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Da música tradicional portuguesa faz parte o repertório de canções que eram, normalmente, cantadas durante o trabalho rural ou em períodos festivos tradicionais, como pequenos bailes ou feiras realizados nas aldeias. A maioria destas canções eram transmitidas de modo oral. Atualmente, vários grupos e artistas como Expresso Transatlântico, Criatura ou Ana Lua Caiano aproveitam o cancioneiro tradicional português para criar e desenvolver novas sonoridades, onde o rock, o hip-hop ou a música eletrónica (de entre outros géneros) se fundem com o tradicional.
“Quando eu falo de música tradicional portuguesa, primeiro penso que é música do século XX”, afirmou ao Jornal do Centro a música Ana Lua Caiano, dando o exemplo da canção “Milho Verde”, entretanto gravada por Zeca Afonso. “É um fenómeno cultural que é diferente em várias zonas do país, que começou por ser transmitido de forma oral e hoje em dia, devido à existência da gravação, já é transmitida de outra forma”, disse anda a artista. Cantores como Zeca Afonso, como Fausto – que morreu recentemente – e como Sérgio Godinho acabaram por utilizar canções tradicionais e trabalhar as mesmas, uma nova camada da “música portuguesa a gostar dela própria”.
Na altura em que começou a compor, Ana Lua Caiano ouvia maioritariamente José Mário Branco, Fausto Bordalo Dias e Sérgio Godinho, autores que “trabalhavam sobre esta tradição e sobre estes elementos tradicionais portugueses, como os instrumentos, o tipo de harmonias e a utilização de vozes. “Quando eu comecei a compor, essa tradição começou a vir um bocadinho naturalmente na minha forma de trabalhar a música. Só que eu, além de gostar muito de música tradicional, também gosto muito de música eletrónica e gosto muito de coisas que depois começaram a utilizar outro tipo de ferramentas”, explicou Ana Lua.
“Então quando comecei a compor, as melodias apelavam por um lado a esta faceta mais portuguesa, às raízes tradicionais, mas por outro lado também comecei a utilizar instrumentos e técnicas que são de outro tipo de músicas”, continuou a artista.
Na criação de uma música nova, são vários os passos que é necessário concretiza até que o objeto musical esteja concluído. O primeiro passo de Ana Lua é a melodia. “Aparece em momentos de silêncio, de pausa e de uma forma mais orgânica. Para mim é muito difícil forçar uma composição ou sentar-me no estúdio a compor. Aparece um pouco no dia a dia, em momentos inesperados”, contou.
“Como o vocabulário da música tradicional portuguesa existe há muitos anos, estas melodias apelam à transição sem que eu force isso. Depois, o processo de produção é onde os outros elementos começam a aparecer”, continuou a artista. Nesta fase do processo criativo, Ana Lua aproveita para captar sons que estejam ao som redor, sem que estes tenham de ser, à partida, musicais – podem ser sons de chaves, do vento, de carros a passar ou de pássaros. No final, são as caixas de ritmos eletrónicos e os sintetizadores que vão dar um novo corpo ao objeto musical, neste caso focado numa componente eletrónica. “A produção acaba por ser o momento em que esses dois mundos, o tradicional e o eletrónico, se cruzam”, detalhou Ana Lua.
O gosto pelo cruzamento entre o tradicional e o contemporâneo, no caso da artista, não fica apenas pela faceta de compositora. Enquanto consumidora de música, Ana Lua gosta de ouvir grupos e artistas que “também pegam na tradição” e juntam outras formas como o rock ou o hip-hop. “Como eu gosto muito de música tradicional e das sonoridades mais associadas à portugalidade, acabo por gostar muito desses projetos”, contou.
Quando está a dar um concerto, Ana Lua acaba por diferenciar vários tipos de público que se aproximam da sua música. “Por um lado, existem as pessoas mais jovens que se calhar acham interessante o facto de eu juntar música tradicional com música eletrónica e que às vezes valorizam a parte da música ser mais dançável”, afirmou. “Por outro lado, também já fui a pequenas terrinhas em que se calhar o ambiente é mais íntimo e diferente de um clube noturno, e em que há pessoas mais velhas que já me disseram que uma parte da melodia ou certo ritmo fazia lembrar uma música de infância”, detalhou Ana Lua.
A artista foi mais longe, e assumiu que nas cidades grandes como Lisboa e Porto não há uma ligação tão próxima à música tradicional, “mas quando vamos a terrinhas e falamos com pessoas mais velhas, a tradição acaba por ser algo que fazia parte da infância e que talvez esteja mais na sua memória coletiva do que nas cidades”.
Em maior ou menor escala, o que parece certo é que diversos artistas estão a criar e a alimentar géneros contemporâneos de música que constituem um novo modo de música tradicional – pelo que a própria música que utiliza pedaços ou harmonias da música tradicional se torna ela mesma em música tradicional. “Ao longo dos tempos houve muitas alterações que foram acontecendo. A música agora é gravada e mais facilmente as pessoas conseguem ter contacto com essa tradição e trabalhar por cima disso” continuou a esclarecer a artista. “Portanto, para mim acaba por ser uma espécie de continuação. A diferença é que agora a música é gravada e mais facilmente é ouvida, e antes não era. Acho que acaba por ser uma evolução natural da música”, disse.
Já em relação à música tradicional criada e trabalhada no futuro, Ana Lua acredita que não haverá “apenas um único caminho, mas sim milhares de possibilidades”. “Acho que o futuro vai ser uma continuação, mas se calhar com mais estilos e mais coisas a acontecerem”, concluiu.