Seguimos caminho por Guimarães, berço de Portugal e guardiã de memórias antigas….
A primeira viagem desta VII Temporada começa em Caldas das Taipas, uma…
Começamos esta nova temporada onde a água é quente, as histórias são…
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
1. Entre Fevereiro e Março de 1925, Artur Virgílio Alves dos Reis introduziu no país 200 mil notas falsas de 500 escudos que correspondiam, segundo cálculos do economista Henry Wigan, a 0,88% do PIB português de então. Isto é, cem anos depois, com dinheiro actual, o burlão teria 2510 milhões de euros para gastar. Dez vezes o maior jackpot de sempre do euromilhões.
Conseguido esse stock de notas de meio conto, com efígie de Vasco da Gama, o homem, com a energia dos seus 27 anos, não esteve com meias medidas: fundou um banco, comprou um palácio, três quintas, uma frota de táxis, jóias e casacos de pele com fartura para a sua estimadíssima, para não falar num Hispano-Suiza precioso — há um H6B, de 1924, no Museu do Caramulo, para regalo dos nossos olhos.
A criatura era hiperactiva e, como nas “pharmácias” ainda não havia Ritalina à venda, não parou naquele prodigioso ano. Além de ter tentado comprar o Diário de Notícias, tentou também controlar o Banco de Portugal: em seu nome e de testas de ferro conseguiu 10 mil acções do banco central, com 45 mil passava a ser dele a “fábrica” das notas. Nada do que aqui descrevi é particularmente novo. Estes acontecimentos extraordinários deram origem a uma mini-série da RAI em 1974 e a uma série de 50 episódios na RTP em 2000.
Novo, para mim, foi ter descoberto esta semana “The effects of the 1925 Portuguese bank note crisis — Os efeitos da crise das notas de banco portuguesas de 1925” e a principal tese deste ensaio de Henry Wigan, do Departamento de História Económica da London School of Economics, disponível online.
Segundo Wigan, este golpe massivo das notas falsas teve um impacto terrível exactamente no momento em que, depois dos anos de sufoco a seguir à grande guerra 1914-18, a primeira república estava a levantar a cabeça, a estabilizar a situação financeira do país e a controlar a inflação. A injecção de tanta liquidez na economia teve um efeito reacelerador do aumento dos preços (Wigan quantifica-o em 5,9%) e o descontentamento dos oficiais do exército, que já era muito, transformou-se em fúria, a fúria em conspiração e a conspiração no golpe militar que acabou com a primeira república meses depois, em 28 de Maio de 1926. Seguiram-se 48 anos de ditadura. Isto é, mais do que danos económicos, a fraude causou uma catástrofe política.
Alves dos Reis já não assistiria ao golpe de estado. O jornal O Século, em 5 de Dezembro de 1925, contou a um país estupefacto a história das notas-camarão (algumas, antes de serem usadas em pagamento, eram mergulhadas em ácido cítrico para lhes tirar o cheiro a tinta fresca e ficavam da cor daquele bicho). O homem foi dentro no dia seguinte. Depois de cumprir 20 anos de cadeia, quando saiu, alguém muito imprudente ainda lhe ofereceu o lugar de empregado bancário, mas ele recusou. Preferiu burlar um negociante de Lisboa, vendendo-lhe, por 60 contos, 6400 arrobas de café angolano que não tinha. Um enfarte fatal safou-o do regresso à cadeia.
2. O Agosto de 1975 foi tudo menos querido. Em Viseu, no dia 12, faz na próxima terça-feira meio século, uma turba furiosa assaltou as sedes do PCP e de outros partidos de esquerda (MDP, FSP, MES, UDP e PRP) e estraçalhou duas lojas de simpatizantes comunistas.
Como já lembrei aqui noutro Olho de Gato, há duas quantificações do número de vítimas naquelas horas de todos os perigos: enquanto o Centro Documentação do 25 de Abril da Universidade de Coimbra reporta “um morto e quatro feridos em estado grave”, Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, no seu “Os Dias Loucos do PREC”, apontam para doze feridos.
Tempos complicados. Há cinquenta anos, tivemos um verão quente na meteorologia e quentíssimo no nosso viver colectivo. Ficou conhecido como o PREC, o Processo Revolucionário em Curso.
3. Em 2024, a Feira de S. Mateus acabou duas semanas antes do dia do evangelista. O santo foi expulso da feira secular a que sempre deu o nome. Perplexo, dediquei um Olho de Gato a esta estapafúrdia decisão da câmara municipal com o seguinte título: “Feira Sem Mateus”.
Ora, volvido um ano, o certame acaba de ser inaugurado, com a presença do primeiro-ministro, e vai encerrar, como deve ser, a 21 de Setembro, dia de S. Mateus. Cumprimento o dr. Ruas por ter emendado o erro.
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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José Carreira
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Miguel Carvalho Gomes
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Jessica Cardoso
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Vitor Santos