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Agressões, consumo excessivo de álcool, tráfico de droga, excessos de velocidade e uma presença policial que muitos dizem ser escassa ou ineficaz. Este é um retrato feito por quem frequenta algumas zonas de diversão noturna da cidade de Viseu. Muitos falam de casos isolados, mas que “mancham” a convivência e deixam “algum sentimento de insegurança”. Pedem uma atenção especial para o centro histórico e Jugueiros. PSP e autarquia acreditam que a videovigilância vai ajudar.
Jugueiros, a zona em que o álcool é combustível para o desastre
“Aqui em Jugueiros há um problema que é o excesso de velocidade na reta e isso pode causar situações graves como alguém a passar uma passadeira e acontecer um desastre”, aponta Guilherme de 19 anos, caloiro no Instituto Politécnico de Viseu. Jugueiros é um bairro frequentado pela maioria dos alunos e que além do Instituto concentra também um elevado número de estabelecimentos de diversão.
A velocidade nesta zona foi o problema apontada mais vezes no decorrer da reportagem do Jornal do Centro por muitos estudantes e habitantes deste local e que já levou a uma tragédia nesta zona. Em outubro de 2024, um jovem foi mortalmente atropelado numa passadeira, em plena madrugada, junto ao Instituto Politécnico de Viseu.
Para Jéssica Santos, de 20 anos, também estudante na cidade, sair à noite nestas zonas merece uma atenção redobrada. “Sinto receio, inclusive nas passadeiras. Tenho sempre mais atenção de madrugada porque muitos decidem fazer desta estrada uma pista de Fórmula 1”, lamenta.
Carros e motas em excesso de velocidade fazem parte do dia a dia de quem convive neste local, dizem os jovens. Tendo em conta o número de sinistros que aqui ocorrem, para os estudantes e moradores “o patrulhamento da polícia não é eficaz”. “Depois dos bares fecharem, por volta das 2h00, a polícia vai-se embora. No entanto, as pessoas costumam ficar na rua até mais tarde e aí já não há policiamento nem ninguém a controlar”, aponta Mariana Albuquerque, 21 anos, empregada de bar.
“A maior parte dos desacatos são devido aos consumos do álcool”, aponta também Francisco Oliveira Neto, de 36 anos, proprietário de um bar nesta zona. O proprietário afirma que até à data não presenciou situações graves que afetem a segurança à noite, mas que a “falta de policiamento” é um problema. “Não se sente a presença da polícia, eles ficam só parados dentro do carro sem fazer nada”, lamenta.
Já Diogo Costa, empregado de bar em Jugueiros, de 24 anos, fala em ajuntamentos conflituosos. “Antigamente, Jugueiros era mais para os estudantes e agora há uma mistura de muitos públicos diferentes”, afirma.
Centro Histórico: Património do Tráfico e do Álcool?
O centro histórico é outro lugar escolhido para aproveitar a noite em Viseu. Quem o frequenta fala em problemas que resultam da “mistura do consumo de álcool com tráfico de droga” e, segundo alguns relatos, “de uma polícia que vê mas não age”.
“Noventa por cento das vezes temos, nós, de intervir. A polícia aparece depois da ‘pancadaria’ já ter passado”, conta Paula Fonseca, 50 anos, proprietária de três espaços no centro histórico há mais de uma década. A proprietária acrescenta que a presença da polícia resume-se a “uma carrinha estacionada, que não faz pressão nenhuma”.
A crítica é repetida por outros trabalhadores da zona. Maria Guedes, empregada de bar, refere que o problema começa após a hora de fecho dos estabelecimentos. “As brigas são recorrentes. A polícia só aparece para chatear os bares por causa das licenças, mas não toca, por exemplo, em quem vende droga”, diz, exaltada.
Para muitos, o problema não é novo. Segundo Hélder Vieira,“tem havido mais queixas de pessoas intimidadas nas ruas, violência entre grupos e o tráfico de droga tornou-se visível”. Na sua opinião, a instalação de videovigilância seria uma “medida urgente e dissuasora”, mas que ainda não saiu do papel.
