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Nascemos para aprender e não a ler

 Nascemos para aprender e não a ler
13.07.24
fotografia: Jornal do Centro
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 Nascemos para aprender e não a ler
12.12.24
Fotografia: Jornal do Centro
 Nascemos para aprender e não a ler

A natureza humana diz-nos que aprender, que a aprendizagem é de todas as atividades, aquela para a qual estamos mais otimizados. O cérebro absorve toda a informação! Quer dizer também que nós nascemos para aprender! Entre toda essa aprendizagem, o cérebro gosta sobretudo de histórias. Quer dizer que um bom professor deveria saber contar histórias, porque elas prendem mais atenção do que o relato de simples factos. Um outro dado importante é que nós somos a espécie que aprende mais, melhor e com prazer. O que nos pode limitar nessa aprendizagem e porquê?

O medo de aprender! Porque quem aprende muda e não fica na mesma. Ao sermos confrontados com informações diferentes daquelas que pensamos e defendemos, isso causa-nos mau estar. E quanto mais se sabe ou pensa saber, isso acaba por se transformar numa espécie de ameaça. Aprendemos de tudo, o certo e o errado, a verdade e a mentira, o cérebro não faz distinção! Quando se aprende, logo a seguir, o importante será aprender a fazer, porque é o resultado dessa experiência que fica no nosso património biológico. O cérebro utiliza duas capacidades para guardar este conhecimento, quando é novidade regista e se tem significado deixa marcas. Acreditem, não há outra máquina tão perfeita no que respeita á aprendizagem e começamos logo na barriga da mãe.
Mas há coisas que são inatas e outras que temos que aprender! Por exemplo, aprender a andar é inato, mas depois é preciso experimentar e fazer. Para falar também não precisamos de professor, aprendemos a falar usando um cérebro em maturação. Quando chegamos á leitura vamos encontrar dois tipos de limitações. Uma é tratar-se de uma competência demasiado complexa para o cérebro, porque ele não foi construído para ler. Outra porque a escrita e a leitura só apareceram depois da formação do cérebro humano. Quer dizer que falar é uma das nossas heranças milenares e somos dotados de uma capacidade inata para a adquirir. Mas na leitura já não temos essa vantagem, porque ela só apareceu faz 5 mil anos e com o aparecimento da escrita. Nasce com um propósito bem claro, lançar as bases de uma memória física que o tempo não possa comprometer.

Este nascimento da leitura foi um dos momentos mais importantes da História e fez da escrita uma das mais relevantes invenções da Humanidade e de todos os tempos. No entanto estes 5 000 anos não foram o tempo suficiente para nos dar uma adaptação genética á leitura, porque apenas uma pequena parte da Humanidade dominava o código da escrita. Os especialistas desta matéria dizem-nos que o cérebro ainda não evoluiu o suficiente para lhe permitir fixar a leitura.
Quer dizer que este é um trabalho a ser feito por nós e construído através de uma capacidade do cérebro chamada “plasticidade”. Como é isso? Quando se lê com insistência e como rotina, isso acaba por mudar os circuitos cerebrais das nossas áreas motoras, visuais, memória e até as estruturas cognitivas mais sofisticadas. Quer dizer que lendo, nós próprios estamos a mudar e criar uma nova competência no cérebro. Há um exemplo famoso sobre esta “plasticidade” que nos ajuda a compreendê-la, porque ela é muito importante e acompanha-nos toda a nossa vida.
Aconteceu em 1913 quando Stravinsky apresentou em Paris a sua sinfonia “A Sagração da Primavera”. Ele queria fazer uma rutura com a linguagem da música clássica e com as tradições musicais. Nessa noite começou suave, o clássico, mas de repente a sua música encheu-se de dissonâncias, um verdadeiro caos! O público começou a vaiar e a sala transformou-se num motim que só a polícia conseguiu acalmar. O que queria afinal o compositor? Acabar com uma linguagem musical e começar outra. Dizia que a noção de beleza era maleável, que a nossa mente tinha “plasticidade”, a capacidade para se adaptar a outro tipo de música. Que o cérebro acabaria por aceitar! Poucos anos depois da estreia desta sinfonia o compositor era ovacionado de pé e levado em ombros. Em 1940 era a banda sonora de um filme da Disney para crianças (Fantasia). O que significa isto para a leitura? Que é preciso ler, insistir na leitura até ser integrada por via desta “plasticidade”. Quer dizer também que o cérebro original não foi feito para ler, mas para aprender a ler. Que é preciso ler muito, criar ambiente e estímulos favoráveis.
Fica-nos uma pergunta, porquê insistir e investir na leitura? Porque há uma infinidade de vantagens: Aumenta a inteligência; enriquece as competências narrativas orais e escritas; estimula a criatividade; desenvolve aptidões emocionais e sociais; desenvolve a empatia, a compreensão do outro; reduz o insucesso escolar; promove a partilha. Mas fica-se com a ideia de que nunca se leu tanto como hoje? Mas não se lê bem, nem na forma, nem no conteúdo. Muita da leitura tem até influência negativa por falta de formas verbais e porque circula nos ecrãs recreativos e redes sociais. Está provado que o melhor desenvolvimento das competências linguísticas e de leitura vem por via dos livros em papel e entre esses os de ficção. Sabemos também, que se o cérebro das crianças não for exposto a um número suficiente de livros, em particular de ficção, o seu desenvolvimento linguístico e capacidade de aprender a ler ficam diminuídos. Haverá um problema futuro, os alunos de hoje serão os professores de amanhã! Como irão eles incutir o amor pela leitura nos seus alunos se nunca o tiveram?

É importante saber que o livro, desde a sua origem foi sempre inimigo daqueles que queriam controlar a mente humana; aniquilar os instrumentos mais importantes do pensamento; apagar as memórias culturais e conceptuais; forçar a amnésia histórica e facilitar o controlo do indivíduo e da sociedade. O livro foi sendo destruído e queimado ao longo da história, não como objeto físico, mas para apagar a memória que está nas palavras…Milhões de livros, bibliotecas inteiras foram queimadas ao longo da história e por toda a parte…O ódio ao livro! Os nazis queimaram 100 milhões de livros, Franco queimou 257 bibliotecas, o conhecimento avançado dos Maias e Incas foi queimado, como foram Voltaire, Darwin, Jorge Amado… E imagine-se, em 2001 no Novo México (EUA) ardiam os livros do Harry Potter!
Mas isto não quer dizer que as formas digitais devam ser completamente rejeitadas. Mas nunca serão substitutas dos livros em papel…

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