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A unidade de Mangualde da Stellantis iniciou a produção de veículos elétricos após um investimento de cerca de 30 milhões de euros para adaptação da fábrica, disse na terça-feira (3 de julho) o presidente executivo (CEO) do grupo automóvel, Carlos Tavares.
A fábrica portuguesa assegurará a produção de oito modelos 100 por cento elétricos nas versões de passageiros e comerciais ligeiros dos modelos Citroën ë-Berlingo e ë-Berlingo Van, Peugeot E-Partner e E-Rifter, Fiat e-Doblò e Opel Combo-e para os mercados doméstico e de exportação.
No ano passado, Carlos Tavares tinha anunciado a produção de veículos elétricos a bateria para o início de 2025, mas este objetivo foi antecipado.
Em declarações aos jornalistas no final da cerimónia que marcou o arranque da produção destes veículos, Carlos Tavares disse não ter previsões de quantos sairão da fábrica anualmente, porque “isso depende totalmente do caderno de encomendas, os clientes é que decidem”.
“Hoje (terça-feira) festejámos uma delas”, afirmou o responsável, referindo-se à encomenda de 719 automóveis destinados ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Segundo Carlos Tavares, como se viu na Alemanha e na Itália, o caderno de encomendas “está totalmente dependente dos subsídios que os governos europeus quiserem dar à classe média para comprar veículos elétricos”.
“O caderno de encomendas de um negócio europeu como o nosso geralmente anda à roda dos três meses de encomendas. Eu tenho uma ideia muito clara dos carros que vou produzir nos próximos três meses e posso dizer que, a nível europeu, o nosso ‘mix’ de vendas de veículos elétricos está na ordem dos 12 a 14% das vendas totais. A nível desta fábrica depende das encomendas que vamos receber”, frisou.
O presidente executivo da Stellantis explicou que “a única coisa a fazer é criar um processo industrial que seja flexível e permita absorver as variações”, que foi o que aconteceu em Mangualde.
“Quando temos uma encomenda de 719 veículos para o SNS, vamos tentar fazer os 719 veículos de uma só vez, uns atrás dos outros. Durante um certo tempo vamos fazer só veículos elétricos”, referiu.
Segundo Carlos Tavares, Mangualde tem “uma fábrica que está muito flexível para ser capaz de absorver as variações de encomendas que são o resultado das políticas europeias em matéria de subsídios à compra de veículos elétricos”.
“Na Europa, atualmente, logo que há corte nos subsídios aos veículos elétricos, os consumidores europeus param de encomendar veículos elétricos”, contou.
Em Mangualde, a Stellantis está equipada “para fazer de zero a 100% de veículos elétricos”, afirmou Carlos Tavares, avançando que, este ano, a fábrica deverá “bater mais um novo recorde de produção, na ordem dos 87 mil veículos”, acima dos 82 mil do ano passado.
Carlos Tavares explicou aos jornalistas que a fábrica de Mangualde “tem demonstrado uma performance excelente em termos de qualidade e de custo” e tem “uma linha de montagem muito flexível”.
“Ou montamos um chassi térmico por baixo do carro ou um chassi elétrico. A nível de linha de montagem a flexibilidade é quase total”, explicou.
A Stellantis Mangualde liderou uma das agendas mobilizadoras para a inovação empresarial com o projeto “GreenAuto”, que reúne um consórcio de 37 entidades parceiras e que representa um investimento conjunto de 119 milhões de euros.
A unidade de Mangualde teve transformações significativas na sua área industrial, destacando-se aquelas realizadas na criação de uma nova linha de montagem de baterias, que promoveu a total modernização de uma área com mais de 800 metros quadrados. Esta nova zona, implementada no setor da montagem, permitiu a criação de 63 novos empregos.
“Fizemos esta escolha porque achamos que a fábrica de Mangualde tem um grande potencial em qualidade, uma boa competitividade de custos, que neste momento até é melhor do que a de Vigo. Portanto, não há razão para não dar à fábrica de Mangualde o fabrico dos veículos que representam o futuro”, frisou.
CEO quer maior desenvolvimento da rede de carregamento de veículos elétricos
Ainda em Mangualde, Carlos Tavares aconselhou o Governo português a usar dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para “acelerar o desenvolvimento da rede de carregamento” de baterias de veículos elétricos.
Questionado sobre o pacote de medidas de impulso à economia que o Governo deverá anunciar quinta-feira, o CEO da Stellantis pediu “ajudas para o consumidor final” e que “favoreçam o desenvolvimento dos veículos elétricos”.