Este é um cenário que não é perceptível a todos. “Há uma ou outra zaragata, mas nada que não aconteça em outros locais. Às vezes um ou outro excesso, mas de todo coloca em causa a segurança deste local. Nunca me senti desconfortável com qualquer situação”, descreve, por seu lado, António Fonseca.
Para este cidadão, muitos problema ssurgem também da “intolerância” e dos “esterótipos” que, na sua opinião, “ceriam logo tensões”.
Estes são alguns dos problemas indicados por quem vive e trabalha no centro histórico e que levou a que um grupo de comerciantes escrevesse uma carta à autarquia e à PSP a denunciar o que se passa neste local.
O documento disponibilizado ao Jornal do Centro, assinado por 30 comerciantes, denuncia o “consumo de substâncias ilícitas, com indícios de tráfico e venda de estupefacientes, o porte de armas brancas (facas, canivetes, entre outros) bem como a ocorrência de atos violentos, incluindo agressões com recurso a armas brancas”. Na carta é explicito que “estes episódios têm causado consequências alarmantes, como ferimentos com perda de sangue em plena via pública”.
“Sentimo-nos cada vez mais ameaçados, temendo não apenas pela nossa integridade física, mas também pela segurança dos nossos colaboradores”, lê-se ainda na missiva.
Os subscritores apelam “à Câmara Municipal e ao Comando Distrital da PSP de Viseu para que sejam tomadas, com urgência, as diligências necessárias com vista à reposição da segurança, tranquilidade e dignidade deste espaço público, tão emblemático do centro histórico da nossa cidade”.
O que diz a Câmara Municipal de Viseu?
O presidente da Câmara de Viseu aponta a videovigilância como uma medida que pode vir a inverter este sentimento e que já está em andamento em Viseu. O autarca disse já ter reunido com uma empresa para a implementação de um sistema que “implica a colocação de fibra ótica em alguns sítios que não têm” e que é necessário para a colocação de câmaras.
Questionado sobre o reforço do policiamento em zonas como Jugueiros para o problema do excesso de velocidade, por exemplo, Ruas admite que essa é uma função “da Administração Central”, ou seja através dos efetivos da PSP a quem cabe a responsabilidade da segurança pública.
O autarca refere medidas já implementadas como a construções de lombas em frente ao Politécnico de Viseu, mas lamenta que, mesmo assim, “as pessoas aceleram”. “A quem compete verificar esse excesso de velocidade é a Polícia de Segurança Pública ou a GNR”, sustenta.
O que diz a PSP?
Quanto ao problema do excesso de velocidade em Jugueiros, as autoridades confirmam que já foram implementados obstáculos físicos na via, “que dificultam o excesso de velocidade e mitigam, na perspetiva da PSP e de outras entidades competentes, o risco de sinistros rodoviários de diversas tipologias, nomeadamente colisões, despistes e atropelamentos”
Em resposta enviada por email pelo Comando Distrital de Viseu, o superintendente Nuno Rafael Marques Dinis, esclarece que o policiamento na zona da Sé e de Jugueiros é aplicado consoante “as circunstâncias e a realidade” de cada momento.
Durante o período noturno, a presença policial é feita por “patrulhamento auto cumprido por carros-patrulha, equipas de fiscalização de trânsito ou equipas especializadas na manutenção e reposição da ordem pública”, esclarece.
Em relação ao problema do tráfico de droga, a PSP garante que “na sua qualidade de Polícia Integral” desenvolve “regularmente não apenas ações repressivas de combate ao consumo e tráfico de estupefaciente, como investiga os autores desses crimes, procurando dessa forma atacar o problema a montante”.
Quanto ao projeto de videovigilância que está a ser preparado pela Câmara Municipal, a PSP também “está presentemente a participar no processo de instrução, esperando que o mesmo venha a constituir um instrumento de reforço do sentimento de segurança dos viseenses.” A zona da Sé e de Jugueiros vão ser “locais prioritários de instalação”, diz a polícia.