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Ainda não viram nada

 Ainda não viram nada - Jornal do Centro
29.05.25
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 Ainda não viram nada - Jornal do Centro

por
José Carreira

Não imaginei o Chega a conquistar mais 175 mil votos, um ano depois de ter conseguido sentar na Assembleia da República 50 deputados. A minha convicção sustentava-se nas tristes figuras que o grupo parlamentar, liderado pelo homem providencial, exibiu ao país. Nem o desconhecimento de quem eram os candidatos a deputados, a trapalhada das malas ou o envolvimento na prostituição de menores demoveu o eleitorado. Em muitas conversas senti o pulsar do ressentimento, descontentamento, desenraizamento. Os sinais evidentes do deslaçamento social, não foram suficientes para, contrariamente a muitos oráculos do caos, imaginar a subida vertiginosa de um partido populista de extrema direita. Estou a tentar digerir que mais portugueses validem um homem que se diz enviado de Deus e que segue a cartilha de Trump, Orban, Meloni, Le Pen, Alice Weidel… De tudo o que disse André Ventura, na noite das eleições, destaco a vontade de acertar as contas com o passado e a afirmação de ainda não termos visto nada no que toca à agressividade do discurso. Tudo o que vi, do Chega, chega e sobra. Não quero ver mais nada. Procuro não confundir os eleitores do Chega com os seus representantes, arautos da verdade única e convencidos de pertencerem a uma casta superior, pura e impoluta. Nos últimos dias ouvir Rita Matias, Pedro Frazão ou Pedro Pinto, nos debates televisivos, deixa claro o posicionamento de guerrilha constante, agressão e desrespeito pelos adversários, ataque aos órgãos de comunicação social, propagação do ódio, desrespeito pelas instituições democráticas. O populismo, a demagogia e a gritaria ganham terreno à ideologia e à democracia. Se os partidos, tradicionalmente do arco da governação, insistirem nos jogos palacianos, na aposta em putativos talentos, sem carreira profissional ou obra para apresentar, a extrema direita continuará a florescer. 

É preciso furar a bolha, olhar para os invisíveis, respeitá-los, devolver-lhes a esperança e apostar em novas políticas públicas, dignas e ajustadas aos contextos em que vivemos. A classe média, trabalhadora, foi esmagada e as suas expectativas corroídas. São muitos os que trabalham e não conseguem pagar uma renda de casa. O contingente de pessoas que vivem no limiar da pobreza é uma vergonha nacional. Quem consegue ter um filho a estudar no ensino superior em cidades como Lisboa, Porto ou Braga? Os que ainda conseguem apostar na formação dos filhos, assistem à sua inexorável partida, engrossando o contingente da emigração. Se assim não for, os jovens arriscam-se a viver pior do que os pais. Num país duplamente envelhecido, temos poucos filhos e vivemos cada vez mais anos a precisar de mais cuidados de saúde e apoio social, precisamos de captar imigrantes. A imigração tem sido instrumentalizada, à esquerda, à direita e pela comunicação social, numa espécie de música para os ouvidos de quem surfa a onda do populismo e antipartidarismo. Não posso deixar de sublinhar, como negativo, o claro desequilíbrio de peças jornalísticas, difundidas uma e outra vez, que reforçam estereótipos e preconceitos em relação aos imigrantes. Há jornalistas que só visibilizam os aspetos negativos de algumas comunidades minoritárias, não se coibindo de propagar o alarme social. A putativa extorsão de imigrantes por dois militares da GNR não mereceu mais do que uma nota de rodapé. O que dizer dos migrantes a dormir ao relento para obterem um registo criminal? Assistimos, diariamente, à estigmatização da imigração, um bode expiatório conveniente. A solução não deve passar pela repressão, mas pela integração. A exclusão dos mais frágeis deve dar lugar à luta pela equidade. Não há uma política para os territórios e populações do interior. De vez em quando, lá surge uma proposta sofrível que nada resolve. Estamos cada vez mais isolados, sem perspetivas de futuro, num limbo de portugalidade de segunda. 

Dito isto, muito foi feito nos 50 anos da democracia portuguesa. Nem tudo foi perfeito, há muita margem para a melhoria. Contudo, não nos deixemos capturar na armadilha dos 50 anos de desgraça, corrupção e bandalheira! 

Votar no Chega destrói a democracia. A via alternativa, à crescente hegemonia da direita radical em Portugal, é a valorização da seriedade e a devolução da esperança às pessoas. 

Estou alarmado, mas não derrotado. Despertemos desta anestesia e combatamos a indiferença. Fechemos as portas ao neofascismo que leva, na Turquia, à detenção dos adversários políticos de Erdogan, na Itália à devolução dos refugiados ao mar, nos Estados Unidos a deportações em massa, incumprindo a lei. 

Andou bem Luís Montenegro ao não abdicar e repetir o “não é não”, uma linha vermelha que separa a civilização da barbárie. Se, na anterior legislatura, escolhesse o caminho mais fácil, aproximar-se do Chega, teria recebido o abraço do urso. Muito provavelmente, o PSD estaria no buraco em que caiu o PS ou noutro ainda mais fundo e escuro. Os discursos providenciais podem ser encantatórios, as consequências são devastadoras. Ainda há tempo para travar esta deriva populista, extremista, racista, xenófoba e antissistema. Adivinham-se tempos duros que exigirão o melhor de todos os democratas. 

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