estar assegurada e tem havido marcha-atrás neste indicador civilizacional em vários países:
— veja-se o que se passa em Israel, onde os partidos confessionais capturaram a decisão política e os sarilhos entre os ortodoxos e os laicos são cada vez mais frequentes;
— veja-se a influência dos evangélicos nos EUA e no Brasil;
— veja-se as perseguições aos muçulmanos e cristãos na Índia;
— veja-se as teocracias do Médio Oriente;
— veja-se a nova religião Woke, criada por sacerdotes universitários anglo-saxónicos, que se tem espalhado em força em todo o Ocidente, e que está a cancelar pessoas por delito de opinião, a queimar livros, a proibir filmes, a policiar a linguagem e a dividir a sociedade entre os “justos” (os que acreditam nos seus dogmas e sabem usar as palavras permitidas) e os “deploráveis” (os outros, os que não receberam a graça daquela fé pós-moderna).
Num sub-sub capítulo de “Arriscar a Pele, Assimetrias Ocultas na Vida Quotidiana”, o escritor líbano-americano Nassim Nicholas Taleb começa por descrever um jantar grande, com diversas mesas, com um risotto vegetariano e não-vegetariano, em que um dos convivas, ultra-kosher, recebeu comida própria mas sem alarde nenhum, sem se sentir incomodado com as dietas variegadas dos vizinhos de mesa. Que o deixassem comer em paz, que comessem em paz.
Taleb diz que minorias muçulmanas (xiitas, sufitas, drusos ou alauítas) fariam o mesmo. Mas, se o vizinho de mesa fosse um sunita salafita, este exigiria que toda a mesa comesse halal, que toda a sala comesse halal, que todo o andar comesse halal, que todo o prédio comesse halal, que toda a cidade comesse halal.
Porque, como os salafitas não fazem nenhuma separação entre a igreja e o estado, entre o sagrado e o profano, tudo que para eles não seja halal é haram (literalmente, ilegal). Não é só eles comerem o que a sua religião prescreve, é obrigarem toda a gente ao mesmo.
Ora, como é evidente, é decente proporcionar refeições halal a quem as quiser, é indecente serem obrigatórias para toda a gente só porque uma minoria (ou uma maioria) intolerante o exige.
É aqui que deve avançar o célebre Paradoxo da Intolerância de Popper que nos explica que “a tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância”. A acreditar em Taleb, Karl Popper terá chegado a este paradoxo depois do seu compatriota Kurt Gödel, embora não tenha havido nenhum plágio, os dois pensadores percorreram caminhos independentes até chegarem a ele.
Pelo que se tem visto nos países liberais, a ideia de “intolerar os intolerantes” é muito citada mas pouco praticada. Ainda estamos a tempo de a aplicar aos salafitas, aos wokes, a quem quer que seja que nos queira impor as suas crenças, a sua linguagem, os seus modos de vida.
Haja coragem onde tem havido, acima de tudo, cobardia e moleza nos princípios.
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Raquel Costa, presidente da JSD Concelhia de Tarouca
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Helena Carvalho Pereira
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José Carreira