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A Extrema-Direita e o Medo da Cultura

 A Extrema-Direita e o Medo da Cultura - Jornal do Centro
27.06.25
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 A Extrema-Direita e o Medo da Cultura - Jornal do Centro

por
Laura Isabel B. Nunes

“Todo o complexo que inclui o conhecimento, a crença, a arte, a moral, a lei, o costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo ser humano como membro da sociedade”. Foi assim que Edward B. Tylor, em 1871, procurou traduzir o conceito de cultura na sua obra “Primitive Culture”.

A cultura são várias componentes ativas e ao compreendê-la como um tecido que se serve de pulsação própria, que é partilhada e é aprendida, é importante perceber que este fenómeno humano, está totalmente ligada à construção da identidade, tanto a que carregamos no íntimo, como a que nos une enquanto comunidade.

Por uma finalista do curso de Comunicação Social,

Neste entrelaçar de saberes e vozes, o jornalismo costura histórias, rasga a falta da palavra difusa e ajuda a cultura a ter batimento cardíaco. Ainda assim, é também a presença para muitos é incómoda, para quem teme o pluralismo que a cultura oferece. 

George Orwell, na sua obra futurística 1984, falava de uma “novilíngua” que reduzia a linguagem ao mínimo para evitar pensamento, e consequentemente evitar resistência num mundo distópico como de Orwell. E se é verdade que precisamos de palavras para dar significado ao que nos rodeia,a cultura torna-se, assim, uma manifestação prática do que a complexidade da linguagem e das suas ações nos dá. Um vocabulário vivo que alarga o mundo em vez de o encolher.

Em Portugal e no mundo, a extrema-direita investe contra tudo o que ferve liberdade, seja através da diminuição deartistas, líderes espirituais, voluntários, jornalistas. Porque sabem que onde há pluralidade, há pensamento. E se há pensamento há contradição.

Por exemplo, no dia 10 de junho de 2025, dia de Portugal, Lisboa, viu o teatro A Barraca ser atacado. O ator Adérito Lopes, foi agredido por um grupo de extrema direita com cerca de trinta pessoas. Com autocolantes mal escritos que clamavam por um “Portugal aos `portuguezes´” “Defende o teu sangue”, tentaram silenciar mais do que um homem: quiseram calar uma ideia. A ministra da Cultura, Juventude e Desporto Margarida Balseiro Lopes, chamou-lhe “um atentado contra a liberdade de expressão”. Mas é mais que isso. É uma ferida aberta no tecido da convivência. É uma tentativa de amputar aquilo que Tylor nomeou como o “todo complexo” da experiência humana.

No mesmo dia, noutra latitude da mesma ação, David Munir, imã da Mesquita Central de Lisboa, foi alvo de insultos racistas numa cerimónia inter-religiosa católica e islâmica. Um local onde se deveria cruzar diálogo e acolhimento,tornou-se afronta para aqueles que só sabem existir na homogeneidade. 

No Porto, duas voluntárias que distribuíam comida a pessoas sem-abrigo, muitos deles imigrantes, foram empurradas e insultadas por dois homens neonazis, simpatizantes do partido Chega. Gritaram que este tipo de voluntariado “atrai mais imigrantes”, enquanto faziam saudações nazis.

Também em março deste ano, em Esquivias, na província de Toledo em Espanha, uma mesquita foi profanada com suásticas e frases como “Iros a vuestro puto país” (“Voltem para o vosso país de merda”). (sic)

O discurso de ódio é uma linguagem internacional e o objetivo é apagar o outro. Riscar do mapa tudo o que não se encaixa na visão de um mundo fechado, branco, masculino, duro. Um mundo sem cor, sem mistura, sem alma.

O jornalismo, nesta linha fina que deve costurar os factos à verdade, também está na mira. 

Como relatou Vânia Maia ao Instituto Internacional de Imprensa no artigo “Portugal’s media sector struggles”, os profissionais da informação em Portugal, enfrentam um cenário para além de “financeiramente devastado” como também “enfrentam uma retórica anti imprensa crescente”.

O partido de extrema direita, o Chega, que se alimenta do ruído e da indignação, alimenta também o desprezo pelo trabalho jornalístico. Pedro Coelho, da SIC, que ousou investigar a teia da extrema-direita, passou a ser alvo de ameaças e perseguição digital desde 2020. Em 2024, dois dirigentes do Chega foram formalmente acusados de ameaçá-lo, um deles com posse ilegal de arma.

Outro jornalista, do Expresso, foi expulso à força de um comício de André Ventura, que já havia classificado a imprensa como “inimiga do povo”. 

Amanda Lima de origem brasileira, que é editora-chefe da edição do Brasil do Diário de Notícias e comentarista da CNN Portugal, tem enfrentado campanhas de ódio misógino e xenófobo há mais de um ano, através de assédio online, vídeos manipulados, caricaturas, ou seja, tentativas de a silenciar.

Pois bem, todos estes fenómenos ligam-nos novamente a 1984, quando Orwell escreveu que os regimes autoritários não temem apenas armas. Temem memória, temem arte, temem linguagem. Temem tudo o que escapa ao controlo. Hoje, os alvos assemelham-se a teatros, mesquitas, centros de acolhimento e redações. Lugares onde o humano insiste em respirar.

A cultura é o excesso, no melhor dos sentidos. Por isso, é que ideias e regimes extremos não querem só impor a sua verdade, como também querem impedir que outras verdades existam.

E enquanto escrevo, penso no que Adérito Lopes deve ter sentido ao ser rodeado por 30 pessoas cegas pelo ódio. Penso nas voluntárias do Porto, que só queriam oferecer um prato quente. Penso em David Munir, que enfrenta insultos por liderar uma comunidade de fé que não a católica. Penso nos moradores de Esquivias, que viram sua mesquita profanada. 

E penso, acima de tudo em nós, estudantes de Comunicação Social, que não devemos ser espectadores distantes mesmo quando os tempos são difíceis. Vânia Maia refere no seu artigo ao Instituto Internacional de Imprensa, que “a fragilidade mais significativa da mídia portuguesa reside na sua fragilidade econômica” com o “declínio do jornalismo local, a falta de financiamento das emissoras públicas e na luta pela sobrevivência do jornalismo investigativo.”

Devemos querer ser parte deste espelho que é o jornalismo, mesmo com o futuro incerto que nos dá. Porque enquanto houver quem conte, quem escute, quem acolha, quem denuncie, haverá cultura. E onde há cultura, há o nervo que ferve. Há futuro!

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