“Há dois tipos de ajuda: um é diretamente ao consumidor final e outro são infraestruturas de carregamento de baterias”, explicou.
No entender do responsável do grupo automóvel, se as infraestruturas de carregamento de baterias “forem visíveis e de um nível de densidade elevado vão permitir que os carros tenham baterias mais pequenas, com uma autonomia mais pequena”.
“Cada um de nós vai estar tranquilizado pela visibilidade dos postos de carregamento e, portanto, já não está com aquela ansiedade de precisar de 600 quilómetros de autonomia. Pode ter uma bateria mais pequena e se, a bateria for mais pequena, o carro é mais barato”, frisou.
O presidente executivo da Stellantis pediu ao Governo que ajude as classes médias a comprarem veículos elétricos, referindo que “já se viu pela Europa fora que as ajudas andam entre cinco e sete mil euros por automóvel”, o que “faz um buraco enorme nos orçamentos de Estado”. “E logo que essas ajudas param, a procura desaparece”, acrescentou.
Neste âmbito, se tivesse que dar uma recomendação ao Governo, seria: “podem utilizar o PRR para acelerar o desenvolvimento da rede de carregamento e podem utilizar o dinheiro que tiverem para incentivar e ajudar as classes médias a comprar carros elétricos a um nível mais acessível”.
“Há um ciclo que é muito positivo: mais densidade da rede de carregamento quer dizer menos ansiedade na autonomia, quer dizer baterias mais pequenas, baterias mais pequenas querem dizer veículos elétricos mais acessíveis”, acrescentou.
Carlos Tavares voltou a falar na necessidade de uma ligação ferroviária da fábrica de Mangualde aos portos de Vigo e de Leixões, “um projeto que está a avançar”.
“É necessária do ponto de vista ambiental, porque são menos camiões na estrada, e do ponto de vista do custo é muito mais barato do que transportar os carros com camiões”, frisou.
O responsável aludiu também à necessidade de reduzir o custo de energia para um valor competitivo, que seria “abaixo dos 70 euros por megawatt/hora” e, depois, “controlar a volatilidade desse custo de energia”.
“Não pode estar sempre a ir para baixo e para cima, porque nem sempre podemos modificar o preço da venda dos automóveis só para compensar a energia”, afirmou.
O grupo automóvel está empenhado em ter, no próximo ano, todas as fábricas do mundo a produzirem, “pelo menos, 50% da energia que consomem”, proveniente de recursos renováveis.
Há risco de “bolha” no mercado europeu dos carros elétricos
Carlos Tavares também considerou que “não se pode criar uma bolha” no mercado europeu com taxas de importação aos veículos elétricos, porque haverá “inflação dentro da bolha”.
O presidente executivo lembrou que, enquanto empresa mundial, a Stellantis tem “uma visão global”.
“Sabemos muito bem que não vamos ser protegidos no mundo inteiro. Portanto, quaisquer que sejam as decisões que sejam tomadas pela Europa ou pelos Estados Unidos vamos ter que afrontar a concorrência chinesa no resto do mundo”, afirmou, considerando que a proteção pode causar um adormecimento “neste combate renhido”.
No entender do responsável, estar protegido na Europa não permite ganhar no que respeita à concorrência em África e na América Latina.
“Portanto, do ponto de vista da empresa, que é uma empresa global, nós só temos uma possibilidade, que encaramos com muito ânimo e com muito apetite: vamos combater os chineses”, frisou Carlos Tavares.
A empresa tem a tecnologia necessária e está “a trabalhar muito duramente nos custos” para poder oferecer às classes médias, inclusive às europeias, “veículos elétricos a preços que elas possam pagar”, acrescentou.
O líder da Stellantis disse ainda que “tentar aplicar taxas a nível individual das empresas já em si é quase caricato”.
“Traduz uma complexidade mental que não está adequada à realidade do que nós estamos a viver. Nós estamos a viver uma realidade que é muito simples: temos a tecnologia, somos capazes de fazer veículos elétricos estupendos e temos um problema de custo que não permite às classes médias comprarem veículos elétricos”, sublinhou.
Na sua opinião, é este problema que tem de ser tratado “pela raiz” e não “tentar por proteções à volta”.
Carlos Tavares questionou: “Se puser o mercado europeu dentro de uma bolha, dentro da bolha vai haver inflação e como é que se vai tratar a inflação dentro da bolha? Com subsídios. Como é que se vão criar os subsídios? Com impostos”.
“É óbvio que na Europa já há impostos a mais. Já temos uma taxa de imposição que é excessiva”, acrescentou.