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João Ferreira Cruz
Portugal entra em 2026 com uma medalha ao peito: fomos eleitos “Economia do Ano” pela The Economist. O Governo tratou o prémio como prova de competência e visão estratégica.
Mas confundir um bom ano com uma boa governação económica é, no mínimo, conveniente. E, no máximo, enganador.
É importante compreender o contexto: Portugal foi considerado a “melhor economia” essencialmente porque partiu de um nível muito baixo e porque os principais motores económicos da Europa — como Alemanha, França e Itália — enfrentam estagnação e dificuldades estruturais. Ou seja, Portugal destaca-se por contraste, não por liderança clara. Este prémio da The Economist baseia-se em indicadores conjunturais, como crescimento do PIB, inflação e estabilidade dos preços, emprego e mercado de trabalho, desempenho do mercado bolsista que refletem mais o efeito de um vento de feição do que o resultado de políticas económicas transformadoras e sustentáveis.
Além disso, muitos dos indicadores económicos usados para dar destaque a Portugal não traduzem avanços reais no bem-estar da população. Por exemplo, o crescimento económico não tem sido acompanhado por aumento significativo da produtividade, por melhorias salariais dignas ou pela redução das desigualdades. O desemprego está baixo, mas isso deve-se sobretudo a salários baixos e à emigração massiva de jovens qualificados, que procuram oportunidades lá fora porque as condições internas não melhoram.
O Governo prefere construir uma narrativa de virtudes próprias. É mais fácil fazê-lo do que explicar porque mantemos salários que já não pagam uma vida digna, porque perdemos jovens qualificados para outros países e porque os serviços públicos se degradam a um ponto crítico. A propaganda do crescimento contrasta com a realidade de muitos portugueses que vivem apertados entre salários estagnados e arrendamentos insuportavelmente elevados. Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística mostram que, em 2024, a taxa de risco de pobreza em Portugal foi de cerca de 15,4%, o que representa mais de 1,6 milhões de pessoas ainda vulneráveis economicamente. E quase 1 em cada 10 trabalhadores esteve em risco de pobreza — acima da média da União Europeia.
Estes números deveriam ser um alerta. Mas o Governo parece mais empenhado em discursos triunfalistas do que em enfrentar a pobreza e a desigualdade com políticas estruturantes.
A economia portuguesa continua refém de dois motores: turismo e imobiliário. O turismo é vulnerável a guerras, pandemias e instabilidade — não é uma estratégia, é uma aposta. O imobiliário atrai investimento, mas também empurra famílias para fora das cidades, alimenta bolhas especulativas e transforma jovens em emigrantes forçados. Chamar a isto “modelo económico” é um exercício de otimismo político. Ou de distração.O Governo não governa, vai gerindo crises. A saúde está sobrecarregada, a escola pública perde professores, os transportes não dão resposta e a habitação tornou-se uma emergência nacional. Perante isto, anuncia grupos de trabalho, comissões e planos estratégicos… e pouco mais. Não se governa um país com comunicados. Governa-se com decisões — e essas continuam por tomar.
Agora, surge uma proposta inoportuna de revisão da lei laboral, lançada sem consenso e sem perceber que o verdadeiro problema não é tanto a legislação, mas a fraca valorização do trabalho e a precariedade estrutural do mercado. As centrais sindicais rejeitam a proposta, porque não protege os trabalhadores e pode agravar desigualdades. Num país onde a pobreza laboral cresce, alterar a lei sem fortalecer a proteção social é arriscar aprofundar o fosso social.
2026 será o ano em que Portugal terá de decidir se quer apenas somar boas estatísticas ou se está disposto a enfrentar os problemas reais. O país tem potencial na energia verde, economia digital e inovação tecnológica, mas falta-lhe liderança para transformar esse potencial em estratégia.
O Governo pode continuar a exibir prémios internacionais como se fossem políticas públicas. Mas Portugal não precisa de troféus — precisa de direção. O país merece mais do que crescimento conjuntural: merece desenvolvimento, ambição e reformas profundas. E isso não se constrói com discursos. Constrói-se com coragem.
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João Ferreira Cruz
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Cristofe Pedrinho
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Joaquim Alexandre Rodrigues