Mercado 2 de Maio: com origens na Guerra Civil de Portugal, a praça homenageia tropas viseenses que combateram por D. Pedro IV

Rúbrica Semanal “Histórias que se Contam”

No coração de Viseu, entre o Rossio e a Praça de Santa Cristina, um largo de grandes dimensões ocupa o lugar onde, durante um século, foi realizado o mercado de Viseu. Remodelado no início da década de 2020, o Mercado 2 de Maio é agora uma das praças mais icónicas de Viseu. Da gastronomia a espetáculos musicais ou fóruns para as mais variadíssimas iniciativas, o Mercado 2 de Maio foi construído no século XIX.

Inaugurado em maio de 1879 como ‘Praça 2 de Maio’, este espaço acolheu o mercado da cidade até 1990, sendo, no entanto, ainda hoje conhecido como Mercado 2 de Maio. Mas qual a razão para esta data tão específica que dá nome ao espaço? Bem, para contar a sua história, é necessário retroceder no tempo até à primeira metade do século XIX, altura em que dois irmãos decidiram ter opiniões distintas sobre algo essencial: o modo como Portugal deveria ser governado.

Por um lado, D. Miguel, um rei que procurou governar Portugal dentro da linha absolutista. Por outro lado, o seu irmão D. Pedro IV de Portugal, Imperador do Brasil e cuja filha, D. Maria, seria a sucessora e, portanto, rainha de Portugal – a linha de D. Pedro seguia um modelo assente na monarquia parlamentar constitucional, com a existência de duas câmaras, uma de lordes e outra dos comuns.

As tropas de Viseu – na altura ainda escrita Vizeu, com um ‘z’ – serviram na Guerra Civil de 1832-34 ao lado das tropas constitucionalistas. Após a derrota de D. Miguel e o seu exílio, as tropas do lado de D. Pedro puderam finalmente dispersar-se e regressar para as suas terras. Os homens que tinham partido de Viseu regressaram precisamente no dia 2 de Maio de 1834 a esta cidade, motivo pelo qual esta data ficou para sempre registada na história da cidade.

“Com effeito, pelas cinco horas da tarde do mesmo dia, via-se m enorme concurso de povo estacionado na Ribeira”, lê-se na obra “Album de Vizeu”, publicada no Porto em 1884. “Notava-se em todos os rostos a maior anciedade pela chegada dos constitucionais, pois que alli se achavam pães, filhos, e esposas, que desejavam vêr e abraçar os entes queridos que a guerra lhes trazia longe há dois annos”, lê-se ainda na obra.

As tropas chegariam a Viseu no final da tarde de 2 de Maio de 1834, encabeçadas pelo Duque da Terceira, ao mesmo tempo que a “banda da divisão tocava o hymno Constitucional”.

“E aquelles soldados cobertos de pó, cheios de cançaço, tinham todavia a força necessária para gritarem com o maior enthusiasmo: Viva a Carta constitucional! Viva D. Pedro IV!”, afirma a obra de 1884.

O Mercado 2 de Maio foi requalificado em 1914, assim como nas décadas de 1920, 1940, 1970 e 1990. Em 2002, o Mercado 2 de Maio foi requalificado sobre a assinatura do arquiteto Álvaro Siza Vieira, tendo deixado de funcionar como espaço do mercado municipal a partir de 2000. Mais tarde, em 2021, o espaço foi novamente requalificado, desta vez com a colocação de uma cobertura de painéis fotovoltaicos, passando assim a ser utilizado durante todo o ano para eventos e concertos ao ar livre. O espaço foi inaugurado em dezembro de 2023.