Geral

05 de 08 de 2022, 11:09

Diário

Bispo da Guarda terá ocultado queixas de abusos sexuais

D. Manuel Felício ficou irritado após saber que pais de jovens do Seminário do Fundão apresentaram queixa à PJ contra o vice-reitor, entretanto condenado e preso

d. manuel felicio bispo guarda

Fotógrafo: D.R.

O bispo da Guarda, D. Manuel Felício, é um dos prelados da Igreja Católica que terá ocultado casos de abusos de padres às autoridades. Segundo revelou esta sexta-feira o Expresso, há cerca de 10 anos, o bispo levantou suspeitas por ter ocultado o caso que envolveu um padre no Seminário do Fundão. Nessa altura, os pais de 17 menores decidiram fazer uma queixa-crime à Polícia Judiciária por suspeitarem que os seus filhos eram alvo de abusos sexuais do padre Luís Mendes, vice-reitor do seminário.

O Expresso contou que o bispo ficou irritado e não escondeu esse mal-estar. Um dos pais revelou à PJ, já depois da detenção de Luís Mendes, que Manuel Felício lhe disse que deveria ter falado primeiro com ele e não com os inspetores da Judiciária. Outra mãe acrescentaria que o bispo se mostrou “aborrecido” por terem ido à PJ “sem antes terem falado com ele”.

A PJ descobriu que, um mês antes das queixas formais e quando já havia rumores dos abusos, o padre reuniu com as vítimas no sentido de arranjar uma justificação para os seus atos. “Motivo pelo qual, na data em que se iniciaram as investigações, já era seguro que seria do conhecimento alargado a sua conduta com os jovens e crianças”, escreveram os inspetores num relatório.

No dia das denúncias dos pais, no início de dezembro de 2012, a PJ foi ao seminário tentar falar com Luís Mendes e soube, através de um outro pároco, que o suspeito estaria “acamado” com gripe e não poderia receber a Judiciária e que o bispo da Guarda tinha ali estado pouco tempo antes. No dia seguinte, a PJ avançou com um mandado de detenção e deteve Luís Mendes.

A equipa da PJ tinha fortes suspeitas de que havia uma operação de encobrimento por parte das mais altas instâncias da Diocese da Guarda para protegerem o padre suspeito, falando mesmo de “uma manobra de branqueamento” no despacho de detenção de Luís Mendes.

D. Manuel Felício continua a acreditar na inocência do padre, mesmo após a sentença de 10 anos de cadeia (em 2013) ter sido confirmada por dois tribunais superiores, incluindo o Supremo Tribunal de Justiça, em 2017. O bispo visita-o regularmente na prisão e encoraja os padres da diocese a fazerem o mesmo.

D. Manuel Felício, natural de Mamouros no concelho de Castro Daire, é bispo da Guarda desde 2005.