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Selma Uamusse: a música luso-moçambicana que foge a qualquer catálogo

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 Selma Uamusse: a música luso-moçambicana que foge a qualquer catálogo - Jornal do Centro
22.07.23
fotografia: Jornal do Centro
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 Selma Uamusse: a música luso-moçambicana que foge a qualquer catálogo - Jornal do Centro
22.07.23
Fotografia: Jornal do Centro
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 Selma Uamusse: a música luso-moçambicana que foge a qualquer catálogo - Jornal do Centro

A atuação no Parque Aquilino Ribeiro este sábado às 21h30, com o Coletivo Gira Sol Azul, será uma estreia para Selma Uamusse, que irá cantar o seu repertório num concerto completo com um grupo musical que não o seu. Além disso, a cantora considera a vinda a Viseu, acima de tudo, como uma oportunidade para trazer algo de diferente à cidade. Através de um registo que bebe de vários géneros, do gospel ao rock, passando pelo soul e pelo afrobeat, Selma Uamusse vai mostrar o porquê de ter sido convidada para o festival Que Jazz É Este.

Sendo uma cantora moçambicana que cresceu em Portugal. De que modo é que descobriu o jazz, o soul e musicalidades africanas durante o seu crescimento?

Eu vim para Portugal quando tinha seis anos, e agora tenho 41, então eu basicamente cresci e formei-me, no que diz respeito à música, cá em Portugal. Eu começo por cantar num grupo de gospel, e depois por causa do gospel, comecei a cantar numa banda de rock, e depois a partir daí comecei a ter muitos convites para fazer outras coisas diferentes, então o que eu sinto é que muita da influência musical que eu tive teve muito que ver com o legado que os meus pais me deram, porque eles ouviam muita música diferente. Depois a nível profissional, desenvolvi-me com as escolhas que eu fui fazendo de abraçar vários géneros musicais. Eu fiz parte do gospel, dessa banda de rock, mas depois tive uma banda de soul, depois fui convidada para fazer parte de uma banda de Afro beat, então quando eu me tornei mais profissional, a nível musical, eu senti a necessidade de ir aprender um pouco mais sobre a música, e é nessa altura que decidi ir para o Hot Club estudar jazz e ter alguma formação musical, que eu achava que fazia sentido que fosse no jazz para que pudesse ser um pouco mais complementar. Eu acho que no fundo, os desafios que me foram sendo sempre colocados, os convites que fui recebendo para fazer parte de uma ou de outra formação, eu fui dizendo sempre que sim, porque eu tinha muito interesse em ter uma formação muito ampla e muito diversificada a nível musical. Mesmo hoje em dia, a solo, a minha música, apesar de ter raízes na instrumentação moçambicana e de cantar em línguas de Moçambique, ela não pode ser rotulada como música tradicional nem como coisa alguma, porque é uma miscelânea de todas essas influências. Eu também sou essa pessoa, que gosta de muitos géneros diferentes de música. Não é um esforço que eu faço para abraçar estes géneros musicais, é quase como se fosse uma necessidade que eu tenho, não só de ouvir, como de fazer coisas em registo muito diferentes, como cantar com o Rodrigo Leão, ou fazer a minha música, ou estar com uma banda de rock, ou fazer um concerto com uma banda de jazz. São coisas que me são fáceis de fazer porque eu tenho essa inclinação para fazer coisas diferentes.

Tendo criado um projeto intitulado Tributo a Nina Simone, sente que esta foi uma grande inspiração para si?

