ivo vieira cd tondela
sara pereira
bolas natal
aluguer aluga-se casas
Casas Bairro Municipal Viseu 3
casa-habitacao-chave-na-mao - 1024x1024

No coração do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, há…

21.08.25

Reza a lenda que foi um árabe, há mais de mil anos,…

14.08.25

Seguimos caminho por Guimarães, berço de Portugal e guardiã de memórias antigas….

07.08.25
jose-damiao-tarouca-232
ps campanha
camapnha10
vinhas adega vila nova de tazem
halloween
textura-wines-reforça-equipa-enologia-viticultura
Home » Notícias » Colunistas » Quando a água sobe, as desigualdades vêm ao de cima

Quando a água sobe, as desigualdades vêm ao de cima

 Quando a água sobe, as desigualdades vêm ao de cima
07.11.25
partilhar
 Quando a água sobe, as desigualdades vêm ao de cima

por
Ana Isabel Duarte

A crise climática já não é uma ameaça futura, é uma realidade que molda o presente de Portugal: secas severas, incêndios recorrentes, ondas de calor cada vez mais longas, cheias e inundações. Porém, há uma pergunta que raramente se coloca: quem paga o preço destas mudanças? A resposta é incómoda: são sempre os mesmos. Pessoas com baixos rendimentos, bairros periféricos e zonas rurais esquecidas. O impacto ambiental não é neutro e amplifica desigualdades.

Enquanto se discute mobilidade verde em Lisboa ou painéis solares em condomínios modernos, há famílias que não conseguem manter a casa habitável, nem no verão nem no inverno. O último Inquérito às Condições de Vida e Rendimento revela que 19% dos portugueses não conseguem aquecer a casa no inverno; no verão, quem vive em habitações sem isolamento ou arborização enfrenta temperaturas extremas que põem em risco a saúde.

As cheias que voltam repetidamente às manchetes não são fruto do acaso ou apenas de “mau tempo”: são consequência direta das escolhas que fizemos no território.

Impermeabilizámos cidades, cobrimos o solo com betão e asfalto, canalizámos ribeiras e construímos nos seus antigos leitos. A água da chuva deixou de se infiltrar e passa a escoar rapidamente à superfície, encontrando sistemas de drenagem envelhecidos, entupidos e incapazes de responder a episódios de precipitação mais intensos, tornados cada vez mais frequentes pelas alterações climáticas.

A solução não passa por tentar expulsar a água, mas por voltar a integrá-la na cidade. Cidades resilientes já estão a seguir esse caminho: Barcelona instalou pavimentos permeáveis para aliviar a drenagem; Copenhaga reconverteu mais de 100 ruas e praças que, durante tempestades, funcionam como corredores de infiltração e parques inundáveis. Em Portugal, Famalicão criou no Parque da Devesa uma bacia de retenção que protegeas zonas residenciais; o Porto está a transformar jardins em áreas que armazenam temporariamente a água antes de esta chegar ao Douro. Estas soluções demonstram que uma cidade preparada não é a que tenta impedir a água a qualquer custo, mas a que aprende a conviver com ela.

Apesar disso, a transição ecológica em Portugal continua a ser pensada como se todos partíssemos do mesmo ponto. Mas não partimos. Nem todos têm carro elétrico, transportes públicos próximos ou casa própria onde instalar painéis solares. As escolhas sustentáveis continuam a ser, muitas vezes, um privilégio.

Fala-se de neutralidade carbónica, de economia circular, de eficiência energética. Mas fala-se muito pouco de justiça ambiental: a distribuição justa dos riscos e dos benefícios da política climática. A Europa já integra esta dimensão. Espanha criou um Ministério da Transição Ecológica com foco em coesão territorial. A Alemanha compensa comunidades afetadas pela transição energética. E Portugal?

Precisamos de um debate urgente sobre quem é protegido e quem é sacrificado. Sobre onde se investe, quem decide e quem participa. O ambiente não pode ser apenas uma bandeira urbana, moderna e limpa, tem de ser um compromisso com a justiça social. Porque se a transição verde continuar a ignorar as desigualdades, será, no fundo, uma transição para poucos.

 Quando a água sobe, as desigualdades vêm ao de cima

Jornal do Centro

pub
 Quando a água sobe, as desigualdades vêm ao de cima

Colunistas

Procurar