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Uma é atriz e outra ceramista. As duas em palco para um espetáculo inspirado no universo das mulheres oleiras que tem o barro como ator principal. Estreia esta sexta-feira, em Tondela, na ACERT.
“Memória do Barro” é o nome da nova criação da companhia Trigo Limpo teatro ACERT (Associação Cultural e Recreativa de Tondela), que foi concebida pela atriz Sandra Santos e pela ceramista Xana Monteiro e encenada por Pompeu José.
“É um espetáculo essencialmente visual, que terá muito pouco texto”, explicou Pompeu José, acrescentando que o seu objetivo foi torná-lo poético.
O espetáculo “vai-se desenvolvendo num mundo irreal, não tenta ser uma representação naturalista do trabalho com o barro”, avançou.
Segundo o encenador, em “Memória do Barro” são apresentadas três forças femininas, nomeadamente a Mulher de Negro (relacionada com a memória e a tradição), a Oleira (mulher emancipada) e a Aprendiz (que carrega uma esperança).
Sandra Santos referiu que a profissão da Oleira é solitária, mas o aparecimento da Aprendiz levou a “uma relação afetiva, de jogo e brincadeira”, que vai muito além da aprendizagem do ofício e da “dureza do trabalho”.
Para cada espetáculo, são necessários 40 quilos de barro, que Sandra Santos e Xana Monteiro têm amassado e preparado durante todos os dias de ensaios.
Além de terem concebido “Memória do Barro”, as duas mulheres são também as suas intérpretes, concretizando assim a vontade que já tinham desde a pandemia de juntarem o teatro com a cerâmica num espetáculo.
“Houve uma grande partilha do trabalho uma da outra. Vamos tentando partilhar a essência que tem cada profissão. Claro que eu não saio daqui uma oleira, mas sei agora muito melhor todo o processo de criação de uma peça e a sua valorização”, contou Sandra Santos.
Segundo a atriz, antigamente “as mulheres faziam tudo na olaria menos irem para a roda e não eram consideradas oleiras só por causa disso, ou seja, tinham o trabalho todo, mas não tinham a profissão”.
Xana Monteiro faz parte do grupo de sete oleiros e ceramistas que mantêm viva a tradição do barro negro de Molelos (inscrito este ano no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial), mas opta por fazer peças criativas.
“Faço tudo na roda, mas depois desformo até obter um resultado que gosto”, contou a ceramista.
Durante o espetáculo, são usados objetos ligados a vários ofícios do concelho de Tondela, como pastores, cesteiros, latoeiros, ferreiros e tecedeiras.
Este “tributo poético às mulheres e ao gesto ancestral de moldar a matéria” conta com música de Ricardo Augusto, que usou sons produzidos a partir de objetos de barro.