Halloween
gala associaçao futebol
bispos
Casas Bairro Municipal Viseu 3
casa-habitacao-chave-na-mao - 1024x1024
herdade santiago

No coração do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, há…

21.08.25

Reza a lenda que foi um árabe, há mais de mil anos,…

14.08.25

Seguimos caminho por Guimarães, berço de Portugal e guardiã de memórias antigas….

07.08.25
jose-damiao-tarouca-232
ps campanha
camapnha10
vila nova tazem vinho uvas
Oliveiras - Quinta do Malhô
Tony-Carreirajpg
Home » Notícias » Colunistas » 16 de Maio de 1985 (continuação VII)

16 de Maio de 1985 (continuação VII)

 16 de Maio de 1985 (continuação VII)
23.09.23
partilhar
 16 de Maio de 1985 (continuação VII)

Apanhámos um elétrico para a Baixa. E fomos comer. No fim, e como a noite já caíra, fomos a pé, pela rua Augusta, até ao Terreiro do Paço olhar o rio, uma massa líquida que estagnava escura junto ao Cais das Colunas. Voltámos para trás, entrámos noutro elétrico e fomos para ao lados do Largo do Rato à procura de um bar. Entrámos num dos primeiros, ainda com pouca gente e pedimos umas cervejas. Fomos bebendo e conversando, sobre livros e autores brasileiros, sobre música e sobre nós. Aos poucos, o bar foi-se enchendo, o som da música e das conversas transformou-se num ruído de fundo e decidimos ir embora. Chegámos ao quarto ainda cedo, antes das 11 horas. Deitámo-nos. E eu pedi-lhe que lesse mais alguns poemas do seu poeta preferido. Não se fez rogada e foi com visível prazer que ora ela, ora eu, ou a duas vozes, fomos lendo alguns textos do Carlos Drummond de Andrade. Por fim, ela não leu, disse de cor o poema seguinte:

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim…
E no seguinte
Como sabê-lo?

O poema tinha um recado. Entendi. E chorei por dentro a impossibilidade de lhe corresponder ao pedido. Porque o meu amor por ela era incompleto. Faltava-lhe o lastro da memória, a cruz das longas ausências, a escadaria dos anos de persistência, a peregrinação da melancolia, a compreensão ontológica que eu e a Fátima tínhamos harmonizado ao longo do tempo. Amava a jovem do castelo aqui e agora. Mas amanhã, já não. Como amei a Laura da adolescência, mas agora não.

 16 de Maio de 1985 (continuação VII)

Jornal do Centro

pub
 16 de Maio de 1985 (continuação VII)

Colunistas

Procurar