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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Jorge Marques
José Barros deixou, em 2006, a ilha de São Vicente, em Cabo Verde, para estudar em Viseu. Na altura tinha 18 anos. Há 16 que criou raízes na cidade de Viriato.
Durante três anos frequentou um curso de eletrónica, automação e computação na Escola Profissional Mariana Seixas. Fez um estágio numa loja e durante seis anos trabalhou num estabelecimento comercial que vende mobiliário. Ao mesmo tempo dedicou-se ao desporto.
Pouco tempo depois de ter chegado, começou a jogar Basquetebol, no Gumirães, onde esteve uma época. Mas, na temporada seguinte mudou de modalidade. Passou a jogar futebol. O Parada de Ester, em Castro Daire, foi o primeiro clube que representou. Esteve ainda no Lusitano, Sernancelhe e Viseu e Benfica, onde acabou a carreira de futebolista, na altura para abraçar a profissão de dj.
A noite era incompatível com a bola e com o trabalho na loja onde estava empregado e, por isso, arrumou as chuteiras.
José Barros, também conhecido pelo nome de JayBee, começou a passar som uns cinco anos após a chegada a Portugal. A carreira na música arrancou nas festas da comunidade africana em Viseu. A partir daí nunca mais largou a mesa de mistura. Já atuou em todo o país e até no estrangeiro. Trabalhou sempre como freelancer.
Há uns quatro anos começou também a cortar cabelo. José já gostava do mundo das barbearias, mas como “tinha muito para fazer” nunca se decidiu à área.
Quando deixou a bola e o emprego na loja, e depois de desafiado, acabou por se aventurar com a tesoura, navalha e máquina de cortar cabelo. Começou a cortar em casa, numa varanda, a amigos, e depois fez um curso de um ano do Instituto de Emprego e Formação Profissional. De lá para cá não tem parado de fazer formações porque quer “estar sempre atualizado”.
“Tento trazer sempre as novidades. Viseu é uma cidade que está a evoluir e, então, quem estiver na crista da onda é que se vai safar”, diz com um sorriso.
Há três anos e meio, com um amigo, José abriu uma barbearia na zona da Quinta do Galo, em Viseu. Com a pandemia perdeu o sócio, mas não fechou o negócio. Com ele trabalham duas pessoas.
“Tem corrido bem graças a deus. Com a Covid até trememos, o Estado não ajudou em nada, não deu um cêntimo para estarmos fechados. Não recebi nada. É isto que nos tem posto à prova”, diz, salientando que o que o tem ajudado são os conhecimentos que tem e a aposta que faz nas redes sociais. “É de lá que vem a maioria dos meus clientes”, aponta.
O facto de cuidar do cabelo de jogadores de futebol, nomeadamente do CD Tondela, também tem ajudado o seu negócio a florir. Já cortou o cabelo a vários atletas, entre eles Jaquité, Salvador Agra, Moufi ou Murilo.
“Não sei dizer quantos cortes de cabelo já fiz”, refere, entre risos, acrescentando que em média atende umas 20 pessoas por dia.
José Barros não se arrepende de ter deixado Cabo Verde. Diz que hoje é “metade cabo-verdiano e metade serrano”.
“Viseu deu-me tudo. Tenho irmãos na Holanda e Luxemburgo, sempre quiseram que fosse para lá. Quando terminei o curso era para ir para o Luxemburgo, mas depois desisti logo da ideia”, conta.
“Seu sempre tive bem cá, ao nível da qualidade de vida não consigo encontrar nada parecido. Esta é a cidade dos cinco minutos, em cinco minutos estás em qualquer lado. Tens bons acessos para ir para outros locais do país, então acho que nunca senti a necessidade de sair do país”, explica.
Em Viseu destaca não só a qualidade de vida, como “a excelente restauração” existente na cidade.
Critica as rendas das casas que estão a aumentar e não esconde que já sentou algum preconceito por ser de origem africana.
“A única coisa que podia dizer que me metia mais confusão antes era a mentalidade. Não digo que é racismo, mas é um preconceito por causa da cor da pele. Até para arranjar trabalho senti dificuldades”, revela, salientando que atualmente já não sente isso.
“Hoje em dia acho que já não há tanto. Tive amigos em meios mais pequenos que passaram mal. A adaptação correu bem, se não tinha feito como muitos colegas que foram para Lisboa. Nunca senti necessidade de ir. Levo a vida de emigrante. Trabalho muitas horas, mas nunca tive dificuldades”, refere.
Não se vê a voltar a Cabo Verde. Diz que a sua vida agora passa por Viseu e já tem planos para expandir o negócio da barbearia. Está a pensar em abrir um espaço na cidade mais alta.
“Na Guarda há muita gente e poucas barbearias, ao contrário de Viseu que tem uma barbearia em qualquer esquina”, remata.