30 de junho de 1963. Foi nesta data que nasceu o Futebol Clube de Ranhados (FCR). 60 anos depois, o clube continua de portas abertas. E por estes dias tem celebrado a efeméride. O clube da aldeia que fica às portas da cidade de Viseu é hoje sobretudo formador. Joaquim Costa, o tesoureiro do Ranhados, garante que a instituição “desportivamente está bem”. “A Academia do Sporting está a funcionar no Futebol Clube de Ranhados e temos 120 atletas”, detalha o responsável.
Os mais de 100 atletas que estão nas fileiras do FCR têm entre cinco e 16 anos. No clube estão, então, desde os petizes aos juvenis. Joaquim Costa revelou ao Jornal do Centro que há uma ambição a ser trabalhada para passar do papel à prática: criar uma equipa de sub-23. “Vamos ver se na próxima época será possível”, disse. Na última temporada, o trabalho feito na formação do clube terminou com a conquista de duas Taças: uma de Ouro e outra de Prata. As instalações do clube incluem um polidesportivo, um campo de futebol de 7, outro de de futebol de 9 e um relvado sintético de futebol de 11.
Atualmente, o Ranhados tem à volta de 250 sócios. Ou não estivéssemos a falar com o tesoureiro, todos os que se juntarem, garante Joaquim Costa, são bem vindos. “A palavra que deixo aos sócios é a de que tragam mais um sócio. Se não for pelos sócios, o clube não avança”, garante. Apesar de querer mais, Joaquim Costa frisa que o clube já passou por crises maiores quanto ao número de associados.
Mas o clube resistiu a essa e a outras contrariedades. Foi, aliás, essa, a conclusão maior tirada pelo professor Aníbal Silva, convidado pelo clube a escrever sobre a história do FCR. “É uma instituição que, apesar de imensas dificuldades teve sempre alguém que não a deixou cair”, explicou.
O livro está a ser preparado e irá ser publicado dentro de um ou dois anos. O objetivo era que estivesse pronto já nos 60 anos do Ranhados, mas a dimensão da história do clube – lida nas atas e ouvida e registada nos testemunhos conseguidos – obrigou a que todos os pormenores tivessem de ser contados.
“Quando me pediram para fazer um livro sobre a história do FC Ranhados, acedi com agrado, pensando que ia fazer uma brochura simples, com fotografias que mostrassem a história do clube. Com a leitura das atas, apercebi-me que estamos perante um património muito rico e vasto que nos dá em termos culturais e sociológicos o que foi a vida de uma aldeia colada a Viseu. A instituição foi gerindo todas as sinergias, quer no que ao desporto diz respeito, mas também na componente social e de relação com a comunidade. Apercebi-me de que havia pano para mangas e que pode daqui surgir um livro em que a comunidade se possa rever, rever os seus e tornar-se uma homenagem a todos aqueles que deram o contributo ao Futebol Clube de Ranhados”, confessa o professor Aníbal Silva.
“Optei por não apresentar o livro agora porque ia haver muitas injustiças. Há muitas entrevistas que tenho de fazer aos presidentes. E a par da factualidade queria fazer uma contextualização histórica. Perceber o que se passou em Viseu e mesmo no país à data de vários acontecimentos do Ranhados. As eleições de 75 no clube foram muito disputadas. O contexto político nacional ajudou a isso, porque as pessoas tinham vontade de se associar, de intervir”, reforça.
A verdade é que o registo oficial de nascimento do FC Ranhados data de 1963. “Foi um ranhadense a pensar o clube. O senhor Orlando de Jesus tinha um projeto, mas teve a inteligência de pedir ajuda a um destacado dirigente desportivo de Viseu, Joaquim Cavaleiro, que não estava relacionado com Ranhados, mas dirigia a Associação de Andebol de Viseu e de Basquetebol, também”, recorda. “Joaquim Cavaleiro criou as bases institucionais e legais do Ranhados. Tudo o que houve necessidade de fazer em termos burocráticos foi ele quem tratou. Os estatutos das associações de que fazia parte não o deixaram ficar mais tempo no clube”, acrescenta Aníbal Silva.
Houve então quem sonhasse o FC Ranhados e quem lhe desse substância. Mas o primeiro líder do clube foi um padre. “Adelino Pinto Coelho, era uma pessoa carismática na aldeia”, desvenda. Havia equipas amadoras que nasceram antes do Ranhados, recorda o professor. “Era o caso do Estrela de Ranhados ou das Águias Negras. A aldeia chegou inclusivamente a ficar sem campo. Teve de construir-se uma estrada”, lembra o investigador.
Durante a investigação à história do clube, Aníbal Silva, deu-se conta de que entre 1964 e 1968 não houve registos em atas. Mas através de testemunhos percebeu que foi nesta altura que nasceu a primeira equipa do Futebol Clube de Ranhados pensada por Orlando de Jesus.
O Futebol Clube de Ranhados é a filial nº 33 do Futebol Clube do Porto. Aníbal Silva aponta duas razões que podem justificar a escolha dos azuis e brancos para “apadrinharem” o clube de Ranhados. A primeira razão é a de, à data, em Viseu já existirem Viseu duas ligações oficiais a clubes “grandes”. O Benfica, com o Viseu e Benfica e o Sporting, com o Académico de Viseu”.
Mas a contribuir mais para a ligação com o FC Porto, conta o professor, esteve a figura de Joaquim Cavaleiro que sempre se assumiu um simpatizante do clube portista.
Aníbal Silva esclareceu também que ao símbolo do Ranhados foram acrescentados os símbolos da freguesia. Nesta investigação que ainda está no início, o professor, diz que o que mais o impressionou foi o facto de ter percebido que “não há uma família que não tenha um familiar que tenha passado pelo Futebol Clube de Ranhados: ou como atleta, ou como dirigente”.
“É uma instituição que, apesar de imensas dificuldades teve sempre alguém que não a deixou cair”, enaltece.