Nasceu, em Cinfães, a Quinta da Maria, um projeto turístico com alma…
No coração do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, há…
Reza a lenda que foi um árabe, há mais de mil anos,…
O físico português Nuno Loureiro, diretor de um laboratório do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), foi hoje assassinado a tiro em Boston, confirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros.
Nuno Loureiro era de Viseu e dirigia o Centro de Ciência do Plasma e Fusão do MIT desde maio de 2024.
Antigo aluno do Instituto Superior Técnico (IST), a investigação de Nuno Loureiro focava-se em física teórica e nas suas aplicações na fusão.
Segundo a página do MIT na internet, Nuno Loureiro tinha “um interesse ativo em vários aspetos fundamentais da dinâmica do plasma magnetizado, tais como reconexão magnética, geração e amplificação de campos magnéticos, confinamento e transporte em plasmas de fusão e turbulência em plasmas fortemente magnetizados e fracamente colisionais”.
Em junho de 2024, Nuno Loureiro foi capa do Jornal do Centro numa entrevista onde o cientista dizia que
”existem muitas pessoas em Portugal a praticar ciência de excelência e às vezes fazemos muito com tão pouco’’.
Aqui ficam alguns excertos dessa entrevista.
Quando vivia em Viseu já pensava seguir a vertente de investigação ligada à Física?
Não sei bem de onde é que surgiu este interesse, mas lembro-me de já na escola primária saber que quando fosse grande queria ser cientista. Acho que passei da fase de querer ser bombeiro ou polícia para ser cientista logo na escola primária. Claro que na altura não sabia o que é que era Física. Eu achava que ser cientista devia ser espetacular, mas não conhecia as diferentes áreas da ciência. Depois o gosto pela Física foi-se afirmando mais durante o liceu. Andei na Escola Secundária Alves Martins e nessa altura penso que começou a surgir o interesse através de uns livros de investigação científica da Gradiva e na altura o muito famoso livro do Stephen Hawking, “Breve História do Tempo”. Comecei a ler esses livros e a interessar-me cada vez mais por Física. Acho que foi mais ou menos por aí que eu decidi que queria estudar Física quando fosse para a universidade.
Qual o seu percurso após entrar na universidade, no Instituto Superior Técnico?
Eu estudei Física no Técnico e depois fui fazer o doutoramento para Londres, no Imperial College. Estive lá entre 2000 e 2005. Depois em 2005 fui para Princeton fazer um pós-doutoramento. Estive lá dois anos e depois voltei para Inglaterra entre 2007 e 2009, para trabalhar no Laboratório Nacional de Fusão Nuclear do Reino Unido. Em 2009 regressei ao Técnico como investigador e estive lá até 2015. Nesse ano, quando estava no Técnico, uma colega aqui do MIT telefonou-me a sugerir que eu me candidatasse para uma posição de professor. Eles estavam a tentar recrutar um professor e essa minha colega sugeriu que eu me candidatasse. Foi o que fiz. Consegui a posição e mudei-me para Boston em janeiro de 2016.
Durante o seu trajeto foi, portanto, tanto aluno como investigador e mais tarde professor. Na sua opinião, há muitas diferenças no ensino e na investigação científica entre Portugal e países como os Estados Unidos da América ou o Reino Unido?
Acho que em Portugal, na minha área, existe pessoas que têm carreiras internacionais e de excelência. Acho que essas pessoas estão em Portugal, mas podiam estar noutro sítio qualquer do mundo. Mas existem diferenças. Evidentemente que quando se faz investigação científica, quando existe mais financiamento é possível fazer mais coisas. Os recursos que se tem estão inevitavelmente associados aos recursos que o país está disposto a investir ou que pode investir. Às vezes não é uma questão de estar disposto, é uma questão de poder. Por isso, há coisas que se podem fazer quando se tem os recursos de uma universidade rica como o MIT que é impossível fazer noutras circunstâncias. Portugal, em várias disciplinas da ciência, vai muito além daquilo que umas contas baseadas apenas em recursos poderiam sugerir. Os recursos que existem para a investigação em Portugal não são comparáveis com aqueles que existem nos países mais ricos. Contudo, acho que existem muitas pessoas em Portugal a praticar ciência de excelência. Às vezes fazemos muito com tão pouco.
