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‘Megalomanias’ para 2026

 Desafios e Necessidades de Reativar uma JSD
31.12.25
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 ‘Megalomanias’ para 2026

por
Alfredo Simões

Onde quer que seja que nos encontremos, no País, é frequente ouvirmos alguém falar de Viseu como uma “cidade simpática”, “bem organizada” ou onde “se come bem”. Com frequência podemos ouvir referências ao Museu Grão Vasco, ao Fontelo ou a Viriato. 

Viseu terá merecido a designação de “cidade com melhor qualidade de vida”, em comparação com as demais cidades portuguesas, e tem sido um dos “trunfos” mais relevantes que os visienses colocam em cima da mesa de jogo. Mas, tal como num jogo de cartas, temos de contar com a sorte vinda do baralho – o contexto externo, as politicas publicas nacionais/europeias que não controlamos – e na vida em comunidade é possível construirmos novos trunfos ou valorizarmos aqueles que já possuímos. Podemos valorizar “valetes” e transformá-los em “manilhas” ou criarmos, quem sabe, novos “ases”.

Para o efeito, Viseu precisa de continuar a atrair e saber gerir recursos em função de uma ambição que nos compete definir. É importante que os nossos projetos (pelo menos os projetos centrais da estratégia que precisamos de definir) tenham dimensão, pelos recursos mobilizados e pelo alcance conseguido, e a sua gestão (estratégica e operacional; política, económico-financeira, de comunicação, etc., etc.) seja de qualidade, eficaz e orientada por objetivos e não a navegar ao sabor dos ventos ou ao sabor de interesses pessoais, de grupo e não da comunidade. 

À semelhança do que fizemos há 3 anos atrás, retomamos o título de um artigo de então, e voltamos a reincidir na apresentação de propostas que poderão parecer “missões impossíveis”. Também noutros textos, no JC, tivemos oportunidade de apontar para outros potenciais projetos sempre com a intenção de contribuirmos para o desenvolvimento da nossa cidade.

Viseu, cidade-jardim 2.0 

Em 1933 terá surgido a primeira referencia a “Viseu, Cidade-Jardim” num cartaz turístico de Viseu*. Mas foram precisos muitos anos para que Viseu merecesse esta designação pois que, vinte anos antes, em 1911, um vereador camarário queixava-se do cheiro nauseabundo da maior parte das ruas da cidade. Na base da transformação ocorrida estará o capitão Almeida Moreira, 1º diretor do Museu Grão Vasco, mas também, entre outras atividades, vereador desde 1918 até 1934. 

Estas referências, porém, não podem esquecer outras importantes intervenções, públicas e privadas, e, em particular, com alguns séculos de antecedência, o papel de D. Miguel da Silva, bispo de Viseu, que deve ser relembrado (por Viseu e por Portugal) pelo impacto que teve a sua ação no sec, XVI e, em particular, no desenvolvimento das oficinas de pintura de Vasco Fernandes, mas também do Paço Episcopal e Mata do Fontelo**.

Mas, o epíteto de “cidade-jardim” pode tornar-se insuficiente se a cidade de Viseu entender valorizar, como está ao seu alcance, todo o património natural existente (jardins, matas, quintas ,…) que resultou, ao longo de séculos, de cruzamentos com as Artes como a arquitetura, a pintura ou a escultura ou mesmo com o Desporto. 

Por isso, talvez não seja uma “megalomania” irreal se pensarmos em “Viseu Cidade-jardim, 2.0” (precisamos de uma designação menos datada, mais mobilizadora e mais adequada à construção do futuro da cidade), multidisciplinar e polinucleada. 

Com esta perspetiva, vale a pena pensar num plano de intervenção a começar no parque e mata do Fontelo (desde logo, com extensão ao Parque Linear, bem como a outros espaços verdes), sem esquecer o edifício do antigo Paço, mas também a valorização do passado associado à obra de D. Miguel da Silva que nos remeterá para uma parceria com o Museu Grão Vasco e com a Sé. Por outro lado, como já referi em artigos anteriores, a criação de um Jardim Botânico permitirá associar uma dimensão de conhecimento e de formação que serão fatores de dinamização de todos estes espaços que podem ainda beneficiar do uso de recursos digitais importantes para o dia-a-dia dos visienses e para alargar a notoriedade e o impacto de Viseu. 

O desenvolvimento da “Cidade-jardim, 2.0” poderá ser feito enquadrado por um olhar sobre a cidade, um olhar como que vindo de um helicóptero, acima das nossas cabeças, e nos vá dando indicações de intervenções necessárias no âmbito do planeamento urbano.

