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Miguel Carvalho Gomes
Na cidade de Viseu, os seus habitantes e visitantes encontram uma identidade histórica que nos pode remeter para um modelo urbano teorizado no século XIX por Ebenezer Howard: a cidade-jardim. Há cerca de 100 anos, surgiam os primeiros cartazes e manifestos de uma cidade que se propunha contrariar os paradigmas de uma sociedade tipicamente industrial, pela sua ligação à natureza. Viseu viria a ser conhecida pelas suas autênticas manchas florestais, pelos diversos jardins e por um espaço público organizado em torno da natureza. Com o florir da primavera, constatamos a beleza desta cidade pela sua vida e paisagem urbana. Essa realidade tem transmitido a todos os viseenses uma qualidade de vida singular, frequentemente descrita como sendo a melhor cidade para se viver.
Ao conhecermos o conceito de cidade-jardim, Viseu apresenta-se como um caso de estudo. Teoricamente, esse modelo deve conciliar a envolvência entre o meio urbano e o meio rural, preservando as vantagens do campo, como a tranquilidade e os espaços verdes, e as vantagens da cidade, como os serviços e o emprego. Tal conciliação exige uma estratégia que promova a economia local, a ligação ao território, a sustentabilidade e a integração social, entre outras dimensões fundamentais.
Podemos afirmar que Viseu foi construída com esse espírito de equilíbrio, mas, no presente e olhando para o futuro, essa proximidade ao conceito de cidade-jardim parece ameaçada. Há fatores que nos devem levar a questionar a sustentabilidade do território.
O desenvolvimento da economia local, em particular nas suas componentes rurais e agrícolas, carece de infraestruturas municipais à altura das necessidades do comércio. Um exemplo claro é a ausência de um mercado de produtos agrícolas digno desse nome. Atualmente, a sustentabilidade do comércio local está condicionada por uma infraestrutura improvisada, desorganizada e sem atratividade.
Também a tendência da mobilidade em Viseu é preocupante. Segundo dados do INE, entre 2001 e 2021, a percentagem de passageiros que utilizam transporte coletivo desceu de 17% para 8%, e os que se deslocam a pé passaram de 22% para 13%. Por outro lado, a utilização do automóvel aumentou de 59% para 78%. Esta realidade tem impacto direto no congestionamento das vias, compromete a fluidez da mobilidade, o bem-estar da população, a mitigação das alterações climáticas e, inevitavelmente, a saúde dos viseenses.
Por fim, Viseu deve promover uma maior integração social da sua população, sem que isso signifique criar barreiras ou alimentar processos de segregação. Associado aos fatores anteriormente referidos, a cidade parece hoje cultivar um registo mais próximo do modelo suburbano do que propriamente do modelo de cidade-jardim. A ausência de boas ligações com os polos habitacionais fora da cidade, em particular com as aldeias, a fraca acessibilidade territorial e a perda de ligação à identidade local contribuem para esse afastamento.
Viseu beneficia do autointitulado estatuto de cidade-jardim, mas devemos refletir se está a colher verdadeiramente os benefícios deste modelo urbano. Nos últimos tempos, e por força de uma orientação estratégica clara, fomos perdendo gradualmente o privilégio da ligação com o meio rural, da organização e tranquilidade de um jardim, colhendo sobretudo os vícios de uma cidade.
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