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“É por amor à camisola”: bombos da Folgosa mantêm viva uma herança de 50 anos

Criado há meio século, o grupo de Zés Pereira Aikdoy mantém-se ativo com a participação de crianças, jovens e adultos ligados por laços familiares e pela tradição

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 “É por amor à camisola”: bombos da Folgosa mantêm viva uma herança de 50 anos - Jornal do Centro
13.06.25
fotografia: Aikdoy
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 “É por amor à camisola”: bombos da Folgosa mantêm viva uma herança de 50 anos - Jornal do Centro
13.06.25
Fotografia: Aikdoy
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 “É por amor à camisola”: bombos da Folgosa mantêm viva uma herança de 50 anos - Jornal do Centro

Há uma década que João Mota, de 20 anos, pertence ao grupo Zés Pereira Aikdoy da Folgosa da Madalena, em Seia. Apesar da idade, o jovem tem um percurso marcado pela ligação familiar e pela continuidade de uma tradição que começou muito antes dele.

“O grupo já existia na altura do meu pai. O meu pai e o meu avô andaram lá e o meu avô sempre fez parte daquilo”, conta. “O meu avô tocava acordeão, o meu pai depois entrou para a caixa.” A sua entrada no grupo aconteceu por influência de um primo, durante uma das festas da terra: “Disse-me para experimentar. Eu era pequeno, sempre com medo, mas fui e acabei por gostar”.

O grupo de bombos pertence à Associação de Cultura, Recreio, Instrução e Desporto (ACRID) da Folgosa. João Mota destaca a presença de muitos jovens na associação e o espírito familiar que ali se vive: “É um grupo familiar. Os pais andam e os filhos também acabam por ir. Já fomos mais e não quer dizer que tenham saído, mas há membros que não costumam ir muito regularmente”.

Segundo João, o grupo conta com cerca de 30 elementos, embora nem sempre todos participem nas atuações: “Normalmente vamos entre os 15 a 20”.

A atividade do grupo desenrola-se em várias frentes. “Temos as duas modalidades. Temos festas, por exemplo, da própria terra, da Folgosa, em que os bombos acabam por estar envolvidos não só na parte da organização como na parte da música”. 

Paralelamente, o grupo é também convidado a participar noutros eventos, como encontros de bombos. “Houve um deles aqui em Viseu, na Feira de São Mateus, em que o grupo de bombos das Cavalhadas de Vildemoinhos nos convidou, no ano passado. Depois nós fizemos intercâmbio e no aniversário da nossa associação eles foram lá”.

A maioria das atuações decorre na zona centro do país, embora também tenham estado em Viana do Castelo, o local mais distante onde atuaram.

A presença nos eventos depende da disponibilidade dos membros. O jovem entrevistado, sempre que pode, marca presença. Como conta, “além do convívio, às vezes conhecemos sítios que não pensamos conhecer. Mais do que todo o suor que passamos e algumas dores nas mãos, o convívio é muito bom. Acho que essa é a parte mais importante daquilo”.

A tradição dos bombos, segundo João Mota, está enraizada na cultura local e nacional: “como é uma tradição tão portuguesa, acho que é como aqueles grupos de concertinas. Como é ali da terra, como é algo nosso, e como há às vezes aqueles despiques de ‘a tua terra tem, a minha também tem que ter’, formam-se grupos de bombos, porque é assim que tudo começa”.

O jovem recorda os tempos em que “o meu avô, na altura, pegava nos amigos e no meu tio, juntavam a malta numa carrinha de caixa aberta e iam de terra em terra. Sabiam que havia festa e eles iam”. 

João Mota reconhece ainda que a atividade tem um impacto na forma como são vistos. “Quer queiramos ou não, aquilo traz alguma visibilidade. Uma pessoa vai na rua e dizem ‘tu tocas naqueles bombos’, ‘tu és fixe’”, reflete.

