Em um dia e meio, 30 oradores deixaram o seu testemunho e…
A magia do desconhecido… chega à Ourivesaria Pereirinha. A Monseo Jewels, marca…
por
Marco Ramos
por
Pedro Escada
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
A Região Demarcada do Douro vai transformar um total de 90 mil pipas de mosto em vinho do Porto nesta vindima, menos 14 mil do que no ano anterior, decidiu esta quinta-feira (25 de julho) o conselho interprofissional da região.
O benefício de 90 mil pipas (550 litros cada) de mosto para produção de vinho do Porto foi o principal resultado do comunicado de vindima aprovado hoje pelo conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), que esteve reunido no Peso da Régua, distrito de Vila Real.
“Após a análise das propostas apresentadas pela produção e pelo comércio, foi votada, por maioria, a proposta de 90 mil pipas de mosto a beneficiar durante o ano. Esta proposta resultou de uma tentativa de aproximação que, no final, não coincidiu com as propostas das duas profissões. Houve necessidade de ajuste dos valores iniciais [para] tentar minimizar o prejuízo dos agricultores num ano muito difícil”, afirmou o presidente do IVDP, Gilberto Igrejas.
A quantidade de vinho do Porto que irá resultar da próxima vindima sofre um decréscimo de 14 mil pipas relativamente a 2023, ano que o designado benefício foi fixado nas 104 mil pipas.
Para a negociação, a produção propôs 99 mil pipas de mosto, enquanto o comércio apresentou uma proposta de 81 mil pipas, menos 23 mil face a 2023 e menos 35 mil do que em 2022.
“Aquilo [que se decidiu] hoje foi, de alguma maneira, uma tentativa de aproximação que não coincidiu com os desejos da produção e do comércio. Portanto, foi o valor possível daquilo que foi a melhor aproximação”, reiterou Gilberto Igrejas.
O benefício é a quantidade de mosto que cada viticultor pode destinar à produção de vinho do Porto e é uma importante fonte de receita dos produtores do Douro.
O valor resulta da análise multidisciplinar de vários cenários, como as vendas, os ‘stocks’ das empresas ou a colheita prevista, que, de acordo com a Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID), estará em linha com a previsão do potencial de colheita de 2023 na próxima vindima, num intervalo estimado entre as 232 mil e as 264 mil pipas.
A juntar a estes fatores, Gilberto Igrejas alertou para a redução do consumo de vinho a nível mundial, o que tem “uma repercussão direta nas exportações”, a par de “uma campanha anti-álcool que se tem centrado no vinho” e que acarreta prejuízos, em particular, para a Região Demarcada do Douro.
Para além do presidente do IVDP, que representa o Estado, o conselho interprofissional é composto pelos dois vice-presidentes e representantes da produção e do comércio distribuídos pelas duas secções especializadas (Porto e Douro).
No final da reunião, o vice-presidente indicado pelo comércio, António Filipe, lamentou o facto de não ter havido um acordo entre as profissões.
“O valor que tínhamos proposto de 85 mil pipas resultou da ponderação do cenário macroeconómico, das tendências do mercado, presentes e futuras, também da quantidade de ‘stocks’ que o comércio tem, mas sobretudo, das intenções de compra dos nossos associados e que apontam para uma redução relevante relativamente ao ano anterior”, explicou.
Ainda assim, o comércio disse aceitar o resultado do conselho interprofissional, assegurando que irá lutar para “encontrar maneiras de tentar ultrapassar esta situação que é manifestamente muito difícil, em particular para os agricultores da Região Demarcada do Douro”.
O também vice-presidente Rui Paredes, indicado pela produção, afirmou que o valor do benefício é “duro” e poderá ser insuportável para os produtores durienses, que têm enfrentado uma perda de rendimento progressiva.
“Os viticultores não conseguem suportar a manutenção de um preço desde 2020 [mil euros por pipa]. Há uma perda de centenas de milhões de euros durante os últimos 23 anos e, por isso, a produção decidiu chegar às 90 mil pipas. É aquilo que é possível, sabemos que corremos sempre um risco, porque não há um regulador no mercado”, vincou.
A situação tem preocupado viticultores que já anunciaram uma manifestação para 7 de agosto e que se queixam de cortes no rendimento e no benefício de vinho do Porto, além da impossibilidade de escoar as uvas. Também no final da semana passada, o presidente da Câmara de São João da Pesqueira, Manuel Cordeiro, alertou para a “indiferença” dos governos com a região do Douro.
O autarca que lidera um dos concelhos mais destacados na produção de vinho do Douro também acusou o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto de ser inoperacional e mostrou receio de que a esperança dos produtores se transforme em revolta e para “cenários de descontrole que ninguém pretende”.