Sim, claro. A Simone é uma das minhas maiores referências. Eu quando estava no Hot Club, nós enquanto alunos eramos desafiados a ter um ensemble, e eu criei durante o tempo em que estava no Hot Club o Selma Uamusse Nu Jazz Ensemble. A minha ideia era fazer um ensemble de jazz, mas com um registo mais soul, e no âmbito desse Selma Uamusse Nu Jazz Ensemble, eu quis fazer, uma vez, uma homenagem à Nina Simone, que era uma artista muito importante, mas aquilo correu tão bem que eu às tantas já não fazia o Selma Uamusse Nu Jazz Ensemble, já só fazia os concertos de tributo à Nina Simone, e ela para mim é uma grande referência por várias razões. Ela vem de um contexto em que, para além de ser uma mulher e de ser uma mulher negra, com a qual obviamente eu diretamente me relaciono, ela é uma pessoa que vem também de uma história de igreja, e eu sou uma pessoa que vem também de um contexto de igreja, mas que depois dentro desse contexto espiritual, faz muita coisas diferentes. Ela vinha de uma escola clássica, mas conseguia abordar um tema com o David Bowie com a mesma facilidade com que cantava uma música dos Beatles, e essa versatilidade dela foi sempre algo que eu busquei nas minhas referências. Além disso, identifico-me muito com as temáticas daquilo que ela durante muito tempo fez, e que tinha que ver com o ativismo social, e a questão da segregação, e da forma tão violenta com que os afroamericanos eram tratados, as questões raciais e de género também. Tudo isto são temáticas que me interessavam. A espiritualidade, o ativismo social, a versatilidade nos registos de música abordados, e então, até pela minha postura em palco, bebo muito dessa postura meio destemida da Nina Simone.

Além de grandes nomes da música, a Selma fez teatro, cinema e esteve envolvida nas artes visuais. Como foi estar por dentro destas experiências e de qual mais gostou?

Eu acho que é sempre muito enriquecedor. Nós quando estamos a estudar, ao longo da nossa vida, temos várias disciplinas. obviamente que há disciplinas para as quais nós nos inclinamos mais do que outras, mas todas elas são complementares, seja matemática, seja física, seja biologia ou português, quando nos estamos a formar há uma altura em que nós temos talvez dez disciplinas diferentes, e para mim o poder trabalhar em teatro, em instalações, tem sido muito complementar àquilo que é o meu trabalho performativo. Trabalhar com cinema ou com teatro aumenta a nossa formação e informação em relação a determinadas áreas, e para mim tem sido um privilégio poder trabalhar com encenadores, com atores, e com pessoas de outras disciplinas dentro da artes. Posso dizer que, se calhar, recentemente eu tenho gostado muito de trabalhar em performance. Trabalhei há pouco tempo com a Grada Kilomba, e eu gosto muito de poder fazer este trabalho performativo, em que a música é muito presente, mas a mensagem, a performance em si são um todo, então é quase como se fossem quadros pintados, cantados, que têm literatura, que têm uma mensagem, e que, mais do que simbólicos e significativos, são fundamentais no tempo em que nós estamos a viver, em que conseguimos as coisas às vezes de uma forma muito rápida, e estes são objetos artísticos que implicam algum tempo para digerir, e implicam sempre alguma reflexão acerca daquilo que se está a passar. A mim interessa-me muito poder participar em trabalhos que nos levem a este lado de reflexão mais profunda, com temas que nos preocupam.

Saindo agora das artes performativas, a Selma lançou o álbum “Mati”, que significa água, e “Liwoningo”, que significa luz. Podemos esperar um terceiro álbum inspirado em algum elemento natural?

Não sei se necessariamente algum elemento, mas acho que faz sentido encerrar um ciclo e eventualmente uma espécie de trilogia. O que eu tento fazer, ou o que eu tenho tentado fazer no meu trabalho a solo e individual, é pensar em referências com as quais eu consigo criar uma ligação com as outras pessoas. Em que a música e o objeto artístico não são apenas sobre mim. Como se eu fosse um vaso que é usado também para fazer coisas com outros através de outras pessoas, e então a água tem esse lado. Para além de espiritual, tem esse lado meio cíclico e de identificação, em que toda a gente de alguma forma se sente impactado pela água. Falo de coisas simples como a chuva, o mar, ou o rio, que é algo que nós conseguimos identificar como algo maior do que nós, e às vezes falta esta ligação a coisas que são maiores do que nós. No caso de Liwoningo, que é luz, também obviamente que há uma conotação espiritual, e não quero parecer exotérica ou mística, mas no sentido muito natural, mas que é tão natural que se torna transcendental. É como quando somos ofuscados por um feixe de luz, que pode ser tão impressionante que nós não conseguimos abrir os olhos, e eu procuro identificar elementos que nos liguem e que nos façam sentir parte de uma só coisa, independentemente da religião, do estatuto social ou da nossa etnia, de entre outros. Para mim a música tem de ter este lado unificador, e é muito nesse sentido que eu procuro essas referências.