Pensa que Portugal devia investir mais na ciência?
Penso que sim. Acho que objetivamente o investimento em ciência, quer a fundamental, quer aplicada, é sempre algo que tem retorno para a economia de um país, pelo menos a médio prazo. Portanto sim, acho que faz sentido. Às vezes não é uma questão de aumentar a parcela do Orçamento do Estado, mas sim a questão de como essa parcela é gerida. Por exemplo, estabilidade nos fundos que são disponibilizados para os investigadores é se calhar mais importante do que necessariamente aumentar esses fundos. É muito difícil de trabalhar se uma pessoa sabe que pode ter um projeto financiado este ano, mas tem dúvidas se vai ter financiamento no próximo ano. Aí a única coisa que é possível fazer é um trabalho de navegação à vista. Mas quando existe mais estabilidade no financiamento ou quando se pode contar com o financiamento de uma forma estável, isso permite a uma pessoa organizar-se de uma forma diferente e construir equipas mais robustas. Mais financiamento é bom, mas às vezes não é uma questão de mais financiamento, mas sim de como é gerido. Uma questão relacionada com isto é a autonomia que se dá às universidades para gerirem o próprio orçamento e para contratarem pessoas. Objetivamente, penso que em Portugal as universidades têm pouca autonomia e isso constrange a maneira como podem operar. Às vezes essa falta de autonomia não lhes permite ser tudo aquilo que poderiam ser em termos de qualidade, quer de ensino quer de investigação.
Tem estado a estudar a turbulência do plasma enquadrada na Fusão Nuclear. Em que passo é que a humanidade está dentro deste ramo?
As coisas que são a minha especialidade científica direta são apenas uma fração de todas as coisas que são necessárias para desenvolver a Fusão Nuclear como fonte de energia. O objetivo do centro do qual sou diretor, o Plasma Science and Fusion Center, aqui no MIT, tal como outros institutos que existem a nível mundial, é contribuir para tornar a energia de Fusão Nuclear uma realidade. Isto é uma coisa que se investiga já há muito tempo. Os primeiros esforços neste sentido surgiram nos anos 1950 e é um problema difícil que exige um investimento significativo. Apesar dos progressos serem muito significativos, às vezes o financiamento nem sempre foi tão estável quanto nós gostaríamos e isso implicou alguns atrasos no desenvolvimento desta ciência. É uma área que exige avanços que vão desde Física Teórica, que é a parte onde eu entro, até coisas muito aplicadas como engenharia de materiais, engenharia magnética, uma série de áreas que têm que ver com a produção e gestão de certos metais especiais, de certos elementos químicos especiais. Portanto é uma coisa que cobre múltiplas áreas da ciência e da engenharia. No meu centro nós temos valências em várias dessas áreas e o nosso objetivo é contribuir de uma forma determinante para acelerar o processo da realização da Fusão Nuclear. Temos uma tradição nessa área e estamos muito envolvidos com experiências que estão a ser construídas neste momento que nós achamos que vão ser provavelmente determinantes na aceleração da capacidade de conseguir produzir energia elétrica através deste processo chamado Fusão Nuclear.
Falando agora de Portugal e deixando o MIT de parte, com que frequência costuma regressar?
Eu vou a Portugal sempre que posso. Adoro Portugal, adoro ir aí, tenho família no país e amigos e gosto muito de os rever. Infelizmente, sempre que posso não é tanto quanto gostaria, mas pelo menos uma vez por ano passo uma temporada em Portugal.
E em relação a Viseu?
Sempre que estou em Portugal vou a Viseu. Gosto muito de regressar a Viseu, gosto muito da Beira Alta, da gastronomia da Beira Alta.