helicóptero INEM
douro bridges
AUTARQUICAS 25
herdade santiago
quartos apartamentos imobiliário viseu foto jc
arrendar casa

No coração do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, há…

21.08.25

Reza a lenda que foi um árabe, há mais de mil anos,…

14.08.25

Seguimos caminho por Guimarães, berço de Portugal e guardiã de memórias antigas….

07.08.25
tribunal_justica_2
Bruno Rocha 2025 Cinfães
jose laires
miss teen
praia da carriça
herdade santiago
Home » Notícias » Colunistas » 16 de Maio de 1985 (continuação VI)

16 de Maio de 1985 (continuação VI)

 16 de Maio de 1985 (continuação VI) - Jornal do Centro
16.09.23
partilhar
 16 de Maio de 1985 (continuação VI) - Jornal do Centro

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra

Bati-lhe palmas, muito brevemente. Depois, enlacei-a num abraço. Ela sorria. Abandonámos o lugar e continuámos a andar. Então, ela revelou a pedrada que foi a leitura deste poeta, pedrada cognitiva, psicológica, emocional. E sorriu do início do discurso. Mas recorda que ao deparar-se com este poema ficara boquiaberta, a imaginar o gozo de Carlos Drummond de Andrade ao escrevê-lo e ao pensar no seu reflexo no leitor. Porque, disse-me, parece não ter sentido nenhum, só lentamente percebemos que pode significar as cenas que temos que enfrentar, constantemente a interferirem connosco, desde coisas importantes a insignificâncias, É assim com a vida, as pedras do caminho como obstáculo à felicidade. E, virando-se diretamente para mim, explicou como, dando-nos bem, sentindo o que sentimos um pelo outro, como o entendimento acontece entre nós sem esforço, as nossas brincadeiras partilhadas, o sexo perfeito, e, no entanto, tem uma pedra no caminho, no nosso caminho. Não há dúvida, o poema é demais, no seu entender, assim devia ser a poesia, simples, obscura quanto baste, mas precisa na intenção, exata como a matemática. Foi a minha vez de parar, a observá-la. Estava surpreendidíssimo. Era esta a jovem do castelo de Mourão que um dia dissera que não gostava de ler!? Ela sorriu e agradeceu-me, dizendo que tinha sido graças a mim, à minha paciência para partilhar nas tardes tórridas do Alentejo um livrinho brasileiro.

 16 de Maio de 1985 (continuação VI) - Jornal do Centro

Jornal do Centro

pub
 16 de Maio de 1985 (continuação VI) - Jornal do Centro

Colunistas

Procurar