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Imigrantes do Brasil, Irão, Argélia, China, Espanha, Ucrânia e Venezuela participam sábado e domingo, em Viseu, num “lugar-espetáculo” que cruza histórias, culturas e línguas com o teatro e a música.
“Anoitecer” é o nome deste “lugar-espetáculo” que é também um “ponto de encontro de sete intérpretes profissionais com sete pessoas da comunidade” naturais de países estrangeiros, explicou o encenador Graeme Pulleyn, inglês residente na região de Viseu há 36 anos.
Graeme Pulleyn falava hoje aos jornalistas no final de um ensaio na Escola Secundária Alves Martins, que ministra aulas de Português Língua de Acolhimento e é frequentada por alunos de mais de 40 países, incluindo os intérpretes de “Anoitecer”.
Criado pela Cem Palcos e pela banda Bela Noia, “Anoitecer” teve ante-estreia na Associação Cultural e Recreativa de Tondela (ACERT) e estreia-se agora em Viseu, seguindo depois para outras cidades.
O texto, da autoria de Hanneke Paauwe, escrito a partir de conversas com mulheres, homens e crianças de vários países que vivem em Portugal, “é adaptado em cada sítio com o elenco local”, explicou Graeme Pulleyn.
Durante o espetáculo, serão dadas a conhecer as histórias dos intérpretes, como a de Anna Chekhova, que nasceu e viveu toda a vida em Kiev (Ucrânia), uma cidade “linda e moderna, cheia de jardins” até à chegada da guerra.
“É muito assustador ouvir o som das bombas passando por cima da cabeça. É muito doloroso ver a morte e a destruição. E é terrível viver com a sensação de que a próxima noite pode ser a sua última, porque ninguém sabe onde vai cair o próximo míssil. O meu maior desejo é viver em paz”, contou.
Já Hao Zhang trocou a China por Portugal para possibilitar à sua filha aprender “o que realmente ama”.
“Aqui, tudo é diferente. Menos a lua. Há um verso chinês que diz: ‘olhamos a lua, e a saudade de casa aperta’. Mas nós ainda não sabemos onde é o nosso lugar”, admitiu.
Apesar de cada intérprete ter uma realidade de vida diferente, durante o espetáculo são apresentadas dez palavras escolhidas por todos, entre as quais paz, saudade, família, mudança, criança e comida.
A venezuelana Karina Rosa, de 67 anos, cinco dos quais a viver em Viseu, explicou que a escolha da palavra ‘criança’ está relacionada com a preocupação que tem relativamente ao futuro dos seus netos e a da palavra ‘comida’ com o facto de ser algo que às vezes falta.
“Tenho irmãos no meu país que às vezes não têm o que comer”, contou, emocionada, aos jornalistas.
Graeme Pulleyn justificou que o nome do espetáculo “é o anoitecer da canção de embalar, das declarações de amor e da zona do sonho entre estar acordado e estar a dormir, quando as ideias fluem e tudo é meio caótico”, e em que se “vivem os pesadelos, mas também os momentos de inspiração”.
“Fala-se muito em relação à imigração sobre as problemáticas, os perigos, as dificuldades, e não se fala sobre as possibilidades. A melhor forma de olharmos para o problema é sonharmos juntos e deixarmo-nos cativar pela criatividade e a imaginação para vermos as possibilidades que estas novas dinâmicas sociais nos podem trazer”, considerou.
Depois de Viseu, “Anoitecer” será apresentado em Carregal do Sal, Águeda, Santarém, Ílhavo e Vale de Cambra.