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Jorge Marques
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Magda Matos
Sala cheia para receber um livro que muitos adeptos do Académico aguardavam há algum tempo. A obra “Académico de Viseu Futebol Clube, 110 Anos, 110 Histórias” foi apresentada esta quarta-feira, 27 de novembro, na FNAC do Palácio do Gelo e contou com vários antigos jogadores do clube e adeptos academistas. A obra é assinada pelo jornalista Rui Miguel Tovar e contou com a co-autoria de José Carlos Ferreira, João Monteiro e João Nunes, os “três jotas” como lhe chamou o autor.
Na sessão para além do treinador da equipa principal, Rui Ferreira e do capitão, André Almeida, esteve o presidente do clube e da SAD, Mariano Lopez. O dirigente justificou o nascimento deste livro com uma lacuna que sentiu à medida que foi ouvindo jogadores, treinadores e funcionários do clube: faltava documentar a história do Académico de Viseu. “Quando cheguei ao Académico de Viseu, em 2021, todos falavam de memórias do Académico. Todos tinham uma história para contar: jogadores, diretores, massagistas… Mas nunca havia nada documentado sobre a história do clube. Depois da camisola dos 110 anos, da gala e do início do museu, surgiu a ideia do livro. Fiquei impressionado com a quantidade de histórias”, disse o presidente academista.
O autor do livro, Rui Miguel Tovar considerou que a apresentação do livro é “um evento histórico do Académico”. O jornalista diz que o livro nasceu de “boas vibrações” entre ele e os co-autores. “Percebi que havia uma vontade gigante de colocar todo o trabalho de pesquisa, do site A Magia do Futebol, em livro. Escrevi vários livros, mas nunca tive uma ajuda tão frenética, empolgante e imediato como este”, sublinhou Rui Miguel Tovar. O jornalista lembrou que o pai, o também jornalista Rui Tovar, já falecido, fez tropa em Viseu no Regimento de Infantaria 14. “Há todo um histórico do clube que eu desconhecia e se não fossem estas três pessoas [co-autores] eu nunca chegaria lá. Conseguir a lista dos 110 jogos foi a primeira missão e a segunda foi ter uma base de dados para sustentar esses 110 jogos. Enviava mail para cada um deles [co-autores] sobre jogo x em 1924 ou jogo y em 1982 e a resposta vinha sempre em menos de meia-hora”, detalha.
Das histórias que davam outro livro até ao relato de um goleador
Referindo-se a José Carlos Ferreira, João Monteiro e João Nunes, Tovar disse que os três “fizeram a jogada toda, fintaram o guarda-redes, deram-me a bola e eu concluí”. “Tinham vários jornais. Havia jogos com apenas um recorte, mas a maioria dos jogos tinha dois, três, quatro recortes com crónicas do jogo. E isso é um valor acrescentado para qualquer livro”, elogiou o autor do livro que celebra 110 anos do Académico de Viseu.
Sem se aperceber de que o antigo jogador do Académico de Viseu João Pereira estava na plateia, Rui Miguel Tovar referiu-se à conversa com o atleta que intitulou de “goleador”, como “estimulante”. João Pereira saudou o autor e agradeceu a referência. “Falava dos golos e dos jogos e eu ia verificando que tudo batia certo através do telemóvel. Já com 90 anos e sempre a rir, bem-disposto… A contar momentos bons e momentos maus. Contou-me a história de ter falhado dois penáltis no mesmo jogo diante do Gouveia frente a frente com um guarda-redes que não era guarda-redes, mas jogador de campo. É bom estar com pessoas jovens, desse calibre”, descreveu. Rui Miguel Tovar referiu-se ainda a Idalino de Almeida, como a “entrevista mais demorada. “As histórias que ele tinha para contar dava para um livro só dele. Então aquela liguilha dava um livro poderoso”, afirmou Tovar que ainda ouviu Eduardito e João Basto. “São pessoas que deixam marca”, resumiu o autor.
Leitor do blogue sugeriu um livro, ideia ficou e objetivo cumpriu-se
José Carlos Ferreira lembrou o nascimento do blogue “A Magia do Futebol” em 2016. “O objetivo inicial era falar do Académico de Viseu numa altura em que a presença do clube era nula ou quase nula na internet. Havia um grande boom de blogues onde ia buscar muita informação”, frisou, explicando que conseguiu mais dados em jornais antigos que consultou na Hemeroteca, em Lisboa. O co-autor de “Académico de Viseu Futebol Clube – 110 anos” assumiu, emocionado, que editar um livro como este “é o sonho de uma vida”. “Houve um comentário no blogue que perguntava ‘para quando um livro?’. E a ideia ficou e passou a ser um objetivo de vida. Surgiu a oportunidade e este é um dia muito feliz. Só comparo isto ao nascimento de um filho. É uma felicidade imensa, só eu mesmo sei o que estou a sentir”, enalteceu.
Também João Monteiro estava emocionado com a edição do livro comemorativo da história do Académico de Viseu. “Estou apaixonado por este dia”, resumiu. O fundador do blogue “A Magia do Futebol” foi convidado a lembrar o dia em que correu com o treinador Luís Almeida, depois de uma subida de divisão. “Já lá vão 15 anos. Foi a 6 de junho de 2009. Estávamos na Terceira Divisão. Era uma realidade diferente, mas não menos bela. Tentávamos subir para a Segunda B e tínhamos de vencer o Anadia por dois golos de diferença. O Fontelo estava com três mil adeptos. Antes desse jogo houve casas de 50 adeptos. É verdade: 50 adeptos. Foi uma tarde mágica. Ao intervalo estava 0-0. A abrir a segunda parte o Luís Costa faz um golaço e fazemos 1-0. O Anadia carregava, enviou uma bola ao ferro, o Augusto, o guarda-redes com mais jogos ao serviço do nosso clube, faz inúmeras defesas e mantém o 1-0. Até que o Rui Santos faz um golo do outro mundo e foi o êxtase total. Mal terminou o jogo, alguém abriu as portas do relvado e tive de ir lá para dentro. E quando dou por mim vejo o mister Luís Almeida com uma bandeira. Só lá ia felicitá-lo e quando dei por mim estávamos a dar a volta ao relvado. Foi um momento de loucura”, descreveu.
“É melhor o Académico a lutar por subir na Segunda do que ver o clube lutar para o pontinho na Primeira”
João Nunes, referindo-se a uma declaração de Rui Tovar numa entrevista recente em que o jornalista afirma que prefere hoje ver um jogo do campeonato Inatel do que ver um jogo do Benfica, Porto ou Sporting, acrescentou ser academista desde que se conhece. “O slogan da Magia do futebol é seja na distrital ou na Liga dos Campeões este clube representa para nós a magia do futebol. Se calhar não vão gostar de ouvir isto, mas eu prefiro ver o Académico de Viseu a jogar pela subida ou pelos lugares cimeiros ou mesmo na distrital, do que ver o Académico numa Primeira Liga a jogar para o ponto e para não descer”, defendeu.
Rui Tovar aproveitou a deixa para defender que “a magia do futebol não é estar sempre lá em cima”. “O Académico de Viseu é um dos clubes que raramente foram bafejados pela sorte e que, de repente viveram aquele ponto histórico: subiram de divisão. É engraçado. E são esses clubes que me fazem bem à cabeça”, clarificou.