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Há pais que começam a procurar creche no momento em que recebem a confirmação da gravidez

Creches sem vagas em Viseu: um problema que afeta o presente e compromete o futuro

Maria Tavares*
 Há pais que começam a procurar creche no momento em que recebem a confirmação da gravidez - Jornal do Centro
14.06.25
fotografia: Jornal do Centro
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 Há pais que começam a procurar creche no momento em que recebem a confirmação da gravidez - Jornal do Centro
14.06.25
Fotografia: Jornal do Centro
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 Há pais que começam a procurar creche no momento em que recebem a confirmação da gravidez - Jornal do Centro

Ter um filho implica muitas mudanças na vida de um casal. Especialmente quando não existem vagas nas creches. Ficar em casa até ter vaga e reduzir o rendimento ou até mesmo perde o emprego é a realidade de muitos pais hoje em dia.

O cenário em Viseu não diverge da realidade nacional. A falta de vagas nas creches e o impacto que isso tem no dia-a-dia de muitos casais é um problema para quem pretende construir família atualmente. 

O projeto Creche Feliz que teve início a janeiro de 2023, e que visa garantir a gratuitidade da educação para crianças até aos três anos, trouxe um alívio para muitas famílias, mas também revelou, de forma brutal, a insuficiência da rede de creches no país. 

“Quando se lançou esta medida não se viu se realmente havia resposta suficiente para aquilo que poderia vir. O que eu acho é que todas as respostas físicas que existem não são suficientes para a procura que há”, partilha a diretora de uma creche privada em Viseu, que preferiu manter o anonimato. 

A gratuitidade universal para os primeiros anos de vida, apesar de bem-vinda, gerou uma procura sem precedentes. Mas nem todos têm acesso de forma igual. Nas instituições privadas, o processo é mais complexo. “Nós, não sendo IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social), não temos prioridade no acesso. Se houver uma única vaga numa IPSS do concelho, mesmo que fique longe, não posso aceitar o pedido de gratuidade para a minha escola”, explica.

Famílias em suspensão

Um dos casos que foi partilhado pela diretora é de uma família que reside e trabalha no centro de Viseu, mas por existir uma vaga noutro concelho, não é possível inscrever o filho numa creche da cidade. Este casal vê-se numa situação em que não tem condições para prolongar mais a licença e onde pode perder o emprego. “Tenho recebido vários pais que se sentem injustiçados por isso mesmo, terem que zelar pelo trabalho que já têm, e não conseguirem voltar ao mercado de trabalho porque não têm onde deixar as crianças”, lamenta a diretora.

Um dos critérios atualmente aplicados para a atribuição de vagas nas creches é a priorização de crianças cujos pais se encontram desempregados. 

A medida justificada pela necessidade de apoiar famílias em situação de maior fragilidade económica e social, levanta, no entanto, algumas dúvidas entre encarregados de educação e profissionais do setor. Do lado das famílias com vínculos laborais, há quem questione até que ponto esta prioridade é equilibrada, uma vez que os pais empregados enfrentam o desafio concreto de não terem onde deixar os filhos para poderem manter os seus postos de trabalho. 

A questão torna-se especialmente sensível quando os horários laborais são incompatíveis com soluções informais de apoio familiar. Como explicou uma diretora de creche em Viseu, “quem trabalha também tem de zelar pelo trabalho que tem”, uma preocupação legítima num sistema onde a escassez de vagas obriga muitos pais a escolhas difíceis e, por vezes, penalizadoras, independentemente do seu estatuto profissional. 

E assim se desenha o cenário atual: creches sem vagas, famílias em lista de espera e pais impedidos de regressar ao mercado de trabalho. Segundo os relatos, as listas de espera já se estendem há mais de um ano. “Eu tenho uma lista já criada e já tenho duas pessoas inscritas para entrar em setembro de 2026. E estamos em junho de 2025. Isto não acontecia há dois, três anos”, afirma a diretora. 

Quando o tempo para ser mãe não encaixa no sistema

Ter filhos é, para muitas mulheres, uma decisão complexa, cronometrada não só pelo relógio biológico, mas também pelas limitações do sistema de apoio à parentalidade. Se, por um lado, existe uma janela natural e fisiológica para a maternidade, por outro, o planeamento familiar é cada vez mais condicionado pela dificuldade em garantir cuidados desde os primeiros meses de vida da criança.