Apesar da exigência física – “eu toco caixa e saio de lá com os braços a doer, borrachas nas mãos, há gente a fazer sangue, temos que andar sempre com pensos e ligaduras, e depois há as costas porque aquilo não é leve” -, João destaca o compromisso dos membros, mesmo sem retorno financeiro.

“Aquilo é mesmo por amor à camisola porque nenhum de nós recebe nada”, refere João Mota. Os apoios recebidos revertem para a manutenção do grupo: “o grupo paga uma atuação, às vezes dão-nos o lanche, mas o dinheiro vai para a associação e para os bombos, para o gasto de camisolas, também temos os patrocínios”.

O jovem reflete que a natureza voluntária da participação acaba por afetar a regularidade de alguns elementos: “por isso é que às vezes há pouca gente a ir, ou não há aquela fidelização, não há aquela obrigatoriedade. Mas eu acho que tem que ser assim, porque para um grupo destes se manter não pode haver aquele interesse de receber dinheiro”.

A associação foi fundada em 1981, mas os bombos existem “há mais de 50 anos. Tudo começou numa garagem”. João Mota recorda a mudança nas vestes ao longo do tempo: “No tempo em que o meu pai lá andou as roupas eram diferentes, muito associadas ao rancho, falamos de lã, bombazine, barretes. Agora passámos a usar as t-shirts que nos identificam. Já foram pretas, agora são vermelhas”.

O grupo é intergeracional. “Tanto aqueles que estão na associação como nos bombos acabam por viver um encontro de gerações e isso também é bonito. Ao mesmo tempo ver os pequenitos a começar a lidar com os grandes, a verem como é que os grandes fazem”. A pessoa mais velha do grupo “deve andar nos 50 anos, mais coisa menos coisa”, e a mais nova “tem cinco ou seis anos, sendo que começou mais novinho”.

A componente artesanal e técnica do instrumento também é destacada. “Agora há muitos grupos que têm aquelas caixas de plástico, nós só temos duas. Somos um grupo que escolhe sempre a pele, dominamos a pele de cabra”. 

A preparação dos bombos envolve trabalho coletivo, ou como o entrevistado refere, envolve ‘networking’. “Quando é preciso mudar uma pele vamos para lá todos ajudar a pintar bombos”. A afinação dos instrumentos envolve “aquela ciência de esticar bem as peles, metê-las ao sol para elas tocarem melhor”, conta o jovem.

João Mota recorda um momento que o marcou durante um encontro em Gouveia: “Era um concurso, ficámos em segundo lugar, e o giro daquilo foi quando acabou a primeira volta. Até à outra metade da volta fizemos todos a tocar a mesma música. Eram 10 grupos de bombos a tocar uma coisa mega longa em ruas apertadas, e é interessante ver que, por muitas parecenças, nenhum grupo de bombos é igual”.

Mesmo com ritmos intensos, há sempre espaço para a interação. O membro dos Aikdoy refere que por vezes surgem “despiques para ver quem é que toca mais rápido e mais alto. É um despique saudável. Depois é aquela coisa em que para parar há uns que têm apitos, outros batem com as baquetas, há pessoas que dançam e que saltam e vê-se de tudo”.

Quanto à origem dos membros do grupo, João Mota revela que “grande parte das pessoas que lá estão nem sequer são dali. Algumas têm raízes lá, os pais ou viveram lá ou casaram lá, mas são poucos aqueles que lá nasceram e que estão no grupo”. O próprio vive noutra localidade: “Na minha terra não há Zés Pereira, só há grupos de concertinas, então tenho que me deslocar”.

“Nunca senti que houvesse rivalidade entre terras em nenhum grupo do género. É interessante ter uma terra ali ao lado que cubra os eventos da zona e que junta um bocadinho de cada um, porque também é uma forma de eu representar a minha terra”, conta o jovem. “Individualmente também acabamos por assumir a nossa terra”, conclui.

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