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A peça “Empregos Modernos”, que estreia esta quinta-feira (27) no Teatro Viriato, em Visue, reflete sobre as transformações do trabalho e as condições laborais atuais, num momento em que o país discute o novo pacote laboral e se prepara para uma greve geral. O encenador Alfredo Martins sublinha que a coincidência temporal é apenas isso, coincidência, mas reconhece que o espetáculo dialoga diretamente com o clima social que se vive.
O processo criativo da peça começou no início do ano, quando a equipa organizou um ciclo de conversas dedicado ao tema do trabalho, com várias entradas possíveis: género, etnia, digitalização, não trabalho, entre outras, num programa com curadoria de José Soeiro. “Esse foi um ponto de partida para levantarmos muito material, que depois utilizámos na construção do texto e, mais tarde, do espetáculo”, explica Alfredo Martins.
A narrativa parte também de experiências pessoais e de relatos de quem procura emprego, especialmente dentro do setor artístico, onde muitas vezes se recorre a trabalhos paralelos. “Fomos olhando para a transformação que o próprio trabalho tem vindo a conhecer, com os processos de digitalização, a diluição das forças sindicais, da unidade dos trabalhadores. Os próprios trabalhadores, que neste momento são quase um chatbot, podem ser despedidos por mensagem”, observa.
Para além das vozes do ciclo de conversas, a equipa ouviu representantes de estafetas, cuidadores, empregadas de limpeza e refletiu sobre a crescente presença de profissões “misteriosas”, como especialistas em otimização ou engenheiros de dados. “Nem sei bem o que essas pessoas fazem, mas fazem parte da nossa realidade e gerem outro universo de trabalho”, reconhece o encenador.
Quando questionado se “Empregos Modernos” é um manifesto ou uma observação da realidade, o encenador explica. “É uma observação que não deixa de ser um comentário ao tempo que vivemos”, responde AlfredoMartins.
A peça acompanha, ao longo de uma noite até ao amanhecer, várias personagens que se movem pela cidade, algumas a trabalhar, outras a usufruírem desse trabalho. No cruzamento das suas trajetórias, o espetáculo reflete sobre as implicações das novas formas de trabalho na vida das pessoas, da precariedade ao isolamento.
Com direção artística de Alfredo Martins e texto de Chris Thorpe, este espetáculo convida o público a refletir sobre o trabalho nas suas formas contemporâneas, assim como as condições materiais, de mobilidade social e as relações de poder e hierarquia que existem hoje.
O trabalho é também um conceito histórico. A evolução das sociedades foi adicionando novas determinações a este conceito, pelo desenvolvimento da ciência e da técnica, pela reconfiguração dos sistemas sociais e políticos ou, ainda, pelo entendimento filosófico e ideológico da sua natureza. Assim, o conceito de trabalho torna-se condicionante e é condicionado pela transformação social.
Em palco, um coro de trabalhadores — reminiscência do coro brechtiano — partilha a sua rotina laboral, na qual se cruzam tensões, angústias e sonhos. A aparentemente imparável e, muitas vezes, desajustada máquina económica gera efeitos que apenas se percecionam através do discurso pessoal e íntimo de cada um.
A peça, em placo na quinta e sexta-feira, conta com interpretações de Anabela Almeida, Cláudia Gaiolas, Duarte Guimarães e Sara Duarte.