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Não há semana, às vezes dia, em que na comunicação social nacional e regional não seja noticiada uma morte na estrada. Este domingo, 17 de novembro, celebra-se o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada. Em 2005 a Assembleia Geral das Nações Unidas colocou a data no calendário universal no terceiro domingo de novembro. E há simbologia associada à escolha. “No primeiro domingo de novembro são lembrados os mortos da Primeira Grande Guerra, no segundo, os da Segunda. Por isso escolheu-se o terceiro domingo de novembro porque se entende que o número de mortos na estrada é uma guerra a travar, com muitas batalhas pelo meio”, enumera Helena Rebelo, presidente do Grupo de Alerta para a Segurança Infantil e Juvenil (GAS). Esta associação surgiu em Viseu em 2004 e, desde aí, tem-se debruçado sobre este dilema: como diminuir o número de mortos e feridos graves nas estradas portuguesas?
A esta pergunta, Helena Rebelo, presidente do GAS e Isabel Martins, membro da associação, assumem que não há respostas imediatas e que é, sobretudo, necessário pensar em conjunto. As campanhas de sensibilização têm sido um dos caminhos. Estará a resultar? “As campanhas não têm tido os efeitos pretendidos. As pessoas, os peões e os condutores não estão sensibilizados para os números”, assume Isabel Martins.
Vamos às estatísticas negras. A enfermeira de cuidados de saúde primários lembra que “a cada três dias alguém morre atropelado em Portugal e a probabilidade de a morte acontecer numa passadeira é elevadíssima”. A responsável acrescenta que Portugal quer reduzir, em 2030, para metade o número de mortos e feridos graves de 2019. Nesse ano, perderam a vida nas estradas 474 pessoas e 2288 pessoas ficaram feridas com gravidade. “Este ano, no primeiro semestre já morreram 220. A desejada redução para metade não se está a verificar”, lamenta Helena Rebelo.
No luto, não há apenas um morto. “Acaba por morrer a família toda”, lembra Isabel Martins
A enfermeira Isabel Martins assinala que o luto no caso de um jovem perder a vida nas estradas “é um processo muito mais delicado”. “Acaba por morrer a família toda. É mesmo assim. É um processo moroso, que não se resolve, o tempo não cura. Nalguns casos os familiares ficam incapacitados ou com menor capacidade até de trabalhar”, reforça. Helena Rebelo acrescenta que esta é uma situação “que marca uma vida”. “A família nunca mais será a mesma. Quando pensamos em termos globais e até distanciados, podemos dizer que houve uma grande redução de vítimas. E ficamos satisfeitos. No entanto, depois, se nos conseguirmos pôr no lugar daquelas famílias, num exercício doloroso, percebemos que isto é um drama. Por isso, temos mesmo, mesmo, mesmo de trabalhar na prevenção”, defende. A presidente do GAS entende que “500 mortos não é um número que nos possa deixar tranquilos”. “Enquanto houver uma vítima mortal, continuamos a ter de trabalhar”, vinca.
Ao lado, Isabel Martins consultava mais dados e lançou para a mesa uma outra realidade. “Não são apenas os mortos que nos devem preocupar. Dos acidentes também resultam feridos muito graves que precisam de internamento. O Serviço Nacional de Saúde tem dificuldades, depois, em dar respostas a outras situações”, sustenta. Como outra solução que poderia ser mais vezes adotada, Helena Rebelo aponta a possibilidade de alguém que fosse considerado culpado ser “condenado” a frequentar um centro de reabilitação de vítimas na estrada. “Nós temos uma colega que viu o filho ser atropelado. Foi uma situação muitíssimo grave. Ela diz que o acidente do filho mudou a rotina da família toda. No fundo, toda a família foi atropelada. Ficam com sequelas para a vida”, complementa.
Lei ajudou a diminuir número de mortos nas estradas
O GAS foi formalizado em 2005. Um ano antes, o Hospital de Viseu viu nascer um grupo de trabalho que incluía elementos dos cuidados de saúde primários aos quais se juntaram elementos da sociedade civil. “Queríamos que todos estivessem connosco nesta luta imensa. O nosso objetivo maior é promover a segurança infantil e juvenil, contribuir para a redução do número de mortos em acidentes, mobilizar toda a comunidade para a prevenção de acidentes e contribuir para uma cultura de segurança”, sustenta Helena Rebelo.
A presidente do GAS diz que para a diminuição do número de mortos e, pontualmente, do número de acidentes, contribuíram algumas alterações do Código da Estrada. “Desde 2005 houve agravamento das sanções, é obrigatório usar colete refletor, multas diferenciadas para o excesso de velocidade e maior fiscalização no que diz respeito às cadeirinhas para crianças”, enumera.