“Quando decidimos que queríamos ter um filho, sabíamos que não podíamos adiar muito mais. Mas também sabíamos que, se não arranjássemos vaga numa creche, tudo o resto iria por água abaixo”, conta Andreia Lopes, de 37 anos, atualmente em licença de maternidade. 

A pressão de garantir uma vaga numa creche começa cada vez mais cedo. Há pais que iniciam o processo de procura no mesmo momento em que recebem a confirmação da gravidez. Esta antecipação não é exagero, mas sim uma resposta a um sistema saturado, onde a lógica de “quem chega primeiro” se sobrepõe a critérios de proximidade, necessidade ou equidade. “Eu sei que é ridículo, ainda nem estou grávida há um mês e já estou à procura de vaga, mas não posso arriscar a ficar sem lugar para o meu filho”, lamenta Joana Dinis, de 29 anos. 

Esta realidade tem consequências particularmente duras para as mulheres. “São elas, na maioria das vezes, que adiam carreiras, que pedem licenças sem vencimento, que se sentem culpadas por não conseguirem dar resposta a tudo”, observa a diretora de uma creche em Viseu. “Há um impacto emocional fortíssimo, muitas vezes invisível.” Esse impacto emocional tem também reflexos económicos. “Pedir uma licença sem vencimento é abdicarmos de rendimento. E muitas vezes não é uma escolha, é a única saída possível”, acrescenta Andreia Lopes. 

Crescer em Lista de Espera

Em Viseu as creches existentes não conseguem dar resposta ao volume de procura, as instituições com quem conseguimos falar admitem ter planos para expandir, mas esbarram em burocracias, falta de financiamento e de profissionais da área. “Abrir uma creche é um bicho de sete cabeças. Já passámos aqui por situações de falta de educadoras, no ano passado senti alguma dificuldade em arranjar profissionais nessa área”, lamenta a diretora de uma outra creche. 

Apesar dos avanços registados nos últimos anos muitas famílias com crianças até aos três anos continuam sem conseguir garantir uma vaga numa creche gratuita. Isso significa que uma parte significativa das crianças, sobretudo bebés com menos de um ano, continua fora do sistema. As famílias pedem soluções. As instituições pedem apoio. E os especialistas alertam: sem uma rede de creches sólida, acessível e equitativa, a natalidade continuará em queda e a conciliação entre vida familiar e profissional será cada vez mais difícil.

“Ter filhos não pode continuar a ser um ato de coragem”, conclui Mariana, outra mãe entrevistada, em lista de espera há sete meses. “As creches não são um luxo. São uma necessidade básica. Sem elas, não há equilíbrio possível”.

O problema da falta de vagas nas creches é mais do que uma questão logística, é um entrave ao equilíbrio entre vida familiar e profissional e ao planeamento da parentalidade. As medidas de apoio à educação na primeira infância como a gratuitidade até aos três anos, são passos importantes, mas mostram-se insuficientes quando não são acompanhadas de um reforço estrutural da rede de respostas sociais.

Enquanto as listas de espera crescem, são as famílias, sobretudo as mulheres, que pagam o preço mais alto: adiando sonhos, comprometendo carreiras e enfrentando dilemas que deveriam ser evitáveis numa sociedade que se pretende moderna e inclusiva. “Investir em creches é investir no presente e no futuro das crianças, das famílias e do país”, conclui a diretora. 

Em outubro de 2024, mais de 116 mil crianças frequentavam creches de forma gratuita, anunciou, na altura, o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, segundo a qual foram criadas mais de 5.200 vagas nos últimos seis meses.

O programa ‘Creche Feliz’ foi lançado pelo governo PS para garantir a gratuitidade da frequência das creches a todas as crianças nascidas depois de setembro de 2021 e em janeiro de 2024 tinha alargado a medida a todas às creches da rede pública, já depois de ter incluído as creches da rede privada.

Isso incluía creches de autarquias locais, creches de instituições de ensino superior público ou de outras pessoas coletivas de natureza pública, designadamente creches de empresas públicas, creches de sociedades anónimas de capitais públicos, creches de institutos públicos ou de outros organismos de natureza similar.

Entretanto, já com o anterior Governo, a medida sofreu alterações nos critérios de acesso, quando definiu que as famílias passariam a ter acesso a uma vaga no setor privado se não houvesse vaga na rede social na área da sua freguesia de residência ou trabalho, e não na área do concelho como até então.

*Em estágio

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