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Na saúde mental, a arte continua a ser o parente pobre da psiquiatria

 Na saúde mental, a arte continua a ser o parente pobre da psiquiatria
20.07.24
fotografia: Jornal do Centro
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 Na saúde mental, a arte continua a ser o parente pobre da psiquiatria
11.12.24
Fotografia: Jornal do Centro
 Na saúde mental, a arte continua a ser o parente pobre da psiquiatria

Virando à direita na Avenida Aquilino Ribeiro, os portões do Hospital Psiquiátrico de Abraveses dão acesso a um mundo completamente diferente daquele experienciado por alguém que caminhe no passeio desta avenida. Num dos espaços verdes que circundam o edifício do Hospital Psiquiátrico – um oásis de sombras desenhadas pela copa das árvores, o grupo Gira Sol Azul e a banda Senhor Jorge preparavam-se para começar o concerto. Em boa verdade, nenhuma das bandas estava inteiramente em palco, nem o palco era verdadeiramente um palco.

O baterista, o guitarrista e o vocalista pertenciam à banda Senhor Jorge. Já os restantes elementos pertenciam ao coletivo Gira Sol Azul. Por entre duas árvores, o “palco improvisado” surgia para o início daquela que seria uma tarde especial. Em frente do palco, cerca de três dezenas de cadeiras tinham sido dispostas para acomodar a plateia.

Maioritariamente composta por utentes do Hospital Psiquiátrico de Abraveses, a plateia contava ainda com algumas enfermeiras que aguardavam avidamente pelo início do espetáculo. A voz imponente de Jorge Novo, qual reencarnação de Augusto Hilário, fez-se ouvir pela clareira toda do espaço do hospital. Durante cerca de uma hora, as notas do fadista transportaram os utentes de psiquiatria para um universo musical. Em todas as músicas, Jorge Novo apelava ao público por um refrão cantado em conjunto.

“Qual foi a comida hoje ao almoço?”, perguntou o fadista no início do espetáculo. “Hoje foi carne”, respondeu alguém por entre a plateia. “Então estão com força para poderem cantar comigo”, gracejou Jorge Novo. Antes de cada novo tema, o refrão era repetido várias vezes até ficar na memória – e repetido novamente durante a música.

“Este é fácil. Ora vejam, é apenas isto. ‘Que feliz a ignorância de quem não conhece a noite’. Vocês conseguem, ora repitam comigo”, ouviu-se a certa altura.

Os utentes, pouco habituados a espetáculos musicais, prestavam atenção a cada nota, a cada palavra cantada. No final do concerto, uma salva de palmas. Quem não estivesse a assistir ao concerto, mas apenas a ouvir, julgaria pela salva de palmas que o espetáculo tinha sido assistido por centenas de pessoas.

Sem um terapeuta ocupacional permanente a trabalhar com os utentes internados no serviço de psiquiatria do Hospital de Abraveses, atividades e ramos artísticos como a música, a pintura e o desenho são delegados para segundo plano, e apenas praticados “de quando em vez”.

“Também gostamos de fazer ginástica, de dar uma caminhadazinha, de fumar o nosso cigarro”, explicou ao Jornal do Centro um dos utentes do Hospital Psiquiátrico de Abraveses. “Quando estão as estagiárias, ajudam a gente a pintar. Também gostamos de jogar à sueca com as enfermeiras, mas acho que isto podia acontecer uma vez por mês, por exemplo”, contou ainda o utente, que preferiu manter o anonimato.

Para Nuno Gil, diretor do serviço de psiquiatria do Hospital de Viseu, iniciativas como esta “são sempre bem-vindas porque permitem aproximar o hospital da comunidade e de certa forma contribuir para a desestigmatização da saúde mental tal como ela é entendida de forma errada”. “Infelizmente nós temos algumas limitações em termos de recursos humanos”, explicou ainda o diretor, que trabalha no serviço de psiquiatria há 22 anos, embora seja diretor apenas desde novembro de 2023.

“Nós não temos uma terapeuta ocupacional no internamento, pelo que aqueles doentes que estão internados de forma mais prolongada acabam por ter alguma restrição em termos das atividades que poderiam ter”, contou ainda o responsável pelo serviço de psiquiatria.

Este tipo de iniciativas como a atividade física e o teatro, disse ainda, contribuem para quebrar uma rotina que “acaba por se tornar um pouco repetitiva em relação aos doentes que estão internados”. O Hospital de Viseu tem, de acordo com o diretor, pelo menos duas terapeutas ocupacionais. Uma, contudo, está exclusivamente alocada à pedopsiquiatria, um serviço independente do Hospital de Abraveses. A segunda terapeuta ocupacional está atribuída à equipa comunitária de saúde mental, que trabalha em Castro Daire, São Pedro do Sul e brevemente em Oliveira de Frades e Vouzela.

O concerto faz parte da iniciativa “Jazz ao Domicílio”, inserida no festival Que Jazz É Este. Nesta iniciativa, o coletivo Gira Sol Azul e o grupo Senhor Jorge foram não só ao Hospital Psiquiátrico de Abraveses como também ao estabelecimento prisional de Viseu e ao estabelecimento Dr. Vítor Fontes, da APPACDM Viseu.

Ana Bento, organizadora do festival e membro do coletivo Gira Sol Azul, considera que “estes estabelecimentos de comunidades específicas e que estão a passa dificuldades sérias e profundas precisam mesmo deste tipo de iniciativas”.

“As pessoas têm de estar aqui em retiro, com medicação e acompanhamento médico, mas de facto acho que o isolamento com o exterior não abona em nada a recuperação das pessoas”, disse ainda a música e organizadora do Que Jazz É Este. “Acho que é muito importante manterem uma ligação com o mundo real e de preferência com o mundo artístico, que é o meio privilegiado para elas próprias se descobrirem e de sentirem coisas quando ouvem e veem arte”, afirmou Ana Bento.

 Na saúde mental, a arte continua a ser o parente pobre da psiquiatria

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