No capítulo dos atropelamentos, Isabel Martins entende que é preciso sensibilizar peões para que haja total atenção antes de atravessar a estrada e aumentar a fiscalização. Mas não só. “É necessário reformular as infraestruturas. Alerto as entidades municipais que é fundamental criar estruturas físicas para que o peão não se exponha ao risco. Em alguns casos passa mesmo por criar estruturas superiores, uma espécie de ponte aérea. Há condutores que continuam a não cumprir limites de velocidade em certas estradas, por muitos radares que se coloquem”, critica.
A enfermeira defende também que as passadeiras imediatamente antes ou depois de rotundas impossibilitam que o condutor veja o peão com uma distância de segurança considerável. Helena Rebelo complementa a resposta da ‘companheira de luta’ dando exemplos da Circunvalação de Viseu e da descida em direção ao Fontelo como sítios que considera urgente repensar.
Faltam estruturas adequadas e utilizadores de trotinetas devem proteger-se
Nos últimos anos, Portugal tem ‘abraçado’ uma forma de deslocação já muito em voga na Europa: as trotinetas elétricas. Helena Rebelo é a da opinião de que é preciso discutir a forma como estes equipamentos circulam na via pública. “É assustador o número de acidentes com trotinetas. Quem utiliza a trotineta deve proteger-se usando capacete e roupa refletora”, começa por referir. Já Isabel Martins lamenta “a falta de infraestruturas adequadas”. “Isto faz com que os utilizadores destes equipamentos tenham de partilhar o espaço com carros, bicicletas e peões. O que aumenta o risco de acidentes”, frisa.
Pensadas as vítimas, as famílias e analisadas as infraestruturas, Helena Rebelo e Isabel Martins olharam também ao trabalho que é necessário fazer em relação ao culpado de um acidente com consequências graves. “Na maior parte das vezes, quem provoca um acidente não o faz de forma intencional. Essa carga de ser culpado afetará a sua vida e a da família. É por vezes preciso intervir uma equipa multidisciplinar para o apoiar”, indica Isabel Martins.
A culpa enquanto “penalizadora” é, para Helena Rebelo, marcante. “Lembro que o condutor, enquanto responsável pela viatura que conduz, tem de ter o cuidado e a atenção de recomendar a todos os passageiros que adotem todas as medidas de segurança. O cinto de segurança é uma falha enorme nos bancos de trás. À frente as pessoas já automatizaram pôr cinto, no banco traseiro não. Para além de também poderem ser projetados do carro num embate, podem provocar danos terríveis nas pessoas que vão à frente”, recorda. Ambas estão de acordo num outro ponto: a lei penal já é suficientemente punitiva. Faça-se cumprir a lei e as penas, apelam.
Prevenção deve começar nas escolas e até nos jardins de infância
Caso alguém aviste um acidente, há também cuidados a adotar. “Há casos de pessoas que são atropeladas ao irem socorrer uma vítima de acidente. Quando alguém se apercebe de um acidente, a primeira coisa que deve pensar é se está ou não em segurança. Se não houver condições de segurança, não se deve avançar. Deve ser colocado um triângulo a sinalizar e vestir o colete refletor, mesmo que esteja dia”, recomenda. “Da minha experiência, sei que acontece os bombeiros serem chamados para uma ocorrência e quando chegam ao local já há mais do que um acidente”, reafirma. A enfermeira apela a que não se toque nas vítimas, nem haja qualquer arrastamento para um local considerado mais seguro. “Garantir condições de segurança e ligar 112 são atos de primeiros socorros que todos podem fazer e que salvam vidas”, resume.
Em jeito de sumário, Helena Rebelo considera que as questões da sinistralidade rodoviária envolvem uma série de fatores. “A segurança na estrada é uma responsabilidade partilhada entre condutor, veículo, via e condições climatéricas”, enumera. A presidente do GAS vai mais longe. “Esta sensibilização tem de entrar nas escolas de condução de uma forma mais sistemática, com maior ênfase e mais organizada. Mas é no jardim de infância que começa a educação rodoviária”, lembra. O GAS chegou a ter uma ‘Escola Móvel de Trânsito’ gerida à época com o Governo Civil de Viseu que permitiu aquilo que Helena Rebelo considera ser uma “sensibilização mais efetiva”.
“Lanço o desafio de haver uma Escola fixa de trânsito para que as crianças lá fossem ter a oportunidade de ter uma parte prática de condução para, mais tarde, consigam entender as regras de trânsito. Existe em vários municípios e há algumas muito interessantes”, elogia. Também Isabel Martins defende que a aprendizagem deve ir mais além do que o método expositivo. “Não é suficiente. É preciso empoderar, capacitar, ensinar, treinar, exercitar para, depois, adquirir a competência”, sustenta.