Durante vários anos, enquanto formador de programas de formação dirigidos a técnicos e dirigentes municipais no domínio do “desenvolvimento local”, sempre apresentei, em sessões de norte a sul do País, Viseu como um bom exemplo de organização de uma cidade e nunca verifiquei reações contrárias. É uma convicção que mantenho, embora não sendo especialista urbano, mas tão só um observador e beneficiário da vida da cidade. 

Viseu está organizada, ao longo dos anos, em torno do seu núcleo central dominado pela , permitindo uma expansão ordenada e, de alguma forma, enquadrada, pelo menos nas últimas décadas, pela estrada da Circunvalação***. Naturalmente, o crescimento da cidade, através de circulares e radiais, já fez com que a Circunvalação tivesse sido ultrapassada. Porém, importa olhar para esta via estruturante e identificar se não estará a ser fator de divisão em alguns pontos entre o ‘interior da Circunvalação e o ‘exterior’.

Cada visiense terá a sua perspetiva sobre a cidade e há de ter propostas em concreto. Por mim, aponto alguns aspetos que me parecem relevantes para o futuro desta outra “cidade-jardim”:

  1. Valorização do espaço da Ribeira/Feira semanal fazendo desta intervenção um fator de articulação desta zona da cidade com os bairros da Quinta da Carreira e Gumirães. Esta articulação poderá ser pensada simultaneamente com o desenvolvimento da Cidade do Desporto, já referenciada, mas também com a valorização da Estação Agrária, enquanto conjunto de recursos ao serviço de um futuro cluster da investigação e da atividade agrícola regional – este deverá ser um projeto da cidade-região, alargado a outras valências e a outros polos, protagonizado pela CMV com os Ministérios da Agricultura e Ciência, o IPV e agentes económicos relevantes (CVRD, fruticultores, …); 
  2. Uma cidade para e com as pessoas. Apesar da qualidade de vida de Viseu, na verdade há aspetos que me deixam pouco otimista: é difícil circular em muitos passeios (por causa das raízes de algumas árvores, pela largura, …); há zonas da cidade com iluminação desadequada; apesar de melhorias feitas para regular o tráfego automóvel, continuam os estacionamentos em segunda fila, em cima das curvas – importa querermos uma cidade com ruas e praças que deem prioridade aos peões (vale a pena olhar para alguns exemplos como em:https://globaldesigningcities.org); os espaços de convivência social tendem a desaparecer do ‘miolo’ da cidade (ver artigo anterior) o que implica que seja necessário um trabalho coletivo entre moradores e autarquias. 

Há três anos atrás foi apoiado pela Junta de Freguesia um projeto designado “Diagnóstico Participativo da Zona Histórica de Viseu”****, cuja metodologia vale a pena continuar a pôr em prática, seja para atualização e, especialmente, para o seu desenvolvimento – precisamos de fazer a cidade ouvindo as pessoas e os atores locais (nomeadamente comércio e serviços para os residentes), as suas sugestões e propostas, incentivando as suas iniciativas colaborativas e associativas; a cidade precisa de habitação, em particular para os jovens que queiram começar uma vida autónoma, e não apenas como veiculo de acumulação de património e riqueza. Ao nível de cada bairro ou polo residencial será importante adinamização da participação das pessoas na vida do bairro, pode ser necessária a criação de “centros comunitários” – espaços de socialização e de prestação de serviços de proximidade (saúde, p.ex.); uma política social local de mobilização de ‘voluntariado pela cidade’ e de recursos ao serviço de uma estratégia de mecenato cultural, científico e social; 

  1. Precisamos de criar impacto com as nossas iniciativas. São muito poucos os eventos/equipamentos de Viseu que ‘fazem notícia’ para o resto do País. Podemo-nos queixar dos outros que não nos olham nem nos escutam, mas é mais importante alterarmos o nosso modo de fazer as coisas. Como já tenho referido, falta-nos dimensão para podermos ter uma voz forte que se faça ouvir. Vale a pena, por isso, repensarmos de que outro modo podemos agir. 

