Presidente da ATMU discorda da posição do Governo sobre Memorial dedicado às vítimas da radioatividade na Urgeiriça

O Governo manifestou discordância relativamente ao nome inicialmente previsto para o Memorial às Vítimas da Radioatividade, que será erguido na Urgeiriça, no concelho de Nelas. A secretária de Estado da Energia concorda com a sua criação, mas defende que a designação deve abranger a homenagem aos mineiros de urânio e não apenas às vítimas da exposição à radioatividade.

O tema foi debatido numa reunião entre a Associação dos Antigos Trabalhadores das Minas de Urânio (ATMU) e a governante, onde também foram abordadas as obras de recuperação ambiental das habitações, a retirada do urânio armazenado na Urgeiriça e a criação do Museu Mineiro da Urgeiriça.

O presidente da ATMU, António Minhoto, manifestou desacordo com a alteração do nome. “A exploração mineira trouxe muitas vítimas e continua, infelizmente, a causar. São cerca de 200 mortos com neoplasias. […] Não só em homenagem a quem partiu, mas também para ser um marco histórico de que nunca mais há situações destas, o Memorial às Vítimas da Radioatividade deve ser colocado na Urgeiriça”, afirmou.

Segundo António Minhoto, a Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM) já tinha anteriormente concordado com a ideia do memorial, mas agora defende a homenagem aos mineiros. “Entendemos que este é um processo que tem de continuar, e é nessa fase que nós estamos numa nova reunião para debater”, acrescentou.

Durante a reunião, a secretária de Estado da Energia garantiu que, a partir de fevereiro, serão colocados painéis solares para o funcionamento dos ventiladores destinados à descontaminação das habitações afetadas pela radioatividade, apesar do presidente da ATMU revelar que há quem aguarde há quase duas décadas: “passadas quase duas décadas após a assinatura do protocolo entre o Governo e a Comissão de Moradores, ainda se mantêm hoje casas com contaminação”.

A ATMU também reiterou a necessidade de retirar o urânio armazenado na Urgeiriça, alegando que a sua presença não representa qualquer mais-valia para a população. “Já basta toda a parte negativa que foi a exploração mineira, quanto mais manterem aqui as reservas armazenadas, que não faz sentido”, referiu António Minhoto.

A criação do Museu Mineiro da Urgeiriça foi outro dos temas abordados. Segundo o presidente da ATMU, o projeto já foi apresentado, mas a sua concretização está dependente da aplicação de protocolos já assinados entre a ATMU e a EDM. “Toda a gente conhece o problema, toda a gente delibera, […] mas os protocolos assinados não foram cumpridos”, afirmou.