Um dos elementos do Coletivo Gira Sol Azul explicou que o próprio conceito do coletivo é convidar um artista de renome para atuar no Que Jazz É Este, e que nesta edição tinham a ambição de convidar alguém que trouxesse uma sonoridade mais africana. Como vê esta oportunidade de atuar com o Coletivo Gira Sol Azul e de trazer uma sonoridade diferente para uma cidade como Viseu?

Eu gosto muito de fazer colaborações, mas no que diz respeito à minha música a solo, às vezes talvez seja um pouco protetora, então sempre que a apresento, tenho tendência a apresentá-la com os meus músicos, com a minha equipa e acrescentamos outras pessoas. Este é um desafio diferente e, portanto, para mim é muito desafiante, acho que vai ser a primeira vez em que eu vou fazer um concerto inteiro, das minhas músicas, com uma formação completamente diferente a abordá-la. Esse desconforto é tão assustador como desafiante, e ao mesmo tempo entusiasmante. Agora, passado algum tempo, se calhar por já me sentir um pouco mais segura em relação ao meu repertório, estou na realidade muito curiosa para saber como é que outras pessoas interpretam aquilo que é a visão da minha música, sendo que eu posso ser protagonista também dessa reinterpretação. Em relação a este processo, estou muito entusiasmada, estou muito curiosa para saber como é que outras pessoas ouvem a minha música. Quando uma pessoa faz um disco, pensa no que é que importa, no que é que não importa, que sons é que eu gostava que se ouvissem, e perceber que sons é que as pessoas realmente ouvem, além daqueles que são mais óbvios. Em relação a esta parceria, estou muito entusiasmada, e estou obviamente muito honrada e muito contente por poder fazer parte desta festa.
Já estive em Viseu com algumas formações, desde o gospel ao rock. Já estive algumas vezes em Viseu e tenho amigos de Viseu, ou pelo menos dessa região, e acho realmente que é deveras importante poder trazer um bocadinho mais de globalidade a locais que estão um pouco mais longe das metrópoles, que estão cheias de diversidade. Poder levar um pouco daquilo que é a minha diversidade será sempre um motivo de muita alegria, e a música une-nos. Acho que as pessoas ou gostam ou não gostam, mas não ficam indiferentes, então acho que é também um ato de ousadia por parte da organização, poder fazer algo de diferente, e eu alegro-me e fico muito feliz por poder fazer parte dessa abertura a outras sonoridades e acho que quando conhecemos coisas novas e diferentes mudamos sempre a perspetiva de como vemos o outro, e acho que isso é muito importante.

Pensa que festivais como este, e tomando como caso o Que Jazz É Este, inserido numa região demarcada dos principais polos como Lisboa e Porto, e mais ligados a música contemporânea, fazem falta no panorama nacional?

Claro que sim. As pessoas só mostram o seu agrado ou desagrado face àquilo que conseguem aceder, e acho que é muito importante esta questão do acesso, e as pessoas só podem ter acesso se houver oportunidade de haver programações que permitam ouvir mais do que música mais comercial e música pop. Não tenho nada contra, mas muitas vezes aquilo que nós consumimos é apenas o reflexo daquilo que nos é dado. Se nos forem dadas mais coisas para comer, o nosso palato aumenta, a nossa mente também aumenta, então acho que poder ter um buffet em vez de ter um prato do dia [risos] é uma missão que as instituições culturais e os programadores têm, de grande responsabilidade, porque fazem com que as cidades e nomeadamente o país, possam crescer de uma forma mais intencional e mais aberta.

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