Uma crónica sobre a espuma dos dias

1. À hora em que escrevo este Olho de Gato, os órgãos de comunicação internacionais estão a dar a novidade que o Kim Jong-un que manda no Kremlin – cada vez mais igualzinho ao de Pyongyang, menos no penteado — assinou um decreto para se apossar da central nuclear ucraniana de Zaporizhia. Assim, sem mais nem menos: “agora aquilo passa a ser meu, ó Zelensky!”

Uma coisa é certa: se Putin fizesse o mesmo à nossa Central do Carregado, alguma da nossa esquerda arranjava maneira de atirar a culpa daquele roubo para a NATO e os EUA.

2. Os media e redes sociais portuguesas fervem de notícias e piadolas sobre a compra feita pela TAP de 79 BMWs, das séries 5, X3 e X2, incluindo um BMW 530e e um SUV BMW X3 xDrive 30e, ambos com 292 cavalos, tendo os demais uma cavalaria não tão nutrida, 220 cavalos cada um. É muito animal para uma empresa tão falida.

Os republicanos Pedro Santos Guerreiro e Paulo Passarinho, da CNN/TVI, puseram estes factos cá fora esta semana, na véspera do feriado e, no 5 de Outubro, implantaram vários repórteres, de microfone em punho, a dispararem a seguinte pergunta aos políticos: “o que é que pensa dos bêémes prá Tap?”

O primeiro-ministro não respondeu, meteu-se no seu Nissan Leaf e foi para casa, mas os nossos três populistas do costume — a saber, Marcelo Rebelo de Sousa, Bloco de Esquerda e Chega — não resistiram e malharam na compra. Deitaram gasolina de 98 octanas em cima do assunto. “Incendiaram” as redes sociais que, como se sabe, estão sempre à beira de um ataque de nervos.

O que vale é que para a próxima semana vai aparecer outra indignação qualquer que vai fazer esquecer esta. A TAP, que já tinha diminuído a encomenda de 79 para 50 carrinhos, perante o clamor, decidiu suspender a compra dos tais BMWs híbridos plug-in, a cheirarem a novo. Daqui a uns mesitos, passada a tempestade mediática, os vips da TAP lá hão-de ter os seus carritos novos.

A corte de Lisboa não dispensa estas coisas. Aliás, estes elefantes brancos, estas mordomias, são tipicamente alfacinhas. A desastrosa decisão de atirar 3,2 mil milhões de euros dos nossos impostos para dentro de um buraco negro chamado TAP só aconteceu porque ele pertence à galáxia lisboeta.