Vale a pena pensarmos na possibilidade de juntarmos (numa parceria estratégica) o Museu Grão Vasco, a Sé e o Museu da Misericórdia (eventualmente outros) e criarmos no Adro da Sé uma Praça dos Museus. Com a colaboração da Câmara Municipal, será possível a organização de uma Programação articulada que se desenvolverá nos referidos espaços e também, quando necessário, no próprio Adro da Sé, ao longo do ano*****. A Praça dos Museus, ao associar recursos, pode desenvolver iniciativas, para além das programações individuais regulares, e ter uma política de comunicação única mais robusta, uma voz mais forte que seja audível pelo País fora. Iniciativas como os Jardins Efémeros podem dinamizar todo este espaço. A criação do Campus Universitário do Adro da Sé (ver artigo anterior no JC) tornará também a ESEV mais forte e parceira ainda mais relevante numa possível parceria no quadro da Praça dos Museus e do conjunto do Centro Histórico. Igualmente relevante pode ser o papel a desempenhar por uma estrutura como a USAVIS para a mobilização de uma vasta e diversificada rede de colaboradores voluntários;

  1. Em artigos anteriores no “JC” defendi a criação de um Centro de Artes desde que ele fosse um centro de apoio à produção e à integração de várias formas de arte e de espetáculos, bem como de outras atividades – só desta forma será possível termos um equipamento capaz de multiplicar o investimento e impactar com outras atividades locais. Parece que já não haverá um Centro de Artes como o previsto (muito centrado na função de sala de espetáculos), mas que será feito um estudo para a transformação do Pavilhão Multiusos. Seja como for, Viseu precisa de ter equipamentos e estruturas de apoio à produção artística e cultural (tenho a opinião de que este será um setor central para uma estratégia de desenvolvimento de Viseu). Aproveitando esta oportunidade de instalação de uma grande infraestrutura para a apresentação de espetáculos (e, quiçá, de produção artística), no espaço da Feira de São Mateus talvez valha a pena olhar em redor e vermos que bem próximo se situa a sede do Orfeão de Viseu. Tendo em consideração a necessidade de reformulação das instalações, velhas e desadequadas para a função, do Conservatório Regional de Música, talvez pudesse ser pensada a criação de um grande equipamento dedicado à música a partir das instalações existentes do Orfeão e da construção, em espaço vizinho não ocupado, de novas instalações do Conservatório. Viseu ficaria, assim, com uma “Casa da Música” (certamente com outro nome!), moderna e plurifuncional, beneficiando ainda de eventuais infraestruturas/equipamentos do Pavilhão Multiusos e ainda com possível articulação com a Praça dos Museus, Museu Keil do Amaral ou a Casa da Ribeira. Poderá ser uma “megalomania”, mas não deixa de ser um projeto de vida para uma cidade-região com futuro – um projeto coordenado pela CMV, mas que respeita a toda a cidade-região. Esta “Casa da Música” pode ser o estímulo para o desenvolvimento de um amplo movimento de mecenato na Região.

Fazer a cidade com as pessoas, estabelecer parcerias, mobilizar os bairros/polos residenciais enquanto unidades de convívio diário, libertar a iniciativa dos visienses, criar politicas publicas locais de incentivo à ação, ter uma visão de conjunto (cruzando domínios de intervenção e evitando uma política atomista de projeto a projeto) para o futuro – serão algumas das palavras de ordem para construirmos uma cidade de referência no que respeita à integração de cada visiense, à atividade científica e ao desenvolvimento tecnológico, à vida cultural e comunitária. Se formos tudo isto, seremos muito mais do que uma “cidade-jardim” sem abdicarmos desse privilégio. Será isto megalomania?

NOTAS:

*Ver trabalho de Maria Leontina Fonseca, “Jardins da Cidade-jardim, Aformoseamento natural de Viseu”, publicado por Edições Esgotadas (2018).

** Sobre D. Miguel da Silva (c.1480-1556) consultar Rui Macário Ribeiro (http://arquivo.projectopatrimonio.com/habitar/documentos/DMigueldaSilva_roteiro.pdf)

*** Desenhada no Plano Geral de Urbanização, de 1935, e igualmente assumida nos planos locais desde o Anteplano de 1952, passando pelos mais modernos Planos Diretores Municipais.

**** Projeto realizado por Ana Condeço Simões no âmbito de estudos na Universidade de Salamanca.

***** A criação da Plataforma Cultural de Viseu – iniciativa que me parece ser útil para a comunicação de Viseu, desde que a CMV, ou outra entidade responsável, tenha um papel ativo de coordenação – pode ajudar na organização deste processo e, simultaneamente, na elaboração de um macro plano da vida cultural e mobilizador dos agentes culturais de Viseu cidade-região.

 Desafios e Necessidades de Reativar uma JSD

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