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Hoje é dia de apito, mesmo que o futebol esteja “em pausa”. A convidada deste episódio do podcast P’ia Fora já conheceu o desporto enquanto jogadora, mas foi na arbitragem que encontrou a verdadeira paixão. Catarina Campos tem no currículo vários marcos de relevo na sua carreira de árbitra e nesta visita a Mundão, aldeia onde nasceu e cresceu, fomos conhecer as suas origens e memórias.
Mundão é uma freguesia praticamente colada à cidade de Viseu. Foi no Largo de Góis, junto à igreja paroquial e a um imponente cruzeiro datado de 1746, que Catarina nos recebeu. Por entre ruas de pedra e memórias de infância, contou-nos que esta sempre foi uma terra jovem e que muitos dos seus contemporâneos ainda por aqui vivem e criaram família. Uma dinâmica que ajuda a explicar o crescimento da população nos últimos anos.
As ruas de Mundão mudaram: há novas urbanizações, como a zona da Falórca, e apartamentos modernos que contrastam com as casas antigas de pedra junto à igreja. Ainda assim, o centro histórico mantém-se, com ruínas e habitações típicas que preservam o caráter da aldeia.
Sentados nas escadas exteriores da igreja, onde em tempos Catarina subia para o coro nas missas de domingo, falou-nos da diferença de antes e de agora. Lembra-se de uma igreja cheia, tantas vezes com gente à porta por falta de espaço. Hoje, a frequência já não é a mesma, mas a memória mantém-se viva.
Entre conversas, ficamos a saber que a infância em Mundão era sinónimo de liberdade. Catarina recorda-se de ir a pé para a escola, brincar na rua até ao anoitecer, jogar futebol com os vizinhos e viver num tempo em que a televisão era um luxo e a internet uma miragem.
Recorda-se de assistir aos tradicionais jogos de solteiros contra casados e de observar com atenção dois irmãos, bombeiros municipais, que eram habitualmente chamados a apitar os encontros. Respeitados na comunidade, eram referências para os mais jovens. “Lembro-me perfeitamente de olhar para eles e pensar que gostava de estar ali com o apito a tomar decisões”, conta Catarina, na altura com cerca de 12 ou 13 anos.
Desde cedo apaixonada pelo futebol, admite que desconhecia por completo as regras do jogo, mas já sonhava com a autoridade do árbitro em campo. Essa curiosidade e vontade de liderar viriam a moldar a árbitra que é hoje.
Hoje, quem a conhece dos campos garante que é outra pessoa com o apito na mão. “Às vezes dizem-me: ‘Tu eras mesmo má a arbitrar, tinhas uma cara de má!’”, conta, entre risos. Mas explica que essa postura faz parte da concentração e da responsabilidade de quem tem de decidir em segundos, impondo respeito sem perder o foco. “Foi algo que treinei, que fui construindo, porque no campo a Catarina árbitra é diferente da Catarina da conversa descontraída.”
No fundo, tudo começou em Mundão. Entre relvados improvisados, tardes de liberdade pelas ruas e o orgulho profundo na terra que a viu crescer, Catarina Campos carrega consigo a história e as raízes desta freguesia que continua a viver e a fazer-se ouvir, apito a apito.