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por
João Pedro Fonseca
Muitas vezes escrevo para tocar nas feridas políticas e Lamego não é excepção. Mas chegámos a um ponto em que criticar se tornou um fim em si mesmo. Apontam-se defeitos, repetem-se diagnósticos, e falta sempre a ideia que possa reorganizar o futuro. Hoje escrevo, por isso, em defesa da cidade onde cresci e do interior.
Num país onde a interioridade é tratada demasiadas vezes como ausência, e onde as maiores cidades praticam preços impraticáveis na habitação, Lamego destaca-se como um território raro: tem escala humana, qualidade de vida, património, equipamentos municipais preparados e uma posição privilegiada no Douro, uma região cada vez mais valorizada pela relação com a natureza e equilíbrio que oferece.
Ao contrário do que tantas vezes se afirma, o interior não está condenado ao declínio. O que falta é criar motivos para que as pessoas permaneçam, regressem e criem. O mercado de trabalho está a mudar, afastando-se dos modelos industriais que sustentavam cidades inteiras. Hoje, a economia é mais flexível, fragmentada, digital e baseada em competências.
É neste contexto que surge a economia criativa, que inclui não só artes, videojogos (hoje uma das indústrias mais lucrativas do mundo) e novos media, mas também um conjunto de profissões emergentes, nascidas da expansão das inteligências artificiais e ainda nomeadas quase sempre em inglês: AI Trainers, Neurointerface Designers, Microlearning Creators, entre muitas outras. Trata-se de um sector em profunda transformação, capaz de gerar emprego qualificado sem exigir infraestruturas industriais pesadas. Isto coloca Lamego numa posição particularmente favorável. Apesar de perder jovens por falta de oportunidades, a cidade possui património, equipamentos prontos a serem ativados, custos acessíveis e condições de vida que ganham novo valor numa sociedade cada vez mais atenta à saúde mental.
O que várias cidades europeias de pequena e média dimensão demonstraram nas últimas décadas é simples: quando a cultura e a tecnologia se tornam prioridades, criam-se ecossistemas onde o comércio floresce, a habitação se valoriza e a identidade territorial ganha nova energia. Lamego pode seguir este caminho. Um espaço dedicado à criação, que reúna startups, estúdios, residências artísticas, laboratórios digitais e uma programação regular, seria suficiente para activar uma micro-economia capaz de sustentar cafés, oficinas, lojas e serviços. A criatividade gera circulação, e a circulação gera comércio.
Além disso, num momento em que o turismo procura reinvenção e autenticidade, a ligação entre tradição e inovação torna-se uma vantagem competitiva. O Douro oferece narrativas riquíssimas: património religioso, saberes artesanais, memória agrícola, gastronomia e uma paisagem que habita o imaginário nacional. Integrar estes elementos em práticas contemporâneas, da videoarte à impressão 3D, da criação sonora ao design digital, produz valor simbólico e económico de elevado impacto. Lamego pode tornar-se um laboratório para novas formas de mediação cultural e tecnológica, capaz de preservar o território enquanto o projecta para o futuro.
Outro ponto decisivo: as indústrias criativas não operam isoladas. Funcionam como um motor silencioso que desencadeia outras atividades, estimulam empresas tecnológicas, serviços de comunicação, produção audiovisual e trabalho independente qualificado. São setores que atraem talento jovem, precisamente o que o interior mais necessita. E ao contrário de fábricas, não exigem dezenas de hectares nem investimentos massivos; exigem sim visão política, continuidade e coragem estratégica.
Se Lamego apostar seriamente neste caminho, pode tornar-se um exemplo nacional de como o interior pode reinventar o seu futuro. A cultura, quando tratada como eixo estratégico e não como ornamento, tem o poder de reconstruir economias locais. A tecnologia, quando integrada, abre portas a mercados globais. O futuro do interior não está na repetição do passado, mas na coragem de reimaginá-lo. Lamego pode — e deve — ser o primeiro a fazê-lo.
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João Pedro Fonseca
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Francisca Jesus
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João Valor
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João Vicente, médico especialista em Cirurgia Geral na Unidade da Tiroide do Hospital CUF Viseu