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Miguel Bombarda, a rua que se ‘perdeu’

 Miguel Bombarda, a rua que se 'perdeu'
07.05.22
fotografia: Jornal do Centro
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 Miguel Bombarda, a rua que se 'perdeu'
13.12.24
Fotografia: Jornal do Centro
 Miguel Bombarda, a rua que se 'perdeu'

Repleta de vivendas “arquitetonicamente muito bonitas”, onde nasceu o grande ‘Hotel Avenida’ (assim conhecido) e a oficina de automóveis da Ford, a rua Miguel Bombarda, em Viseu, é caracterizada pelos comerciantes e transeuntes como aquela que “se perdeu”.
É certo que esta rua não teve o mesmo impacto comercial que a rua Direita ou a Formosa teve em décadas passadas, no entanto “as gentes que por aqui passavam deixam saudades”, dizem alguns dos moradores mais velhos desta artéria que emboca no Rossio. Desde estudantes do liceu às pessoas que passavam devido ao comércio local, “os seus passos ecoavam por toda a rua, como uma sinfonia”, acrescentam.

Imaginemos, então, uma época em que a rua era apenas ocupada por pessoas, agora substituídos por carros e estacionamentos, onde a “vivenda senhoral em granito” era utilizada como uma casa de habitação para alunos – no lugar do atual centro comercial – e a papelaria/drogaria ‘Avenida’, que acabou por desaparecer, era procurada pela sua rapidez de resposta.
“Havia um senhor que tratava todos por professor”, riu-se uma comerciante. “Mesmo na altura em que ainda era estudante, cada vez que ali ía, tratava-me por professora. Essa papelaria deixou saudades a imensa gente de Viseu”, completou.
Os comerciantes relembram, ainda, a oficina de automóveis da Peugeot, que existiu sensivelmente até aos anos 90’, a fábrica de refrigerantes que ocupava o lugar do atual Correio da Manhã, o restaurante Calunga e o tasco Gola Alta bastante querido para as gentes desta rua. A saudade de uma rua rendida à dualidade entre a calmaria e o movimento, contribui para o sentimento de que “Viseu está a ficar deserto”, dizem.
“O que era antigo já não existe aqui, agora tudo o que abre eventualmente acaba por fechar”, acrescenta um comerciante.
A rua Miguel Bombarda foi, portanto, desconstruída tornando-se numa rua renovada e repleta de prédios quase sem moradores, espaços ‘abandonados’ e lojas que “não duram mais que 10 anos”, assumem.

A figura por trás do nome

Nascido a 6 de março de 1851, no Rio de Janeiro (Brasil), Miguel Augusto Bombarda – médico, cientista, professor e político republicano português -, foi uma figura fundamental para o desenvolvimento da psiquiatria em Portugal. Assumiu, em 1892, a direção do hospital Miguel Bombarda, outrora conhecido por Hospital de Rilhafoles, em Lisboa.

A alteração do posto revelou-se decisiva na melhoria das condições de assistência e de tratamento dos doentes, pelo que se fundamentou nas práticas alemãs relativas à abordagem de doenças mentais. Batalhando pelo bem dos seus doentes, Miguel Bombarda divulgou, em Portugal, esta corrente psiquiátrica através do jornalismo médico, congressos e cursos livres, fora do âmbito académico, uma vez que a psiquiatria só ganhou o estatuto de disciplina médica aquando da fundação da Universidade de Lisboa, depois da Implantação da República. Miguel Bombarda, em 1894, descreve o manico?mio como o “asilo pelos incura?veis que abriga, prisa?o pelos doidos perigosos ou criminosos a quem tolhe a liberdade, oficina pelo trabalho que exige a uma grande parte da sua populac?a?o, laborato?rio pela cie?ncia que e? obrigado a produzir, e ate? quartel pela rigorosa disciplina que tem de impor, e finalmente hospital”.

De acordo com António Fernando Cascais, investigador no Instituto de Comunicação (ICNOVA) da NOVA FCSH, Miguel Bombarda marcou o início “da transição da Psiquiatria para o nível de ciência laboratorial, ao mesmo título das demais disciplinas médicas que já usufruíam da autoridade e do prestígio desse estatuto plenamente científico”. A nível político, destacou-se como membro da Comissão de Resistência da Maçonaria, foi um dos dirigentes da revolução republicana.

A sua responsabilidade passava pela distribuição de armas por grupos civis, estando ainda prevista a sua participação no assalto ao quartel de Artilharia 1, em Campolide. Em vésperas de revolução, a sua morte deu-se em 1910, tendo sido ironicamente assassinado no seu consultório por Aparício Rebelo dos Santos, um doente seu e antigo tenente de infantaria natural de Braga. Miguel Bombarda foi, portanto, um dos médicos mais prestigiados dos finais do século XIX e princípios do século XX, lutando em prol das questões psiquiátricas. Percorreu, ainda, uma carreira de excelência na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa para a formação científica e filosófica dos seus alunos.

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