Autor

Joaquim Alexandre Rodrigues

30 de 04 de 2021, 18:35

Colunistas

Autárquicas 2021 — três casos peculiares no distrito de Viseu

Vila Nova de Paiva, Resende, Viseu — mudanças de camisola, colagens à cadeira, tiradelas de tapete, torceres de orelha, legados e nostalgias

Vila Nova de Paiva

Em 2017, José Manuel Rodrigues foi eleito pelo PS presidente da assembleia municipal do belo concelho de Barrelas. Agora, em 2021, o mesmíssimo José Manuel Rodrigues é candidato pelo PSD a presidente da câmara.
Pormenor, perdão, pormaior: o agora candidato laranja quer manter-se, até às eleições, como presidente da assembleia municipal.
O homem esfaqueia o partido que o elegeu, mas não deslarga o lugarinho.


Resende

Em 25 de Julho do ano passado, escrevi aqui o seguinte: “o actual presidente da câmara, Garcês Trindade, ainda pode ir mais uma vez a votos nas próximas autárquicas. Só que o anterior líder distrital, o poderoso resendense António Borges, não o quer mais à frente do município.”

Passaram nove meses e seis dias — mais do que tempo para a gestação completa de um bebé — e confirma-se a previsão. O socialista Borges prepara-se para dar à luz outro candidato a presidente daquele concelho das boas cerejas. Borges quer pôr alguém no lugar de Garcês. Este, que já sabe que lhe querem fazer a folha, ameaçou: ou me recandidatam ou “formalizarei uma candidatura independente”.

Um sarilho. Garcês é parável com a oferta de um job? António Costa consegue meter juízo na cabeça dos socialistas de Resende?


Viseu

Em 14 de Abril, Jorge Sobrado escreveu, no Jornal do Centro, um curioso artigo de opinião em que se debruça sobre “o que fazer do legado de António Almeida Henriques em Viseu”. O texto repete o termo “legado” quatro vezes.
Na mesma onda, oito dias depois, em 22 de Abril, o talentoso actor Guilherme Gomes tornou pública uma muito interessante “Carta da Primavera”, onde faz um balanço panegiricoso e idílico dos “últimos anos” de António Almeida Henriques. A expressão “últimos anos” aparece cinco vezes naquela missiva primaveril que, depois, foi subscrita por mais vinte representantes do lóbi dos eventos.

Estas duas excelentes tomadas de posição, cheias de nostalgia pelas festas e festinhas borliantes dos “últimos anos”, têm um pequeno problema: falam de um tempo que foi muito amável para minorias privilegiadas mas que não volta mais.

Ultimamente, até o malogrado António Almeida Henriques já se deixara da conversa do “imaterial” e do “marketing territorial” e afadigava-se a tentar recuperar o atraso em obra física, fruível por todos os munícipes, ricos e pobres, muito cultos e não tão cultos.

Entretanto, segundo consta, o competente Jorge Sobrado terá aceitado integrar a lista de João Azevedo. É uma boa escolha do candidato socialista que, evidentemente, não convidou Sobrado para tratar “do legado de António Almeida Henriques”, mas sim para integrar uma equipa que quer recuperar Viseu, depois de uns “últimos anos” a derreter dinheiro e a perder lugares em todos os rankings.

Quem é que, dentro da concelhia do PSD-Viseu, estará agora a torcer a orelha por ter feito veto de gaveta à ficha de inscrição de Sobrado como militante laranja?
Uma coisa é certa: Jorge Sobrado não vai fazer como o ainda presidente da assembleia municipal de Vila Nova de Paiva. O dia em que ele assumir a sua candidatura a vereador socialista para o quadriénio 2021-25 será também o dia em que se demite de vereador social-democrata no actual mandato.