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O desempenho dos pilotos na primeira classificativa de hoje no Rali de Portugal mede-se pelos aplausos no salto da Arena de Mortágua, a concorrida zona espetáculo onde se concentraram desde a madrugada desta sexta-feira (16 de maio) milhares de pessoas.
No local, situado sensivelmente a meio dos 14,59 km de Mortágua, percorridos por duas vezes, a primeira a partir das 07h35, o dia amanheceu com nevoeiro, rapidamente substituído por um céu azul e um sol brilhante e quente.
À hora marcada, o Toyota Yaris do britânico Elfyn Evans surgiu no salto localizado à entrada da arena, sem deslumbrar, ao contrário do que sucedeu com o seu companheiro de equipa Kalle Rovanperä, segundo na estrada e autor de um ‘voo’ que arrancou a primeira ruidosa ovação da manhã.
Rovanperä haveria de estabelecer o segundo tempo mais rápido na primeira passagem por Mortágua, perdendo duas décimas de segundo para o vencedor Ott Tänak (Hyundai i20), mas, no ‘campeonato’ dos aplausos, os tempos contam pouco ou nada.
Que o diga o francês Sébastien Ogier, recordista de vitórias no Rali de Portugal e o terceiro Toyota na estrada, que foi apenas sétimo em Mortágua, a 6,1 segundos do vencedor, mas no ‘tribunal’ da arena foi também dos mais aplaudidos.
A lista incluiu ainda Oliver Solberg (Skoda Fábia WRC2), o britânico Kris Meeke (Toyota Yaris WRC2), líder do Campeonato de Portugal de Ralis e campeão em título e, especialmente, o algarvio Ricardo Teodósio, em carro idêntico.
Mas, como solidários que reconhecidamente são, os espetadores portugueses também são capazes de ajudar – e aplaudir – no infortúnio. Assim o experienciou a alemã Claire Schonborn (Ford Fiesta Rally3), concorrente do troféu jovem do WRC.
Após ter apanhado um susto à saída do salto, embatendo, aparentemente sem daí resultarem danos, na barreira que ladeia a classificativa, a jovem equipa germânica haveria de se despistar, umas centenas de metros mais adiante, tendo o carro ficado tombado no troço.
Em resposta, dezenas de pessoas, depois de autorizadas pela GNR, trataram de colocar o carro sobre as quatro rodas, enquanto outros milhares aplaudiam a empreitada e a azarada alemã.
Uma constante no Rali de Portugal (e Mortágua não é exceção) são as autênticas ‘romarias’ de fãs da modalidade, que calcorreiam milhares de quilómetros, dia a fio.
Hélio Prazer, 51 anos, do Pinhal Novo, distrito de Setúbal, foi a Mortágua com um grupo de amigos, ritual que cumpre todos os anos: “já vai há mais de 20 anos, já nem sei quando comecei”, argumentou.
Ao contrário de outros que veem passar os concorrentes do Mundial de ralis e abalam para um próximo troço, Hélio gosta do Rali de Portugal “mas sem stress nem correrias”.
A receita é ver um troço por dia – depois de Mortágua, esta sexta-feira, o grupo vai a Lousada, no sábado, terminando na zona de Fafe, no domingo –, acampando nas proximidades das classificativas.
“O problema são as pedras no chão, eu tinha uma pedra debaixo das costas”, queixou-se, com uma gargalhada, Rui Marinheiro, elemento do mesmo grupo, e ‘habitué’ destas andanças há mais de 30 anos.
Repetentes na arena de Mortágua (chegaram ao início da madrugada e passaram a noite junto a um dos acessos em terra batida), a classificativa do distrito de Viseu já é uma das preferidas do grupo.
“É bom, não há grande confusão, toda a gente vê”, argumentou Hélio, enquanto aproveitava para descansar da viagem, sentado numa cadeira articulada com vista para o salto.
De Leiria, Filipe Costa, 40 anos, anda de terra em terra atrás do Rali de Portugal, desde que a prova portuguesa se fixou no Algarve, em meados da década de 2000.
“Pela data deste casaco [com o logótipo do rali] pelo menos há 15 anos que já acompanho. E é para continuar, todos os anos, argumentou Filipe Costa, que, este ano, vai ficar pela região Centro, com idas à segunda passagem pelo troço de Góis e, ao final da tarde, à ‘novidade’ Sever/Albergaria.
Residente em Ançã, Cantanhede, no distrito de Coimbra, Octávio Malva, 66 anos, esteve “muito tempo, uma vida, 40 e tal anos”, na Suíça, de onde regressou há dois anos e estreia-se, este ano, como espetador no Rali de Portugal.
“Em garoto, 16, 17 anos, ia para a Lousã, depois deixei, mas via outros ralis pela Europa fora”, recordou, aludindo a provas em Itália, Alemanha ou Bélgica, país onde viu, pela primeira vez, o atual campeão mundial Thierry Neuville (Hyundai i20), na altura “um catraio que corria com um Citroen C2”.
Quanto à sua expectativa para este regresso ao mundo dos ralis, Octávio Malva disse esperar “que seja um espetáculo e o primeiro de muitos”, notou.